O nosso português está bem encaminhado, é um facto - mas também é um facto que os jogos de bastidores, os interesses, os lobbies e a relevância política dos diversos candidatos podem mudar o rumo das coisas. António Guterres corre sozinho, vem de um país aparentemente irrelevante (nessa matéria, verdade seja dita, não está sozinho), e tem consigo apenas a substância de um sólido percurso dentro e fora da ONU, e a sua personalidade como político assertivo, sem numa deixar de ser um diplomata de primeira.
Muitas vezes, na fúria de enaltecer os portugueses de sucesso por esse mundo fora, colocam-se no mesmo cesto pessoas como António Guterres e Durão Barroso. Ou outras que me abstenho de nomear. Mas, como se costuma dizer a brincar, "uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa". Entre Guterres e Barroso, além da notoriedade internacional - nos dias que correm imaculada para o primeiro e manchada para o segundo -, separa-os, mais do que o lugar onde se encontram, a ética e os princípios que os movem, a forma de estar na cena internacional, e o lugar onde querem chegar.
São mundos diametralmente opostos. Antonio Guterres foi, mesmo nos seus piores momentos enquanto dirigente politico em Portugal, um homem que quis servir. Quis servir os portugueses (nem sempre bem, é verdade…), saiu de cena quando se viu sem condições para continuar, mas demonstrou ao que vinha quando se dedicou ao drama dos refugiados nas Nações Unidas. Nunca se serviu, sempre serviu.
Já Durão Barroso assumiu, desde sempre a postura contrária. Nem me atrevo a criticar. Mas noto que em tudo o que fez, todos os passos que foi dando, desde os tempos em que era um dedicado extremista do MRPP até aos dias de hoje, foi coerente com a ideia de se servir, de encarar a actividade política como quem encara uma carreira empresarial. E a cereja no topo do bolo todos sabemos qual é e como se chama: Goldman Sachs.
Misturar os alhos de Guterres com os bugalhos de Barroso não apenas é errado como, acima de tudo, é injusto. A História, espero, encarregar-se-à de distinguir os que ficam dos que se esquecem. Mesmo que Guterres não chegue onde todos gostaríamos de o ver no final deste ano, e Barroso siga para bingo até à dourada reforma.
Leituras em tempo de ferias…
Lucy Pepper é uma das colunistas que gosto de seguir no jornal digital Observador. Ela apresenta-se como uma apaixonada por Portugal desde 1991, quando aterrou por cá "numa visita de estudo com o meu curso de belas artes. Vivo cá desde 1999. Sou ilustradora, artista plástica, cartoonista, animadora, autora e "trollologista", entre outras coisas". O seu olhar é obviamente filtrado pelo facto de não ter nascido portuguesa, o que dá ainda mais graça a crónicas como esta, em que nos mostra o melhor e o pior de uma ida à praia…
Um fait-divers que diverte e ainda dá que pensar: a crónica do casamento de Donald Trump com Melania, publicada na The New Yorker desta semana por Joseph O"Neill, escritor e cronista irlandês, que vive nos Estados Unidos, e que escreve regularmente na imprensa norte-americana. Ele teve a "oportunidade" de estar no casamento porque a sua mulher trabalhava na Vogue e estava justamente a fazer um trabalho sobre o vestido de casamento de Melania… O texto é genial…
Em Portugal, mais precisamente no Porto, no fim-de-semana passado, foi o que se viu. Mas o fenómeno Harry Potter foi bem mais longe um pouco por toda a Europa, nomeadamente em Londres. Este excelente artigo do diário espanhol La Vanguardia dá-nos o paralelo do sucesso do lançamento do oitavo volume da saga não apenas na capital britanica, mas também em Espanha. E deixa-nos as "chaves" que explicam o sucesso e a sua longevidade…
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