E é entre estas duas atitudes que se vive a crise no partido que mais falta faz à oposição: a maioria dos seus “quadros” andam por aí, os raros que “estão” por lá não riscam, e aqueles que talvez garantissem credibilidade, estabilidade, e futuro, fugiram a sete pés há anos. Ou fazem como Pedro Santana Lopes e saltitam entre o tabu e o “keep cool”...
O problema é que este panorama, mais visível agora no PSD por motivos óbvios, estende-se a todo o universo partidário nacional. Olhemos os outros partidos. O que vemos? Os nomes de sempre, nos lugares de sempre, ou trocando de lugares uns com os outros, numa “valsa lenta” de desinteresse e adormecimento. Mesmo quando as caras variam, como aconteceu com alguns candidatos autárquicos recentes, não muda a postura nem o discurso, não muda a atitude nem a abordagem a novas gerações de potenciais eleitores. Parece que estamos sempre a ver o mesmo Telejornal.
É neste quadro que se destaca, estranhamente, o CDS. Se com Paulo Portas assistimos a uma dinâmica incomum na política nacional, e a uma capacidade rara de sintetizar ideias numa frase implacável, ainda que manchada pela pura estratégia e a escassa ideologia, com Assunção Cristas estamos a presenciar um passo em frente: uma desconstrução da própria imagem que o partido sempre teve, pouco cosmopolita e excessivamente conservadora, e uma simplificação clara e objectiva de discurso. Cristas é uma líder de fazer mais e falar menos, de evitar o preconceito e o politicamente correcto – e é verdadeiramente impressionante a forma como rapidamente atrai admiradores, mesmo aqueles que não votam à direita. Lá está: ela não anda por aí, ela está aí. Não precisou de “virar” à esquerda ou à direita para se afirmar politicamente – bastou-lhe a mudança de atitude.
Para o melhor e para o pior, é o que falta na classe política actual. É verdade que carrega a pesada herança de uma geração de figuras carismáticas dificilmente substituível, e de gente que pensava política para lá de gerir política. Mas à geração de políticos actual não lhe caía os parentes na lama se lesse uns livros, olhasse com atenção a História, e conseguisse pensar o futuro um nadinha além do interesse pessoal e imediato.
Anda meio-mundo a criticar Pacheco Pereira pelas ideias criticas sobre o PSD, que tem exibido em todas as frentes mediáticas onde se move, e é acusado de ser a sombra ideológica de Rui Rio. Mas observando a cultura política de ambos, e o abismo que a caracteriza, só por ingenuidade se pode acreditar que Rio se deixaria manipular por Pacheco Pereira. Como partido “enguia”, percebe-se o debate sobre se o PSD deve voltar à sua origem centrista ou manter a postura recente mais conservadora – mas não é por aí que voltará, nos tempos mais próximos, às portas do poder.
O problema é outro. E tem a ver com a necessidade de acordar os partidos para uma existência mais viva, mais dinâmica, mais entusiasmada, mais cativante. Foi essa a lição que Assunção Cristas deu a 1 de Outubro – agora falta quem perceba o poder redentor dessa renovada forma de estar na vida pública.
PS – Conhecida por fim a acusação do Ministério Público que envolve, entre outros, José Sócrates e Ricardo Salgado, é tempo de saudar a existência de 4000 páginas de processo – mas não é tempo de, por mais que apeteça (e apetece...), transformar a Operação Marquês num jogo de apostas sobre inocentes e culpados, ou exibir estados de alma sobre factos que mal conhecemos. Por isso, deixo correr o processo. A justiça já está demasiado enfraquecida para ainda ter de ser asfixiada por julgamentos de café.
PARA NOS PÔR DE BEM COM A VIDA
Tem quase 15 anos, mas só há pouco tempo descobri que está disponível, na íntegra, no YouTube, o fabuloso documentário “Woman of heart and mind”, realizado por Susan Lacy, que conta a história de vida – e de carreira – de Joni Mitchell. Duas horas cheias de música, de poesia, de encantamento, sobre uma das mulheres que marcou e marca a música popular dos nossos tempos. Entrem por este mundo... e deixem-se ir.
Quem, como eu, é fã de Sting, e não conseguiu ir a Vila Nova de Gaia, ao Marés Vivas deste ano, tem aqui uma versão integral do concerto actual do músico. Pode não ser exactamente o que deu em Portugal, mas seguramente anda lá perto. E tem a qualidade que tantas vezes falta aos vídeos do YouTube.
E por fim, cinema: “El Hijo de la Novia” (“O Filho da Noiva”) foi o ultimo filme que vi no clássico cinema Quarteto, antes de se lhe fecharem as portas (ainda hoje continua quedo e mudo...). Argentino, trata-se de uma comédia dramática escrita e realizada por Juan José Campanella, e que de alguma forma revelou este enorme cineasta quando recebeu nomeação para o Oscar do melhor filme estrangeiro de 2001. Descobri que está disponível, sem piratarias de qualquer espécie, na net. Recomendo, até porque se percebe claramente o original argentino.
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