Ou seja, mergulhamos no marasmo que vai servir interesses, negócios, ambições, e em poucas semanas deixamos de ser os portugueses unidos, solidários, comovidos, activos e sensíveis a um drama que, depois dos mortos e feridos, ainda está longe de um qualquer sinal de paz. Mas banalizou-se.
O que vimos, entretanto? O florescimento de um generoso número de “profissionais achistas” em incêndios, florestas e eucaliptos, um mapa gigante de especialistas ligados à área, e de comandos e centros operacionais que qualquer vulgar cidadão percebe que se replicam, pisam e atropelam, que não apresentam qualquer solução séria, fundamentada e sólida para que os próximos anos não sejam vividos nesta angústia que mexe com toda a gente.
Como se o fenómeno dos incêndios, que anualmente abala continentes como a Austrália e países como a Espanha, a Itália, a França ou a Grécia, fosse uma surpresa, uma novidade, e não houvesse evoluções sobre o comportamento, não apenas do fenómeno natural, como da forma de o enfrentar.
Posso perceber, e não regateio, o elogio ao trabalho hercúleo dos bombeiros amadores e profissionais em Verões excepcionalmente quentes e ventosos, como o que estamos a viver – mas isso não me impede de verificar, basicamente com as imagens da TV, e com o folhetim totalmente esquizofrénico do “caso SIRESP”, que continuamos a combater os fogos de Verão com um misto de grande boa vontade dos “soldados da paz” e uma enorme desorganização de quem os orienta.
Entre a estrutura de uma floresta rica e segura e um trágico amadorismo das forças no terreno, não é difícil perceber que, numa zona rural feita de pequenos terrenos de subsistência individual, e muito pouca cultura florestal, está criado o pasto para, numa política autárquica tão corrupta quanto familiar, onde quem não é primo pode compensar essa “falta” com alguns favores “bem-intencionados”, termos um braseiro sempre iminente.
Para churrasco, seria excelente. Para matar pessoas, animais, aldeias, e acabar com a floresta nacional, é uma espécie de “Apocalipse Now” pobrezinho e sem sentido.
Não deixa de arder e fazer terra queimada daquela que é a terra que dá vida a muita gente.
Qual é a questão que fica por responder? Simples: No ano que vem será igual?
Ou apenas quando políticos e autarcas se puderem justificar com um Verão “anormal”? Para mim, confesso, vai ser igual. O problema é que o “para mim” não interessa nada. O que vai ser para todos é que conta. Não vejo uma ideia, uma palavra assertiva, um discurso coerente, um acto de coragem. Só vejo cinzas.
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O que o insuspeito The New York Times escreveu sobre o assunto...
As páginas da NASA que mostram a extensão da tragédia...
Não estamos sós na tragédia – o que não consola ninguém. Mas cria solidariedade e uma muita vaga ideia de termos uma guerra que nos ultrapassa, e onde a natureza é quase sempre mais forte.
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