Pela primeira vez, um Papa visitou o Bahrein. O que disse Francisco?

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

Francisco vai ficar na história como o primeiro Papa a visitar o Bahrein, onde esteve entre 3 e 6 de novembro para participar num fórum inter-religioso.

Sob o lema "Paz na terra aos homens de boa vontade", inspirado no Evangelho de S. Lucas, o Papa fez esta viagem para falar também do papel das religiões nas guerras e para procurar aliados para a defesa da paz.

Neste Estado insular do Médio Oriente, que tem cerca de 1,2 milhões de habitantes, na sua maioria muçulmanos, foi inaugurada, em dezembro de 2021, a maior igreja católica da Península Arábica, a Catedral de Nossa Senhora da Arábia, em Awali, erguida a cerca de 1,6 quilómetros de uma grande mesquita e a pouca distância de um poço de petróleo.

Segundo estimativas do Vaticano, o Bahrein tem cerca de 80.000 católicos, principalmente trabalhadores da Ásia (Índia e Filipinas).

Ao longo destes dias de visita apostólica, estes são os principais pontos a reter:

  • Papa pediu o fim da pena de morte

Embora assumindo uma postura diplomática, Francisco não se esquivou a falar de algumas das questões sociais mais controversas no Bahrein.

No primeiro dia no país, o Papa Francisco pediu às autoridades locais que renunciem à pena de morte e garantam direitos básicos, ao chegar ao reino controlado por sunitas e acusado de discriminação contra a maioria xiita.

Com o Rei Hamad bin Isa Al Khalifa ao seu lado, Francisco também instou a nação do Golfo Árabe a garantir condições de trabalho “seguras e dignas” para os trabalhadores imigrantes, que há muito enfrentam abusos na construção, extração de petróleo e serviços domésticos.

Francisco referiu-se indiretamente à luta entre seitas, quando chegou à cidade de Awali e se encontrou com Al Khalifa, no palácio real de Sakhir.

  • Não se deve "brincar com mísseis e bombas"

O Papa Francisco alertou, na sexta-feira, segundo dia da visita, que o Oriente e o Ocidente são cada vez mais dois blocos opostos, sublinhando que se continuarem a "brincar com mísseis e bombas" o mundo vai encher-se de "cinzas e ódio”.

"Depois de duas terríveis guerras mundiais, depois de uma guerra fria que durante décadas deixou o mundo em suspense, no meio de tantos conflitos desastrosos em todas as partes do globo, entre vozes de acusação, ameaça e condenação, ainda nos encontramos a cambalear à beira de um equilíbrio frágil", disse.

O Papa disse ainda desejar que as disputas “sejam resolvidas para bem de todos”

  • 30 mil pessoas no estádio nacional para ver o Papa

No terceiro dia da visita, cerca de 30.000 pessoas reuniram-se no estádio nacional do Bahrein para assistir à missa do Papa Francisco, no terceiro dia da visita ao reino muçulmano do Golfo.

Entre a multidão, encontravam-se muitos fiéis originários de países asiáticos, famílias com crianças e religiosos que se deslocaram ali para assistir à celebração desta manhã no maior recinto desportivo do país, situado em Riffa.

“Estamos aqui desde a uma da manhã, não dormimos. Estamos muito entusiasmados com a ideia de vermos o Papa!”, disse à AFP Philomina Abranches, uma voluntária indiana de 46 anos, no local.

“Toda a gente veio ver o Papa ! É o sonho de toda uma vida”, afirmou, acrescentando que o líder da igreja católica representa “toda a paz no mundo”.

Marguerite Heida, 63 anos, manifestou-se “encantada” por assistir ao “maior evento do ano”.

“As pessoas vão, geralmente, a Itália para verem o Papa e nem sempre conseguem. Eu vi-o ontem [sexta-feira] na igreja e hoje vou voltar a ver. Também pude apertar a sua mão e receber a sua benção”, confessou.

  • Jovens não devem ficar "indiferentes" ao mundo

Também no sábado, o Papa Francisco pediu aos jovens que reajam "à tendência dominante de permanecer indiferentes", a ponto de "aprovar guerras e conflitos", durante o encontro que manteve com alguns jovens na escola do Sagrado Coração.

"Na massa do mundo, sois o bom fermento destinado a crescer, a superar tantas barreiras sociais e culturais e a promover elementos germinais de fraternidade e novidade. Jovens, sois vós que, como viajantes inquietos e ao inédito, não têm medo de se encarar, dialogar, fazer barulho e se misturar, tornando-se a base de uma sociedade amiga e solidária", disse Francisco.

O Papa aconselhou os cerca de 800 jovens, que se reuniram nesta escola, para “não trancarem a sua vida num cofre, pensando que é melhor não fazer nenhum esforço porque ainda não chegou a hora de gastá-lo”. Também numa altura em que "as tensões e ameaças aumentam, e por vezes surgem conflitos", pediu para "serem semeadores de fraternidade, porque o mundo só terá futuro na fraternidade"

"Queridos jovens, precisamos de vós, precisamos da vossa criatividade, dos vossos sonhos e da vossa coragem, simpatia e dos vossos sorrisos, de uma alegria contagiante e também daquela pitada de loucura que sabem trazer a cada situação, e que ajuda a sair do torpor da rotina e dos esquemas repetitivos em que por vezes categorizamos a vida", concluiu Francisco.

  • Papa reza pelo Líbano e pela Ucrânia

O Papa Francisco rezou, no último dia de viagem, pelo "tão sofrido" Líbano, pela "Ucrânia martirizada" e por "todos os povos que sofrem no Médio Oriente".

O pontífice argentino também agradeceu às autoridades pelo acolhimento, durante um encontro com o clero católico na igreja do Sagrado Coração, na capital Manama.

"E também não me quero esquecer de rezar e de vos pedir para que rezem pela Ucrânia martirizada, para que esta guerra termine", acrescentou.

O Papa também convidou os membros da Igreja a promover o diálogo “com irmãos de outras religiões e confissões”, numa “sociedade inter-religiosa e multicultural”.

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