Em 2013, o investidor Aileen Lee definiu a raridade de atingir o potencial de avaliação de uma startup (à data de mil milhões de dólares) como se tratando de um unicórnio. Desde essa altura, surgiu uma cavalaria de unicórnios, pelo que não sendo vulgar, hoje é mais real a sua existência - não faltam exemplos como Uber ou Dropbox, entre dezenas de empresas nas diferentes geografias.
O mercado evolui rapidamente e, embora raros, os unicórnios são hoje mais frequentes. Em 2017, Bo Ji, da escola de gestão chinesa Cheung Kong Graduate School of Business (CKGSB) introduziu o conceito de dragão para as startups chinesas, pela forma exponencial como crescem num mercado único de escala global e acesso a um contexto em alguns aspectos propositadamente não regulado para que seja o mercado a decidir o sucesso dos negócios sem intervenção de regulação, com um contexto de oportunidades para florescerem.
Às portas do SeedstarsWorld em Maputo, e antes de conhecer melhor as 30 finalistas deste programa de seleção de startups de África, importa perceber que neste ecossistema de startups também existem unicórnios, apesar de mais raros. A Nigéria e a África do Sul foram os primeiros países a testemunharem o aparecimento dos primeiros uncórnios #madeinAfrica, num continente onde o mercado procura sobretudo zebras.
Estas empresas resolvem problemas reais do dia-a-dia, com impacto social significativo, sobretudo ao nível do que a sociedade civil sob a tutela dos governos não tem capacidade de resolver. Naturalmente encontramos muita tecnologia, mas em áreas mais afectas à realidade e menos especulativas. Naturalmente também porque existe menos capital de risco disponível, pelo que é na larga maioria dos contextos impossível sonhar em "alimentar um potencial unicórnio" porque não existem, em comparação com outras geografias, recursos disponíveis. Neste mercado há sobretudo investidores disponíveis para apoiarem projetos com menor risco associado, tipicamente rentáveis e não deficitários, e aposta-se sobretudo na "aceleração" dos negócios para muitas vezes transformar estas zebras em gazelas, porque existe mão de obra disponível e muitas vezes este é o diferencial para escalar rapidamente.
Mas e os unicórnios? Em África os principais unicórnios são apoiados pela AXA, Goldman Sachs, Orange e operadoras locais e empresas de tecnologia, mas o foco claramente são zebras e a sua rápida mutação para gazelas.
Esta é para mim uma aprendizagem, porque no Ocidente tudo corre tão rápido, que por vezes nos esquecemos do essencial, e apenas quando o capital escasseia o mercado parece recordar que as jovens empresas, sejam ou não tecnológicas, têm de ter vendas e que o capital serve para potenciar o seu valor. As métricas e tração em África medem-se mediante o impacto real na vida das pessoas e se o mercado reage com vendas. Não me parece que aqui os "likes" e "shares" do Facebook sejam uma distração para os empreendedores, que estão muito mais focados no mercado, nos clientes, em resolver problemas e menos com as folhas previsionais (por vezes futuristas) que alguns investidores desejam, sabendo que na sua larga maioria são visões e não realidade expectável.
Uma coisa me parece mais certa: as zebras são mais reais, menos lucrativas eventualmente, mas reais, menos risco é certo, mas com maior potencial para se mutarem para gazelas. As startups aqui parecem mais "reais" que algumas que conheci no passado, que desde o dia zero foram "ficção" que foi muito difícil transformar em "realidade".
Também é certo que muito sonhos "loucos" se transformaram em "realidade" que hoje resolve muitos problemas, e ainda bem que houve suporte para eles! Bem como todos os que falharam trazer à "realidade" a sua "ficção" foram o alimento dos sonhos de outros que o atingiram. Este é um tema particularmente complexo, onde uma coisa é certa, todos aprendemos com os erros (nossos e de terceiros) e nos inspiramos com os sucessos (nossos e de terceiros). O difícil é não perder aderência à nossa realidade e em cada momento estar disposto a mudar, mas sobretudo aprender com tudo e com todos.
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