O perigo de uma série passar para a realidade

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

Em Squid Game, uma séria sul-coreana, um grupo de 456 pessoas viciadas em apostas luta até à morte num jogo cujo prémio são cerca de 32 milhões de euros. As eliminatórias são feitas através de jogos infantis: quem perde é alvejado.

Por isso, este conteúdo está a chamar a atenção devido a estas passagens violentas, lançando o alerta nas comunidades escolares e entre as famílias.

A série está a ser imitada na vida real?

Sim. Vários países europeus, como a Bélgica, o Reino Unido ou a Espanha, já lançaram alertas relativamente ao aumento de violência nos recreios das escolas, devido à imitação de algumas cenas da série, disponível na plataforma Netflix e que não é indicada para menores de 16 anos.

Um dos jogos imitados é uma versão do clássico "macaquinho do chinês", em que os jogadores vão tentando fazer caminho sem serem apanhados a mexer quando quem faz a contagem de costas se vira. Devido à série, há relatos de episódios de violência neste jogo: em vez de terem de recuar, quem se mexe chega a ser agredido.

Mas as crianças estão a ver esta série? 

Segundo o The Guardian, muitas crianças não veem o conteúdo original, mas tomam conhecimento dos desafios virais no TikTok, onde vários utilizadores vão publicando as suas próprias versões dos jogos.

Há também alertas para que os pais tentem garantir que os filhos não têm acesso ao conteúdo às escondidas.

Por cá, o que já aconteceu?

Até agora não há registo destas imitações em Portugal, mas a GNR disse estar “muito atenta ao fenómeno” Squid Game e aos efeitos que a série televisiva sul-coreana está a ter nos mais novos, sublinhando que vai continuar a reforçar os conselhos junto da comunidade escolar.

O alerta surge em comunicado, no qual a GNR esclarece que, no sábado, uma página não oficial desta força de segurança lançou, através das redes sociais, “alguns conselhos e advertências aos pais” relativos à série Squid Game, que retrata jogos infantis e é um fenómeno de audiências e popularidade, sobretudo entre os mais novos.

“A página em causa não é da responsabilidade da Guarda nem pertence a nenhum canal de comunicação oficial da Guarda, pelo que foram encetadas diligências para que a mesma fosse desativada, o que já se verificou. Não obstante, a Guarda está muito atenta a este fenómeno, até pela presença ativa na comunidade escolar, junto de crianças e jovens”, foi referido.

Assim, “ao longo das diversas ações de sensibilização que fazemos junto da comunidade escolar", as autoridades vão "continuar a reforçar os conselhos e os perigos que a violência transmite às crianças e aos jovens e a importância da sua monitorização”.

O que dizem os especialistas? 

À RTP, Tito de Morais, do projeto "Miúdos Seguros na Net", questionou se "devemos falar nisto", lembrando que há sempre dois lados. "Ao falar nisto, vamos estar a chamar a atenção sobre um determinado tipo de situação. Ao não falar, estamos a fazer como a avestruz e a enfiar a cabeça na areia como se não houvesse problema nenhum", disse, lembrando que "mais tarde ou mais cedo, isto vai bater-nos à porta, como aconteceu anteriormente com a Baleia Azul ou com o Momo".

Por isso, frisou, "o importante aqui é não deixarmos que as crianças e os jovens fiquem entregues a si próprias e sejam educadas pelos Youtubes, Netflixes", devendo haver sempre "acompanhamento parental" nas escolhas feitas.

Por sua vez, para Carlos Céu e Silva, psicólogo, "esta ideia de que a criança até pode ver a série se estiver acompanhada pelos pais é um bocadinho romântica, porque temos de imaginar que depois a criança, só por si, sozinha, cria a sua própria fantasia e vai deturpar tudo aquilo que viu, mesmo com todo o tipo de conselhos ou explicações que tenha".

Assim, defende, "uma criança tem de saber que existe guerra e fome, mas também é importante o outro lado — e às vezes não se aposta no outro lado, mas sim neste da violência".

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