Os influencers também podem ser julgados. Será que vale partilhar tudo?

Beatriz Cavaca
Beatriz Cavaca

A novela começou durante o fim de semana, quando o país andava mais distraído com o que se passava com Rui Rio e amigos e não tanto com o mundo das redes sociais. Porém, na rede social Instagram, havia uma mãe influencer que decidiu partilhar como disciplina a filha, Julieta, de três anos.

O seu nome é Joana Mascarenhas, uma reconhecida influencer desta rede social, que afirmou que quando a filha faz 'birra', ela faz o seguinte: "Peguei nela, no pijama e fui para dentro da banheira. Molhei-a toda com água fria. Foi um super remédio santo".

Atualmente a ser investigada pelo Ministério Público, e antes de ter sido dado todo o tipo de opiniões sobre o tema nas redes sociais, a influencer explicou que apenas fazia este ato quando a criança, de apenas 3 anos, tinha este tipo de comportamento, ou seja, em situações extraordinárias.

Na altura referiu: "Eu peguei nela e submergi-a na piscina até aqui [ao pescoço]. Bem, aquilo desconcentrou-a. O cérebro foi para outra coisa, que foi: agora estou com frio"; "Eram para aí cinco da manhã e ela estava a chorar outra vez, aos gritos. Imaginem, num prédio em que se vai ouvir. E eu, ai é? Peguei nela, no pijama e fui para dentro da banheira. Molhei-a toda com água fria. Foi um super remédio santo".

A Joana era seguida por várias pessoas que foram partilhando o conteúdo e discutindo nas redes sociais, com inúmeros pediatras e especialistas a defenderem que esse era um método errado para um responsável fazer parar as birras de uma criança. Foram vários que defenderam que esta questão podia até traumatizar a criança no futuro.

Entretanto, e segundo o jornal Expresso, que contactou o gabinete de comunicação da Procuradoria-Geral da República, este departamento confirmou a abertura de uma investigação, que se encontra nas mãos da Secção Especializada Integrada de Violência Doméstica de Lisboa. Já a mãe da menina eliminou todas as contas das redes sociais.

A questão é complexa, e seria necessário um rol de especialistas para a discutir nas suas diferentes vertentes, mas deixará certamente no ar para sempre o poder de uma partilha fora de contexto nas redes sociais, e talvez até um debate necessário sobre a exposição das crianças e da sua vida neste tipo de plataformas.

Vale notar que várias vezes se falou da necessidade de criar um órgão regulador das redes sociais, à semelhança do que já existe na Comunicação Social, ideia até já defendida no Parlamento por figuras relevantes em Portugal. Porém, diariamente várias crianças observam a sua vida exposta pelos seus responsáveis legais a troco de fama, dinheiro e seguidores.

Não sei o que se terá passado com Joana Mascarenhas e a sua filha, e isso caberá ao Ministério Público investigar, mas certamente que o local para julgar um mau comportamento maternal não é a Internet, o Instagram, o Twitter ou qualquer outra plataforma deste tipo. Além disso, também não sei até que ponto é que a menina de 3 anos merece olhar para trás um dia e saber que por uns dias todos sabíamos que ela tinha sido mergulhada em água fria pela mãe, mesmo que esta seja uma atitude condenável.

A reflexão que convido a fazer, além do eventual mau trato cometido a averiguar pelas autoridades competentes, vai mais longe e passa pela falta de privacidade das redes sociais e como, repentinamente, tudo é público e tudo é partilhável. Talvez não devesse ser assim e, pondo-me no lugar de quem esta menina será um dia mais tarde, mesmo que nada haja a apontar à mãe, ou mesmo que haja, talvez não devêssemos ter carregado naquele botão de partilha e talvez nem eu devesse estar agora a falar sobre isto.

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