A Igreja Católica teve, através de uma decisão do Papa Francisco, um dos maiores atos de coragem da sua história. Há quem diga que foi uma ação de marketing, mas estou certo que a sua decisão incomoda muita gente ao trazer para a praça pública algumas situações vividas no âmbito da igreja e que servirá também de exemplo para que todos os cidadãos denunciem, sem hesitação, a pedofilia. O abuso de uma criança não é só um crime público mas, também, um crime contra a Humanidade.
Os sobreviventes deste crime traumatizante aproveitaram a ocasião para ir a Roma contar publicamente as suas histórias de sofrimento. E desta forma apoiaram, ao mesmo tempo, a decisão corajosa do Papa Francisco, demonstrando que a opção do silêncio apenas esconde o problema e contribui para que o mesmo persista. Há quem considere que manter estes crimes em segredo é um mal menor perante o choque da verdade e as suas consequências. Mas este crime não é um mal menor. É um crime monstruoso e que precisa de ser denunciado e combatido em todos os lados do mundo.
Por isso é que este ato de coragem do Papa se reveste de tanta importância, porque afirma de forma clara a posição oficial da Igreja Católica e exige a denúncia às autoridades para que se faça justiça. Este é um daqueles crimes que qualquer cidadão ou instituição tem o dever de não guardar para si. O silêncio só beneficia quem o pratica, pois continuará livremente a fazê-lo na nossa comunidade. Esta tomada de posição do Papa Francisco é lúcida, notável, e levará muita gente a dizer basta, a contar o seu sofrimento, e a denunciar o seu agressor.
Termino, recordando o discurso final do Papa Francisco onde afirmou : “atualmente, cresceu na Igreja a consciência do dever que tem de procurar não só conter os gravíssimos abusos com medidas disciplinares e processos civis e canónicos, mas também enfrentar decididamente o fenómeno dentro e fora da Igreja”. E voltou a garantir que a Igreja “não poupará esforços fazendo tudo o que for necessário para entregar à justiça toda a pessoa que tenha cometido tais delitos“.
Como agnóstico, não me esquecerei das suas palavras, revendo-me nesta promissora visão da Igreja.
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