Benedita estaciona o seu Fiat 500 perto do Hotel Marriot. É mais um dia na Católica, universidade que frequenta há quase seis meses, no curso de Gestão. Tinha média para entrar na Nova SBE, mas decidiu-se pela universidade da Palma de Baixo para agradar o avô Teotónio, membro da Opus Dei, e também porque não lhe agradava ir todos os dias para a Linha, porque Benedita é do Restelo e os seus pares não perdoariam tamanha traição beto-geográfica.

Às nove começará a aula do Prof. Pedro Prado, um assistente com vinte seis anos, praticante de crossfit, sempre com a revista The Economist debaixo do braço, cujas nádegas neoliberais Benedita já havia admirado mais do que uma vez, fantasiando uma relação não-regulamentada. Um daqueles amores proibidos, trama recorrente nos Morangos com Açúcar (obra televisiva onde Benedita assimilou o conceito de luta de classes - dreads vs. betos), mas que neste caso não se desenrolaria em torno do Colégio da Barra, mas da Escola de Chicago.

“Hoje o tema é o free-rider problem”, anuncia o jovem académico, ignorando o olhar embevecido de Benedita. Já passara à história o tempo em que andava atrás de betinhas de FIAT 500. Hoje, o seu foco eram os Range Rovers Evoque, e as soccer moms que observava quando ia buscar o sobrinho ao São João de Brito. “Beatas de leggings”, comentava com os amigos do crossfit, “uma perdição”. Iniciou a apresentação de diapositivos, “Os freeloaders são membros da sociedade que se aproveitam de recursos, bens ou serviços, sem contribuir para ter este benefício”.

“Parasitas!”, murmurou Benedita, lembrando-se do seu tio Gustavo, que já ia no quinto empréstimo a fundo perdido ao seu pai. Eis que uma aluna coloca uma questão. Era Juliana, a sempre incómoda beta de esquerda, que nunca ninguém convidava para festas: “Se a Católica não pagar impostos é uma free-rider”?

Um burburinho instalou-se no auditório. O professor pousou o apresentador de slides. Alunos e alunas, antes focados no Instagram, benziam-se agora. Deus respondia com um aguaceiro copioso, que musicava o duelo ideológico. Benedita teve um ataque de pânico: “esqueci-me de pôr parquímetro no Fiat 500!”.

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Este filme.

Este espetáculo que surpreendentemente é da minha autoria.