Nove dias depois da morte de Amini
Mahsa Amini, de 22 anos, foi detida a 13 de setembro pela chamada “polícia de moralidade” de Teerão, capital do Irão, onde se encontrava de visita. Diz-se que trazia o véu de forma incorreta e, por isso, foi transferida para uma esquadra com o objetivo de assistir a “uma hora de reeducação”. Acabou por entrar em coma e morrer no dia 16 no hospital.
Agora, nove dias depois da sua morte, o país não dá sinais de esquecer o caso e os protestos continuam.
Como vão as manifestações no Irão?
De momento, parece que os protestos estão a acalmar — mas é difícil analisar a situação, dadas as restrições impostas pelo Governo à internet e à informação.
As redes móveis são cortadas à tarde e à noite e a situação da internet fixa piorou com operadoras como a Mobinnet a ter "apagões", explicou a NetBlocks, uma plataforma que estuda a censura online.
Quantas pessoas foram detidas? Há mortos?
Não há dados oficiais completos quanto ao número de detidos.
Contudo, o procurador da cidade de Sari, Mohamad Karimi, denunciou hoje a prisão de 450 "desordeiros" na província nortenha de Mazandaran. Com outros 736 detidos na província de Guilan, o número de detenções conhecidas sobe para 1.186.
O Comité para a Proteção dos Jornalistas relatou também a prisão de pelo menos 18 profissionais nos últimos dias.
Por sua vez, as autoridades não informam o número de mortos, mas a televisão estatal iraniana afirmou que já são 41.
Face aos protestos, o que faz o Governo?
O Governo iraniano mobilizou milhares de cidadãos em todo o país em marchas contra os protestos por causa de Amini.
Estes manifestantes exibiram cópias do Alcorão, bandeiras iranianas e fotos do líder supremo Ali Khamenei em Teerão, onde marcharam cantando "morte ao manifestante" e "morte ao insurrecto", mas também os habituais "morte à América" e "morte a Israel", que acusam de estarem por detrás dos protestos. Defenderam ainda a aplicação da lei com ‘slogans’ de apoio à polícia e ao líder Khamenei.
As marchas repetiram-se nas principais cidades do país, como Shiraz, Isfahan, Hamedan, Bandar Abas, Qom, Rasht, Ghazvin e até em Sanandaj, capital do Curdistão iraniano, de onde Amini era originária.
Como é que o Irão vê os comentários a este caso no estrangeiro?
O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão convocou os embaixadores britânico, Simon Shercliff, e norueguês, Sigvald Hauge, após os protestos no país, avançou a agência de notícias Efe.
Segundo a Efe, o embaixador britânico foi convocado em protesto contra a divulgação de notícias pelos órgãos de comunicação social do Reino Unido em relação à morte da jovem Mahsa Amini nas instalações policiais.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão também convocou o embaixador norueguês por comentários de “ingerência” do presidente do Parlamento, Masud Gharahjani, sobre os protestos no Irão, através da rede social Twitter.
O que diz a União Europeia sobre o que se passa no Irão?
A União Europeia (UE) afirmou hoje que o "uso generalizado e desproporcionado da força" contra manifestantes no Irão é "injustificável e inaceitável".
Numa declaração, o chefe diplomático da UE, Josep Borrell, também condenou “a decisão das autoridades iranianas de restringir drasticamente o acesso à internet e de bloquear as plataformas de mensagens instantâneas”, o que “constitui uma violação flagrante da liberdade de expressão”.
“A União Europeia continuará a examinar todas as opções à sua disposição, antes do próximo Conselho (de ministros dos Negócios Estrangeiros), à luz da morte de Mahsa Amini e da forma como as forças de segurança iranianas responderam às manifestações que se seguiram”, advertiu Borrell, sem especificar.
“Esperamos que o Irão acabe imediatamente com a repressão violenta dos protestos e permita o acesso à Internet e o livre fluxo de informação”, acrescentou o responsável máximo da UE pela política externa.
Também apelou a Teerão para “esclarecer o número de mortos e pessoas presas, para libertar todos os manifestantes não-violentos”.
“A morte de Mahsa Amini deve ser devidamente investigada e quaisquer perpetradores comprovados devem ser responsabilizados”, rematou.
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