O ataque a uma das pessoas "mais gentis da política" britânica

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

O deputado conservador David Amess morreu na sexta-feira na sequência de um ataque com uma faca em Leigh-on-Sea.

Num comunicado, a polícia do condado de Essex, no sudeste de Inglaterra, disse ter sido chamada pouco depois das 12:05. “Encontrámos um homem ferido. Ele foi assistido pelos serviços de emergência, mas, infelizmente, morreu no local”, indicou.

Vejamos o que aconteceu exatamente.

Em que circunstâncias aconteceu o ataque? 

O incidente aconteceu durante audiências com eleitores na Igreja Metodista de Belfairs, em Leigh-on-Sea. Estas audiências são realizadas regularmente por todos os deputados britânicos para conhecer problemas que os cidadãos queiram apresentar, sendo abertas a qualquer pessoa.

Quem era o deputado?

David Amess, de 69 anos, casado e pai de cinco filhos, representava a circunscrição de Southend West, no condado de Essex. Era deputado desde 1983, católico, opositor ao aborto e defensor dos direitos dos animais, tendo também feito campanha pelo ‘Brexit’.

O caso está a ser considerado terrorismo?

A investigação está a ser conduzida pelo Comando Contra o Terrorismo da Met, em colaboração com a Unidade de Operações Especializadas da Região Leste (ERSOU, na sigla em inglês) e com a Polícia de Essex, anunciou aquela força policial, num comunicado divulgado na rede social Twitter.

O coordenador nacional da unidade de contraterrorismo, o comissário Dean Haydon, “declarou formalmente o incidente como terrorismo”, indicou a polícia na nota. “A investigação inicial revelou uma potencial motivação ligada ao extremismo islâmico”, acrescentou.

Há suspeitos?

Segundo a polícia, “um homem de 25 anos foi rapidamente detido, pouco depois de os polícias terem chegado ao local, sob suspeita de homicídio, e uma faca foi recuperada”. As autoridades acrescentaram não acreditar existirem mais pessoas envolvidas no ataque — mas, “como parte da investigação, os agentes efetuaram buscas em duas moradas na área de Londres”.

É o primeiro caso deste tipo no Reino Unido?

Dois outros deputados, o Liberal Democrata Nigel Jones, em 2000, e o trabalhista Stephen Timms, em 2010, foram vítimas de ataques com facas, tendo ambos sobrevivido, embora um assessor de Jones tenha morrido ao tentar protegê-lo.

O crime desta semana trouxe ainda à memória o homicídio, em 2016, da deputada do Partido Trabalhista Jo Cox, assassinada por um militante de extrema-direita, uma semana antes do referendo que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia.

A segurança dos políticos em Inglaterra está a ser questionada?

Vários deputados britânicos pediram hoje uma revisão das medidas de segurança na sequência da morte de David Amess.

A deputada trabalhista Harriet Harman, de 71 anos, disse à BBC que vai escrever ao primeiro-ministro Boris Johnson a pedir que apoie uma conferência especial para debater o assunto. “Não acho que ninguém queira uma situação em que a polícia tenha de registar todos os eleitores, mas com certeza há uma maneira mais segura de realizar as nossas atividades”, disse.

Por sua vez, a ministra do Interior, Priti Patel, ordenou uma revisão da atual estratégia de segurança e deve fazer uma declaração ao Parlamento na segunda-feira.

Também o parlamentar conservador Tobias Ellwood pediu que os “encontros pessoais temporários” com os cidadãos sejam suspensos até que Patel conclua a sua análise, já que a morte de Amess causou “grande ansiedade” entre os parlamentares.

O primeiro-ministro britânico já se manifestou quanto ao sucedido? 

Boris Johnson depositou hoje uma coroa de flores nas portas da igreja onde David Amess foi assassinado. O primeiro-ministro chegou à cidade do condado de Essex, nos arredores de Londres, acompanhado da ministra do Interior, Priti Patel, e também do líder do Partido Trabalhista de oposição, Keir Starmer. Contudo, não foram prestadas declarações aos jornalistas no local.

Anteriormente, Johnson tinha já referido que Amess era uma das pessoas "mais gentis da política", enquanto a ex-primeira-ministra Theresa May frisou que a sua morte foi "dolorosa" e "um dia trágico" para a democracia britânica.

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