Sputnik V: uma pequena esperança para a normalidade, mais um grande passo para a Rússia

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Hoje, provavelmente com o mesmo espanto que em 1957 o mundo assistia ao lançamento do Sputnik 1, o primeiro satélite artificial do planeta Terra, por parte da União Soviética, que ultrapassou assim os Estados Unidos na corrida ao espaço, assistimos ao anúncio do governo russo sobre a vacina contra a Covid-19.

A Sputnik V (o ‘V’ é de vacina, por favor não confundir com a missão russa Sputnik 5, a última com esse nome e que em agosto de 1960 levou vários animais e plantas até ao espaço e os fez regressar a são e salvo) foi uma surpresa inesperada. Apesar de a Rússia, no final de julho, ter anunciado que estaria para breve o registo da sua vacina contra o novo coronavírus, o mundo reagiu com ceticismo.

Porquê? Primeiro, a vacina russa não estava entre as seis que a OMS disse na semana passada estarem mais avançadas. Segundo, falta de acompanhamento de pares estrangeiros em relação à metodologia utilizada para a obtenção da dita cuja. Terceiro, registo da vacina sem que a última fase de testes esteja concluída - o que, por norma, demora vários meses e envolve milhares de pessoas e é a única forma de se provar que a vacina experimental é segura e funciona.

As preocupações ainda estão em cima da mesa, mas isso não impediu que a Rússia não torna-se o anúncio oficial, anunciando a produção em massa da mesma para setembro e a sua disponibilidade para o primeiro dia de 2021.

"Esta manhã foi registada, pela primeira vez no mundo, uma vacina contra o novo coronavírus", disse Vladimir Putin durante uma reunião com membros do governo russo que sublinhou que a vacina russa é "eficaz" assim como permite uma "imunidade estável" face ao Covid-19.

Putin disse ainda que uma das suas duas filhas já recebeu uma dose da vacina e está a sentir-se bem.

A confiança do governo russo parece ter sido suficiente para conquistar espaço entre as preocupações de alguns países, 20 mais concretamente, que já “pré-encomendaram um milhão de doses da vacina russa".

A Organização Mundial da Saúde recebeu com cautela a notícia, sublinhando que esta deverá seguir os trâmites de pré-qualificação e revisão definidos.

"Acelerar o progresso não deve significar comprometer a segurança", disse o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, numa conferência de imprensa, acrescentando que a organização está em contacto com as autoridades russas e de outros países para analisar o progresso das diferentes investigações em curso relativamente de vacinas.

Com todo o rebuliço que causou, o nome não podia ser mais adequado. Sputnik, mais do que um avanço, um statement do poderio científico russo face ao ocidente. Se há 63 anos, os soviéticos foram os primeiros a alcançar o espaço, com o lançamento do primeiro satélite que, lá de cima, transmitiu sinais de rádio durante 22 dias, hoje tentam conquistar o mundo com algo mais palpável: o anúncio da proximidade da normalidade.

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