Não queres, o que tu queres sobretudo é ficar a olhar para a roupa das ministras e secretárias de Estado e a dizer coisas, ai que horror, como é que é possível porque, afinal, tu deténs a fiscalização da moda e do bom gosto, caramba, até foste colega do Karl Lagerfeld, não foi?

E por serem mulheres, as que chegam e ficam na política têm de te gramar, a ti e a todos os outros - e outras, que nisto as mulheres, já se sabe, são umas para as outras – para desdizer e maltratar, para criticar sem qualquer pudor.

Não gostas das calças? Não aprecias vestidos curtos? Nunca usarias botas curtas? Certíssimo, mas alguém perguntou a tua opinião? E como te vestes tu? Como está a tua celulite? E o teu cabelo? É oleoso e precisa de ser lavado todos os dias? Gastas uma pipa de massa em cosmética e perfumaria e, apesar desse enorme esforço financeiro, a coisa não melhora?

E estás então sentado, ou sentada, no conforto do teu emprego, a queimar horas nas redes sociais que isto de laborar com responsabilidade dá demasiado trabalho e comentas as roupas e afins de quem assume cargos públicos, porque na tua perfeição, tens esse poder.

É por estas e por outras que existem demasiadas pessoas a recusar cargos públicos, nomeadamente mulheres. Não estão para isto. Não estão para as manchetes dos jornais sensacionalistas, não estão para humilhações. É uma pena? Não, é a nossa vidinha. A sociedade que pode pontificar anonimamente de forma atroz sem qualquer escrúpulo, sem qualquer regra de educação. E o mais maravilhoso neste tipo de atitude é que o gosto no vestir ou no cabelo se torna proporcional à competência de quem assume lugares públicos. Se eu gostar de verde gritante ou de botas de cowboy sou incompetente? Porquê?

Claro que aos homens isto custa menos, a farda do fato e gravata tem essa coisa indolor, mesmo que o fato tenha um corte horrível, que o tecido seja daqueles que faz suar e tal, mesmo que a gravata não tenha qualquer imaginação e, por isso, se mantenha neutra no azul ou, ousadia!, cor-de-rosa.

Quando as feministas – ai, tão cansativas! - dizem que “se fosse um homem era tudo diferente” não têm uma razão relativa, tem apenas razão. Tristemente.