Acabou-se o acordo de exportação de cereais. E agora?
Esta manhã o mundo acordou com a notícia da suspensão do acordo de exportação de cereais pelo Mar Negro a partir de portos ucranianos por parte da Federação Russa. Aparentemente, os compromissos assumidos em relação à parte russa não foram cumpridos, opinião exclusivamente disseminada pelo país em questão.
Apenas uma frase: "O acordo dos cereais está suspenso", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, durante a sua conferência de imprensa diária por telefone, e agora o mundo que passe fome que não será certamente problema de Moscovo.
Durante o resto do dia, ouvimos os vários líderes mundiais a reagir a esta notícia sem saberem bem o que fazer e a lamentarem as consequências para o mundo, em especial para os países menos desenvolvidos.
Numa nota divulgada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros inglês, o líder da diplomacia britânica, James Cleverly, disse que "a guerra ilegal da Rússia contra a Ucrânia obstruiu o livre fluxo de cereais e outros produtos alimentícios através do Mar Negro, causando sofrimento em todo o mundo".
Sublinhou também que, "enquanto as exportações de cereais da Ucrânia são limitadas, as exportações russas de alimentos estão em níveis mais altos do que antes da invasão".
"Sempre deixámos claro que o alvo das nossas sanções é a máquina de guerra da Rússia e não os setores de alimentos e fertilizantes", ressalvou a nota da diplomacia britânica, acrescentando que "ao contrário do que a Rússia afirma, a ONU e outros parceiros tomaram medidas significativas para garantir que os alimentos russos possam ter acesso aos mercados mundiais".
Paris também condenou a decisão russa, dizendo que Moscovo deveria "parar com a sua chantagem sobre a segurança alimentar mundial".
"A Rússia é a única responsável por bloquear a navegação neste espaço marítimo e está a impor um bloqueio ilegal aos portos ucranianos", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês em comunicado, instando a Rússia a "reverter a sua decisão".
O chanceler alemão, Olaf Scholz, classificou, por seu lado, o anúncio de Moscovo como "más notícias", destacando que o mundo inteiro está ameaçado pela agressão russa contra a Ucrânia.
O líder alemão acrescentou que todos "vão perceber exatamente o que está por detrás disto" e que a Rússia não se sente responsável por uma "boa convivência com o resto mundo".
Já ao final do dia, juntar-se-ia ao conjunto de declarações a do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que sustentou que, "mesmo sem a Rússia, tudo deve ser feito para usar este corredor" no Mar Negro.
"Não temos medo", disse, num comentário partilhado na rede social Facebook pelo seu porta-voz, Serguei Nykyforov.
Ainda no dia de hoje, também falou o secretário-geral da ONU, António Guterres, que alertou para o facto de centenas de milhões de pessoas estarem prestes a pagar pela decisão da Rússia de romper com o acordo.
Destacando ainda que "milhares de consumidores e pessoas que veem o custo de vida a subir irão ser afetados" e garantiu que "a Rússia vai pagar o preço de aprofundar uma grave crise alimentar", afirmando que enviou uma "carta a Putin com uma proposta para acordo", entretanto, obviamente, recusada.
Já no final da sua intervenção, não conseguiu esconder o facto de estar "profundamente desiludido", e garantiu que as Nações Unidas vão manter todos os esforços para garantir as exportações de cereais e fertilizantes.
Por último, no que diz respeito a reações, falou também o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que afirmou, por sua vez, acreditar que o seu homólogo russo, Vladimir Putin, "quer manter" o acordo.
"Daremos passos nesse sentido, com um telefonema a Putin, sem esperar por agosto", declarou, como se fosse salvar o mundo.
Recorde-se que o recuo de Moscovo em relação à prorrogação da Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, que já vinha ameaçando caso não fossem atendidas as suas exigências, mereceu críticas contundentes da Comissão Europeia, para a qual se trata de uma "decisão cínica", mas também dos Estados Unidos, que referiram tratar-se de "outro ato de crueldade" russa e "mais um golpe nos países mais vulneráveis do mundo".
O acordo dos cereais entrou em funcionamento em agosto do ano passado, já em plena guerra, quando os primeiros navios começaram a ser carregados e transportados a partir dos portos do sul da Ucrânia, um dos maiores produtores de cereais do mundo.
Segundo dados das Nações Unidas, desde que o acordo entrou em vigor, perto de 33 milhões de toneladas de cereais foram escoados a partir dos portos do sul da Ucrânia.
*com Lusa
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