
“O pior foi não conseguir falar com a minha mãe”. Esta foi a frase que mais ouvi (ou li). As mães mais velhas, que podiam estar perturbadas com o apagão, afinal tinham latas de carapaus e rádio a pilhas. A minha mãe comeu cornflakes e fruta, concluindo que ter tudo eléctrico talvez não seja incrível. Haverá, decerto, uma corrida ao universo do camping gas.
Vivemos uns momentos de stress por causa do portão não abrir, do carro ser eléctrico, da falta de dinheiro vivo. Foram horas que pareceram anos. Percebemos também como estamos pouco preparados para estar sem comunicações, como estamos viciados no telefone e nas suas possibilidades. Durante umas horas, não tive rede e não falei com ninguém.
As primeiras mensagens que consegui receber foram, por esta ordem, das minhas vizinhas, da minha mãe, dos meus filhos. Quando falei com um deles senti um aperto no peito, uma angústia pela incerteza. Ontem foi um apagão, cuja origem ainda nem entendi. Se tudo me pareceu tão perturbador quanto o covid, pergunto-me como seria se fosse um cenário de guerra. E não tenho como não pensar na Ucrânia, em Gaza.
Há uns meses, escrevi sobre a necessidade de termos um kit de emergência: água potável, pilhas, rádio a pilhas, comida enlatada, comida para os animais, medicamentos. Muitas pessoas consideraram um exagero. E agora? O que pensarão?
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