O pensamento mágico sustém a humanidade há anos e anos: se chover, temos uma boa colheita; se passar um carro amarelo, ganho o Euromilhões; se... são tantos “ses”, que cabe um cachalote numa caixa de fósforos, uma frase que retive de um filme francês com aquela atriz que se tornou famosa por ter interpretado a Amélie Poulin. Gostamos do pensamento mágico porque é uma forma de nos iludirmos, de nos enganarmos, de mantermos tantas vezes uma esperança que será vã.
Um dos pensamentos mágicos apropriados a esta época do ano consiste na elaboração de uma lista de desejos, a concretizar no novo ano. Também fiz a minha e deixo-vos para considerações e adendas:
- Ter uma campanha eleitoral com ética e dignidade
- Ter uma campanha eleitoral com propostas e não com insultos
- Ter uma campanha eleitoral participativa
- Ter uma campanha eleitoral que nos permita ter esperança real no que aí vem
- Ter uma campanha eleitoral que seja paritária, que considere todas as questões de género
- Ter uma campanha sem politiquices
- Ter eleições sem abstenção (eu falei em pensamento mágico, ok?)
- Ter eleições com discursos edificantes
- Ter eleições com cobertura televisiva que não assente em sensacionalismos
- Ter um governo a pensar nas pessoas
- Ter um governo com propostas reais e fazíveis
- Ter um governo responsável
- Ter um governo que encare a cultura como parte crucial do país que somos
- Ter um governo capaz de criar uma campanha eficaz de promoção da leitura
Bom, ter uma campanha eleitoral, ter eleições ou um governo nunca é como esperamos. Mas é pena. O mundo, a política, estão repletos de mentiras, demagogia, factos que não o são, soundbytes que podem fazer a diferença para um potencial eleitor, mas que redundam em nada. Quem quer ir para a política? Pessoas que estão disponíveis para esta alarvidade? E as outras, as que acreditam piamente na ideia nobre do serviço público, que estão disponíveis, que trabalham em circunstâncias tantas vezes penosas? Essas são difamadas também. Que pena, Portugal.
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