A Organização das Nações Unidas (ONU) já organizou 25 reuniões da Conferência das Partes — o fórum internacional supremo de decisão sobre as alterações climáticas — e, mesmo assim, em 2019 as emissões globais atingiram o seu ponto mais alto até à data. Claramente, alguma coisa não está a funcionar.
Infelizmente, nas várias operações da ONU, a falta de ação e a intransigência são a regra e não a exceção. A ONU tem assistido de forma passiva enquanto milhares são assassinados em conflitos. Tem consistentemente dado lugar a Estados que abusam dos direitos humanos no seu próprio Conselho de Direitos Humanos. E, apesar de agora a ONU ter adotado os “Objetivos do Desenvolvimento Sustentável”, muitas das metas estabelecidas nos anteriores “Objetivos de Desenvolvimento do Milénio” nunca foram atingidas.
Estes falhanços contam a história de uma organização que estagnou e se tornou corrupta e extraordinariamente burocrática. Ainda sobre as alterações climáticas: atualmente, por cada dólar que a ONU recebe para o seu combate, apenas 15 cêntimos são aplicados nesse propósito. Os restantes fundos são dirigidos a falar sobre alterações climáticas — organizar conferências, preparar relatórios e transportar líderes seniores à volta do mundo para participar em conversas e negociações. Ainda que seja importante que a discussão tenha o seu lugar, agora é o tempo para agir. Encontramo-nos neste momento perto de uma catástrofe e não existe qualquer tipo de negociação que a vá alterar.
Mas nós podemos mudar a ONU.
Este ano, realizam-se as eleições para escolher o próximo Secretário-Geral da ONU. Esta é uma oportunidade única de trazer vozes jovens, interessantes, renovadoras para as Nações Unidas, para “limpar” os corredores do poder com ventos de mudança que eliminem redes intransigentes e ideias antiquadas.
É esta esperança e esta promessa que me levaram a candidatar-me nestas eleições.
Eu não sou a candidata típica para o cargo de Secretária-Geral. Venho de uma família de refugiados. Sou jovem, mulher e, embora tenha trabalhado nas Nações Unidas durante vários anos, não sou uma política instalada. Sou a antítese da velha elite. E, de facto, a elite parece indisponível para aceitar a minha nomeação.
Apesar de, desde 2016, serem permitidas candidaturas de autonomeação para Secretário-Geral, figuras seniores dentro da organização estão ainda por reconhecer a minha candidatura e parecem ter a intenção de pressionar a coroação do Secretário-Geral incumbente, António Guterres. Não estão apenas a rejeitar-me, mas também tudo aquilo em que acredito — juventude, diversidade, mudança. No entanto, juntos, conseguiremos afastá-los, através da nossa energia e do nosso compromisso para com a ação, em contraste com a falta de flexibilidade atual.
Um voto em mim será um voto para uma mudança transformadora.
Enquanto Secretária-Geral, irei assegurar que pelo menos 25% das posições seniores na ONU serão ocupadas por pessoas abaixo dos 30 anos. É frequente a ONU fazer uma grande projeção da consulta a pessoas jovens sobre os problemas que as afetam — clima, educação, saúde mental — sem realmente mudar a forma como estes problemas são abordados. Tal acontece porque a mera consulta não é suficiente. São os jovens de hoje quem terá de viver com as consequências dos desastres climáticos. É a juventude que sabe o que significa passar pelos sistemas de educação — ou não passar por eles de todo. É a juventude que sofre e experiencia medos existenciais que têm um impacto devastador no seu bem-estar mental. Estas experiências trazem um conhecimento incalculável. Por isso, a juventude deveria participar na elaboração de políticas e não ser apenas chamada para fazer comentários ocasionalmente.
Irei, ainda, assegurar que serão atribuídos a mais mulheres cargos de liderança na hierarquia da ONU. E, fora da ONU em si, irei prestar atenção a uma reforma global de sistemas de Educação, para que às crianças seja ensinada a história da desigualdade de género e que por elas seja compreendida a forma de criar caminhos para atingir um futuro inclusivo. Irei dedicar mais financiamento à formação, mentoria e empoderamento das mulheres, tanto na ONU, como em todo mundo para que possamos libertar o potencial destas, para o bem da humanidade.
Por último, irei recusar continuar a falar sobre um problema que está a olhar para nós de frente: as alterações climáticas. Se eu for eleita Secretária-Geral, as discussões apenas serão tidas para aprovar ou reforçar ação e implementação, ao invés de continuar a abordar metas e procedimentos. Vou investir largamente em soluções naturais para a crise climática e convidar empreendedores tecnológicos a vir à ONU, para que lhes seja permitido partilhar e co-criar as soluções tecnológicas que nos irão ajudar, por exemplo, a tirar o carbono da nossa atmosfera, a congelar novamente os polos e a gerar energia limpa e renovável.
Estamos num momento genuinamente importante na história da humanidade. Estamos a sair da pandemia do coronavírus com a oportunidade de criar um novo futuro. No entanto, enfrentamos vários desafios — cada um deles ofuscado pela dimensão da crise climática. Se escolhermos o status quo, estaremos a escolher o falhanço. Mas temos uma alternativa. Podemos escolher a juventude, a energia, a diversidade e a esperança. Podemos escolher agir. Podemos escolher marcar a diferença.
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[Artigo atualizado às 19h21 de 11 de maio de 2021 - Introdução de ajustes na tradução]
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