Atire a primeira pedra quem não passa (ou perde) os primeiros dias de férias semi-inerte, sem vontade de nada, dormindo horas infindáveis em qualquer lugar ou posição, ignorando, por completo, o cenário paradisíaco em que (talvez) se encontra ou, simplesmente, não sendo capaz de abandonar o sofá lá de casa. Pior do que o cansaço é a incapacidade para gerir os seus limites e, ainda pior, é ficarmos cansados dias depois de termos regressado porque, simplesmente, fazemos o trabalho de quatro, estamos desmotivados ou no chamado beco sem saída...
Com excepção de quem não pode escolher as datas das suas férias, o ideal é dividi-las ao longo do ano para gerir as pausas e recuperar forças.
Contudo, o problema não é parar, menos ainda a impossibilidade de vivermos permanentemente em férias. O problema é o ritmo a que nos submetemos, mesmo quando não queremos, porque a regra agora, é esta: rapidez, eficiência, produtividade e multi tarefa. Somos todos assim, assoberbados entre o trabalho que temos de fazer e o que escolhemos completar, horas intermináveis sentados em cadeiras desconfortáveis, parados a acumular calorias para depois corrermos (literalmente) à pressa numa passadeira, como hamsters na sua rotina diária.
Vamos ao ginásio gastar calorias que temos a mais pelas horas que ocupamos nessas tarefas que se limitam a fazer mexer os dedos, olhando para o ecrã de um computador. Precisamos contrariar todos os erros que o nosso estilo de vida, pessoal e profissional, nos obriga a cometer. Sabemo-lo mas continuamos a insistir no erro, porque já não sabemos viver de outra forma, hiperativos e freneticamente ligados a algo que nem sabemos bem o que é.
Por outro lado, no Elogio da Lentidão, o neurocirurgião Lamberto Maffei diz que o nosso pensamento lento - o estado natural do cérebro - é posto em causa, anulando a capacidade de reflexão, agindo por instinto e de forma imediata, tomando as piores decisões. Fala também nesta cultura da solidão porque se trata de uma consequência da tecnologia e não apenas do foro sociológico. O cérebro, perante o excesso de estímulos visuais, desenvolve mais o pensamento rápido e as emoções, diminuindo a linguagem falada e as funções racionais.
Ring a bell? Pois.
Evitamos conversar, trocando mensagens porque é mais fácil, sem pensarmos no que isso, verdadeiramente significa. Quem não acompanha é implacavelmente colocado à parte, independentemente da idade. Novos e velhos têm de alinhar nesta ligação hiperativa mas, na verdade, de qualquer das formas, acabamos sozinhos.
Regresso, por isso, a um livro de que gostei muito e sobre o qual já falei, chamado o silêncio na era do ruído, porque é preciso menos barulho na nossa vida, reintroduzindo aquilo que mais nos assusta: a capacidade de ficarmos sozinhos com os nossos pensamentos para, dessa forma, sermos capazes de apreciar o mundo lá fora sem ignorar o melhor que o mundo tem: o nosso próprio mundo.
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