O dia 8 de maio foi verdadeiramente um dia histórico. Após o período de luto pela morte do Papa Francisco, os Cardeais, após as reuniões preparatórias, reuniram-se na Capela Sistina para o Conclave.

O fumo branco que na tarde desse dia vimos surgir desde a chaminé da Capela Sistina augurava um novo capítulo na história a Igreja: habemus Papam! A emoção e a alegria sentidas numa Praça de São Pedro cheia de fiéis fizeram-se sentir em todo o mundo e nos corações dos cristãos e – atrevo-me a dizer – de toda a Humanidade. Aproveito para notar que me surpreendeu positivamente o acompanhamento por parte de tantos meios de comunicação social e das pessoas em geral de todos estes dias que nos prepararam para acolhermos o novo Sumo Pontífice. Afinal, a Igreja continua a ocupar um lugar especial na atenção dos fóruns do século XXI.

Quando o protociácono, cardeal Dominique Mamberti, se aproximou da varanda da Basília de São Pedro anunciou o nome do novo Papa: o cardeal Robert Francis Prevost, agora Papa Leão XIV, primeiro Papa norte-americano, visivelmente emocionado ao contemplar a multidão reunida para o saudar. Ficou-me gravada a imagem de duas crianças ao colo dos pais que choravam de emoção ao verem o novo Papa.

Nascido a 14 de setembro de 1955 em Chicago, o novo papa é filho de Louis Marius Prevost, de origem francesa e italiana, e de Mildred Martínez, de origem espanhola. É licenciado em Matemática, ingressou na Ordem de Santo Agostinho onde desempenhou diversos ofícios, nomeadamente de Prior Geral. Foi ainda missionário no Perú durante vários anos. Actualmente, era o prefeito do Dicastério para os Bispos. Não me alongarei em mais apontamentos biográficos. Em resumo, Robert Prevost é um frade agostinho, missionário, com experiência pastoral e de Cúria.

As primeiras palavras que o Papa Leão XIV dirigiu a toda a Igreja e aos fiéis reunidos em grande número na Praça de São Pedro foram as mesmas que Cristo Ressuscitado dirigiu aos seus discípulos (Jo 20,19): “A paz esteja com todos vós! […] Esta é a paz de Cristo Ressuscitado, uma paz desarmada e uma paz que desarma, que é humilde e perseverante. Que vem de Deus, do Deus que nos ama a todos incondicionalmente”. A primeira palavra do Papa Leão XIV é uma palavra de paz, a mesma palavra que Jesus, após a sua ressurreição, dirigiu aos seus discípulos. O apelo para a paz continua a ser uma urgência e uma necessidade no mundo e nos corações da Humanidade. Para a alcançarmos, só há um caminho sugerido por Leão XIV: “Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos de mãos dadas com Deus e uns com os outros, sigamos em frente!”. Por um lado, reconhecermo-nos nas mãos de um Deus que nos ama infinitamente; por outro, darmos as mãos uns aos outros, um gesto que recorda as crianças que confiam nas mãos dos pais, irmãos e amigos e se sustêm nessa experiência bela da fraternidade.

No dia seguinte, na Missa Pro Ecclesia que celebrou na Capela Sistina com os cardeais, Leão XIV convidou a reconhecer as maravilhas que o Senhor realiza na vida de todas as pessoas. A homilia é marcada por um tom contemplativo, profundamente enraizado em Cristo Jesus e na experiência profunda que cada cristão deve traçar com Ele.

Desafiou a Igreja à urgência do anúncio do Evangelho em todos os contextos actuais, sobretudo nos mais desafiantes e até hostis: “São lugares onde a missão se torna urgente, porque a falta de fé, muitas vezes, traz consigo dramas como a perda do sentido da vida, o esquecimento da misericórdia, a violação – sob as mais dramáticas formas – da dignidade da pessoa, a crise da família e tantas outras feridas das quais a nossa sociedade sofre, e não pouco”.

Por fim, indicou o caminho certeiro para não falhar nesta missão: “Desaparecer para que Cristo permaneça, fazer-se pequeno para que Ele seja conhecido e glorificado, gastar-se até ao limite para que a ninguém falte a oportunidade de O conhecer e amar”. É fundamental que Cristo seja o protagonista da acção da Igreja; que seja Ele o ponto de partida, o caminho e a meta de todos os cristãos. Nunca o eu fechado sobre si mesmo, que acaba por murchar e extinguir-se, mas sim o Ele, Cristo Jesus, o Salvador de toda a Humanidade, o Príncipe da Paz.

Leão XIV é eleito Papa em pleno Ano Santo da Esperança e no Tempo Pascal. Na esteira do Papa Leão Magno e Leão XIII, será certamente o Papa que a Igreja e a Humanidade precisam neste momento. A emoção e alegria sentidas manter-se-ão acesas em todos nós, que continuaremos a acompanhar Leão XIV com a nossa oração, atentos ao seu Magistério de palavras e obras, para que a paz, a primeira palavra do novo Papa, reine finalmente nos corações e no mundo.