"O que será do Algarve sem os ingleses?", é uma pergunta feita por todos, agora que sabemos as restrições impostas pelo Reino Unido relativamente a viagens vindas de Portugal. A primeira resposta que nos vem à cabeça é: “Ora, então, o Algarve sem ingleses vai ser um paraíso”. Em parte é verdade, mas além do tremendo impacto negativo na economia, muitas coisas vão ser diferentes sem os nossos aliados históricos. Se bem que chamar aliado histórico ao Reino Unido é um bocado o mesmo que uma vítima de violência doméstica chamar “amor” ao marido, com quem se mantém casada apenas porque precisa do dinheiro dele para sobreviver.
Primeiro que tudo, os algarvios vão ter de reaprender a falar a sua segunda língua que é o português. Sei de fonte segura que várias escolas de inglês vão mudar o seu modelo de negócio e passar a ensinar português aos algarvios, vamos ter a Wall Street Portuguese, por exemplo. Não é que eles não saibam falar português, atenção, mas é que têm poucas oportunidades de o praticar, especialmente se vivem em Albufeira.
Pode haver o risco de mais casos de cancro de pele no futuro, devido a este ano sem ingleses. Porquê? Porque todos sabemos que o barómetro para a intensidade dos raios UV, não é o site do IPMA, mas sim as costas e peito do inglês que está mais perto de nós no areal. Vamo-nos guiando por ele e quando vemos que a sua pele deslavada e semi translúcida se está a transformar num vermelho vivo com sangue pisado, sabemos que está na hora de irmos para a sombra do chapéu ou de reforçar o protector solar. Sem eles, vamos estar distraídos, apanhar mais escaldões e arriscar melanoma no futuro. Espero que os autarcas locais estejam atentos a isso e coloquem uma espécie de espantalho com pele de porco em cada praia a simular as costas de um inglês. Quando cheirar a churrasco, é hora de recolher à sombra.
O turista inglês tem um papel importante na auto-estima dos portugueses. Devido ao nosso complexo de inferioridade, precisamos de turistas de chinelo e meia branca para podermos gozar com eles e nos sentirmos superiores do alto (ou do baixo) do nosso salário mínimo. Paradoxalmente, o nosso ego precisa de ser afagado por esses que criticamos, e os elogios vindos do exterior, dizendo que Portugal é lindo, que as pessoas são muito simpáticas e que a comida é divinal, são essenciais para gostarmos mais do que é nosso. Nada sabe melhor a um português do que ouvir um turista elogiar o fado, mesmo que nós nunca o oiçamos. Nada nos sobe mais o ego que ouvir um turista dizer que a nossa gastronomia é a melhor do mundo, mesmo que ele só tenha comido um Cordon Bleu com batata frita congelada num daqueles restaurantes com fotografias de comida na Rua da Oura. Por falar nisso, muitos restaurantes vão ter de se reinventar para não irem à falência. Aqueles que eram armadilha para turistas, vão ter de começar a cobrar preços razoáveis e aprender a cozinhar.
Um sector que vai sofrer bastante é o da diversão nocturna. Não estou a falar das casas de prostitutas, já que essas, como são ilegais, não estão abrangidas pelas medidas do Governo e podem continuar abertas à vontade. Deve ser um sítio onde o coronavírus nem se propaga porque há pouco contacto, mas antes puritanos do que quebrar cadeias de transmissão. Falo dos bares e discotecas que, mesmo que possam abrir ainda este verão, não terão a afluência do costume. Quem vai pagar 4€ por uma imperial meio aguada e achar barato? O português não é tão fácil de enganar. Sem grupos de ingleses quem é que se vai embebedar e vomitar antes das oito da noite e ajudar o comércio local? Sim, porque são os ingleses bêbedos antes do pôr do sol que dão dinheiro aos snack-bares e lojas de conveniência. Sem inglesas nem ingleses, quem vai dançar par cima das colunas e dançar no varão? Mais, a ausência das chamadas "beefas" no Algarve é um retrocesso na emancipação sexual das portuguesas, já que, sem inglesas, terão menos motivação para sair a dar tudo a ver se alguém repara nelas na pesca de arrasto que acontece todas as noites. A Inglaterra é um país mais liberto e com menos sentimento de culpa da sua sexualidade e isso ajudava também Portugal a evoluir.
Por fim, e talvez mais importante, um impacto que ainda não vi na lista de prioridades de António Costa: quem vai comer o Rúben Leandro se não houver uma adolescente inglesa bêbeda a cometer loucuras de verão num país estrangeiro? Pois, deste flagelo ninguém fala. Suponho que a vinda da Champions para Portugal também seja um prémio para o Rúben Leandro, mas o Rúben Leandro preferia perder a virgindade com alguém sem critério. Essa é que é essa.
Para ver: Fargo
Para ir: Ao Algarve.
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