As lideranças dos diferentes países que mais influenciam pelo mundo suscitam inquietação como nunca se sentiu desde o final da II Grande Guerra. Putin mostra-se mais ameaçador e imprevisível que qualquer dos ocupantes do Kremlin desde Estaline. Na China, Xi é um líder que já mostrou baixa consideração sobre questões como a dos direitos humanos. Na Europa, crescem forças com egoísmo nacionalista e estilo autocrático que tem o mais notório representante no húngaro Orban.

No Médio Oriente há, evidentemente, nova ordem que não é melhor do que a até aqui vigente. Emerge, cada vez mais poderosa, a Arábia Saudita liderada por um príncipe, MBS, cujo perfil tem como marca ter sido o mandante do macabro assassinato de um jornalista (Kashoggi) de quem não gostava. MBS tem infinitos recursos financeiros e já mostrou que não olha a meios. Em Israel, nunca houve respeito dos chefes do governo pelas resoluções da ONU, designadamente sobre a Palestina. Mas, apesar disso, Israel foi nas últimas décadas uma democracia plural com respeito interno do estado de Direito. Agora, parte expressiva da população israelita está nas ruas a manifestar-se com o temor de que o governo das direitas de Netanyahu esteja a empurrar o país para fora do campo da democracia. Na Ásia como na América Latina abundam incertezas.  

Com este quadro, a liderança de uma potência como os Estados Unidos da América é muito relevante para o mundo.

Todos constatámos como a presidência Trump dinamitou a convivência democrática nos Estados Unidos e virou costas aos aliados europeus. Contribuiu para que o mundo ficasse menos fiável. Trump preferiu os autocratas.

O que a candidatura Biden propõe aos cidadãos dos EUA no final do ano que vem é uma espécie de referendo: querem uma liderança populista, rancorosa, instável e capaz de patrocinar assaltos à ordem democrática (Trump) ou uma presidência defensora da liberdade, da tolerância e dos direitos? Em fundo, o que está em causa neste tempo da Inteligência Artificial é um referendo sobre Tolerância ou Intolerância Humana.

A idade avançada de qualquer candidato tem o valor da experiência. No caso de Biden, ele tem mostrado neste primeiro mandato saber usar esse valor. Como será, depois dos 82 anos de idade?

O vídeo em que anunciou a intenção de candidatura mostra que Kamala Harris é a escolhida de Biden para continuar como vice-presidente se ele for reeleito. Kamala tem sido demasiado discreta neste primeiro mandato. Talvez tenha sido eficaz nos bastidores, mas quase nunca apareceu em qualquer liderança pública.

Kamala tinha suscitado grandes expectativas, mas muitas delas frustradas neste primeiro mandato. Será capaz de ressuscitar a esperança?

O jogo político nos Estados Unidos está aberto. Perante a candidatura de Biden com vigor duvidoso, os republicanos podem ser tentados a optar por um candidato jovem, em vez de Trump, Nenhuma das alternativas na primeira linha promete moderação.

A campanha presidencial de 2024 nos EUA está a arrancar e interessa a meio mundo. Aparece muito como um referendo sobre o compromisso com a democracia e os direitos.