Não é fácil para um homem pedir ajuda. De um modo geral, sabemos que os homens “recorrem menos aos serviços de saúde numa lógica preventiva (frequentam menos as consultas médicas, incluindo as consultas de especialidade, realizam exames de diagnóstico com menor frequência, etc.)”(Wall, 2016). Quando os homens são ensinados, desde cedo, a serem sempre fortes, a resolver os seus problemas sozinhos, a não exibir as suas emoções e sentimentos, a ideia de procurar apoio assume a dimensão de um desafio com proporções colossais. No caso de um homem que foi abusado sexualmente, esta dificuldade é ainda maior.

Se pensarmos nos valores tradicionalmente associados ao homem e vítima, compreendemos que não são propriamente compatíveis. Muitas vezes associam-se à vítima ideias como: frágil, fraca, chorosa, dependente, debilitada, indefesa, vulnerável, debilitada, entre outras. Aos homens, os valores tradicionalmente associados são: forte, independente, autónomo, responsável, sabe defender-se, líder, respeitoso, entre outros.

Podemos dizer que estes dois universos são percecionados como antónimos e, para um homem que foi vítima de violência sexual, pode ser muito difícil reconhecer que passou por uma situação de abuso por essa razão. Numa primeira fase, este reconhecimento pode implicar associar-se ao termo vítima e isso pode provocar um choque com o papel tradicional do homem e daquilo que se espera de um homem. Se a sociedade espera que um homem seja forte, mas, por outro lado, a vítima é fraca, que espaço resta aos homens que foram abusados sexualmente? O silêncio, o sofrimento invisibilizado, a ideia de que não merecem ajuda e uma imensa dificuldade em procurar apoio.

Sobreviventes de violência sexual

Na Quebrar o Silêncio usamos o termo sobrevivente, tanto no nosso dia-a-dia como no apoio que disponibilizamos aos homens que foram abusados sexualmente. Não é um termo que já seja socialmente reconhecimento e até aceite por algumas pessoas, mas é um termo que precisamos de introduzir, cada vez mais, no vocabulário quando se debate violência sexual.

No fundo, sobrevivente e vítima podem referir-se ao homem ou mulher que passou por uma ou mais situações de violência sexual. No entanto, como já referi, o termo vítima tem uma conotação negativa, com a qual muitos homens que procuram apoio não se identificam. Na Quebrar o Silêncio consideramos que a palavra sobrevivente representa a resiliência e a perseverança destes homens, e valoriza, ao mesmo tempo, a luta que todos os dias travam e vencem. Após o abuso, cada dia é uma vitória face às consequências do abuso que gerem em silêncio e ao impacto que dificulta as suas vidas - desde as tarefas quotidianas mais simples, às responsabilidades mais complexas. Por esta razão, adotámos esta linha de pensamento e utilizamos o termo sobrevivente como forma de reconhecer a força destes homens e de empoderá-los no seu processo de recuperação.


Na associação Quebrar o Silêncio prestamos apoio especializado para homens vítimas de violência sexual. Se foi vítima de abuso sexual, na infância ou em idade adulta, contacte-nos através do email apoio@quebrarosilencio.pt ou da Linha de Apoio 910 846 589. Os nossos serviços de apoio são confidenciais e gratuitos.