Temos visto neste mundial de futebol que o desporto coletivo tem estas metáforas absolutamente maravilhosas para a vida, para o trabalho em equipa, para a união de pessoas em torno de um objetivo.
Ver onze pessoas e a sua equipa técnica a trabalharem unidas dentro de campo, nas suas diferentes funções a trabalhar para o mesmo, com o todo coletivo a pensar como um só e em perfeita harmonia de objetivos é a metáfora mais bonita de como o mundo podia ser.
A equipa é essencial no momento da superação das dificuldades, no momento em que é necessário mais um punhado de esforço, mais uma nota de sacrifício e persistência para alcançar objetivos. É uns dos outros que dependemos - em equipa - para enfrentarmos com sucesso os desafios que o mundo nos apresenta.
Na defesa dos direitos humanos é o mesmo. Temos de jogar sempre em equipa, especialmente com quem carece de proteção, com quem tem a coragem de defender os seus direitos e os dos demais, com toda a sociedade civil e com quem está no poder e exerce a autoridade de Estado. Cada qual na sua posição em campo e todos a jogar – e a jogar limpo – para que se marquem todos os golos de todos os direitos para todas as pessoas.
Na Rússia, que agora acolhe o Mundial de Futebol de 2018, não se joga, infelizmente, com fairplay fora dos relvados. As 32 seleções que participam neste Campeonato do Mundo estão num país onde os defensores de direitos humanos enfrentam constante intimidação e perseguição, onde muitos são detidos arbitrariamente e condenados injustamente a penas de prisão. Não há jogo limpo – nem justo, nem tão pouco bonito – quando as autoridades põem atrás das grades defensores de direitos humanos como o fazem na Rússia.
É com alguns desses defensores de direitos humanos russos que a Amnistia Internacional formou a #TeamBrave: uma equipa de 11 corajosos e conceituados ativistas que trabalham em defesa dos direitos e das liberdades fundamentais na Rússia, permanentemente confrontados com intimidação, demonizados e que, em alguns dos casos, sofrem agressões e ameaças de morte.
Oiub Titiev é um dos “atletas” desta equipa. Chefe da ONG Memorial na Tchetchénia, tem sido alvo de numerosos ataques. Encontra-se em prisão preventiva sob acusações falsas que visam minar a sua reputação e o põem em risco de perder a liberdade por dez anos.
O ativista Andrei Rudomakha, cuja denúncia dos danos ambientais e destruição da floresta ancestral em Krasnodar fez com que fosse brutalmente agredido, sem que as forças policiais tenham detido os suspeitos atacantes apesar de existirem abundantes provas.
É também o que acontece com Igor Nagavkin, um dos mais renomados defensores dos direitos dos presos na Rússia, e ativista contra a tortura e a corrupção, que está encarcerado arbitrariamente há mais de ano e meio devido a acusações falsas.
Estas são apenas três histórias de três dos defensores de direitos humanos da nossa “equipa” sob risco na Rússia – não são casos únicos. Integram, de facto, um padrão mais lato e consistente de repressão de todo o tipo de críticas, dissidência ou protestos no país. As investigações feitas pela Amnistia Internacional apontam recorrentemente para o agravamento das restrições ao exercício da liberdade de expressão e de reunião na Rússia – em alguns casos com o Mundial de Futebol a ser usado como justificação pelas autoridades.
Esta foi a primeira vez que a FIFA atribuiu à Rússia o direito de ser anfitriã de um dos mais prestigiantes eventos desportivos do mundo, pondo naquele país os olhos de uma audiência global de milhares de milhões de pessoas. E desde que o anúncio foi feito, em finais de 2010, a situação no país só se agravou, com a aprovação de leis cada vez mais asfixiantes e limitadoras do trabalho das organizações não-governamentais e dos defensores de direitos humanos.
O argentino Jorge Valdano, que nos habituou a um futebol pleno de filosofia humanista, disse que “um ser humano ou uma equipa tem de dar sentido ao que faz, ter bem claro o porquê e o para quê das ações da sua vida quotidiana – o sonho não é um lugar em que se fique, mas sim um motor que nos põe em marcha”. A #TeamBrave é um motor para os direitos humanos na Rússia que se move a coragem e com o alento e solidariedade que são expressas por todos nós, que também queremos conquistar o sonho.
Estes defensores de direitos humanos, defendem-nos a todos nós. São da nossa equipa e não somos convocados à bancada. Somos convocados ao jogo, à vida, ao trabalho de equipa. Somos titulares nisso. Assinemos por isso a petição da #TeamBrave... ao fazê-lo estamos a fazer como faz o Mourinho: “em jogadores meus ninguém toca”.
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