Os cartazes eleitorais sempre foram um maná para a construção de histórias e anedotas. Entre o humor, a sátira e, claro, a potencial tragédia há espaço para tudo, incluindo alguns delírios, erros de português e, nestas eleições, a objectificacão de um candidato que, em pose de odalisca, garante estar disposto a tudo.
A cada eleição autárquica, legislativa, presidencial dou comigo a escrever – geralmente duas semanas depois do acontecimento – sobre a poluição visual que as campanhas deixam para trás, quais despojos de guerra. Afinal, por que carga de água é que os cartazes se perpetuam nas ruas das nossas cidades? É vê-los, derrotados e vencedores, já gastos, encardidos, por vezes a desbotar o que, metaforicamente, teremos de concordar que dá espaço para muita coisa, assim haja imaginação. A cada cartaz pasmo e penso na época gloriosa dos grandes cartazes e assinaturas de campanha assinadas, por exemplo, pelo guru da publicidade, o senhor Jacques Séguéla. Olha-se para as campanhas políticas nas quais trabalhou e, passados estes anos todos, a única pergunta a fazer é: não aprenderam nada?
Dizem-me, pessoas criativas e inteligentes que trabalham em publicidade, que o problema é o de sempre: o cliente português sabe de tudo, sabe de design, de cores, de fontes tipográficas e, claro, sabe melhor que ninguém a mensagem que pretende e tem uma ideia. Às vezes também tem um sobrinho, para fazer a voz off de um tempo de antena ou anúncio. Ou seja, à portuguesa, isto continua tudo a ser feito à mesa com aquela ideia vincada de que manda quem pode, obedece quem deve. Até podem pagar a um criativo, a um especialista, alguém que estudou e sabe que determinado verbo funciona melhor, que o logotipo deve ter uma dimensão, o nome outra e por aí fora, mas na verdade são incapazes de delegar. Este é um país de especialistas, mas, no que toca à comunicação política, continua tudo a ser feito no formato cabidela: o sangue e as ideias de quem vai dar a cara e não entende que certas coisas não funcionam. Também não entendem que não dá para ir à televisão com uma camisa às riscas ou de padrão miúdo, provocam o chamado efeito de batimento, mas como a maioria nem consegue lá pôr os pés, deixemos essa questão de lado.
Um dos problemas com a comunicação, e a política, é que tudo se pode perder só pela mera tentativa de fazer humor (isto agora está na moda!). Vamos ser divertidos? Vamos. Porque o país precisa muito de graças e, para não ficarmos com a ideia errada, convém perceber de antemão que os candidatos estão para brincadeiras, até nos tratam por tu, imitam-se uns aos outros e o resultado está à vista. Eu, que não sou desprovida de sentido de humor, fico a ver essas putativas graçolas e a pensar: isto não vai lá nem com um pano encharcado nas trombas.
As cidades estão cheias de outdoors e bandeirolas dos diferentes candidatos. Alguns bem, ok, sem nada de assinalável; outros cheios de Photoshop, outros a formar um trio (um homem ladeado por duas mulheres, candidatura à câmara de Sesimbra) e cada qual olha para o seu horizonte. Ou serão vesgos? Talvez seja apenas o futuro que merecemos, com políticos que o são porque podem, já que a maioria foge da política como o Diabo.
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