"Não passarão". Pedro Nuno Santos é o líder mais novo, mas o fundador Manuel Alegre continua a inflamar
No segundo dia do 24º Congresso do Partido Socialista, o histórico socialista, Manuel Alegre levou à sala a garra e a métrica de comícios de tempos mais sombrios da história nacional. Com grandes criticas ao Chega, e o pedido para que Pedro Nuno Santos cumpra as promessas eleitorais, Manuel Alegre deixou um apelo: “Vamos para a luta para vencer sem complexos, sem medos, sem nunca nos deixarmos render. A nossa bandeira não está no chão, está de pé e na mão de todos vocês, a bandeira do PS para ir à luta, para ir às eleições e para ganhar as eleições”. Perante uma plateia que se começou a levantar para o aplaudir efusivamente.
Se o Diabo tem sido referido nas acusações entre PS e PSD, o capeta do segundo dia do congresso foi só um: o Chega. A direita radical esteve na boca de quase todos os conferencistas, que aproveitam a ameaça populista para apresentar o Partido Socialista como a alternativa e a continuidade da democracia e do diálogo nacional.
José Luís Carneiro, num discurso que pautou pelo convite à moderação, lembrou que o PS sempre foi capaz de dialogar com todas as forças democráticas e quadrantes da sociedade, e que as forças moderadas e o diálogo são o melhor caminho para combater os extremismos. Usou o exemplo dos EUA, Brasil e comportamento do Chega no 25 de abril de 2023, durante o discurso de Lula, para apelar à mobilização para "combater os extremismos" e a polarização.
Também Fernando Medina apontou os últimos oito anos de governação como um "período de conquistas para os portugueses e para o país" que constituiu uma "vitória ideológica da social-democracia face a todas as correntes ideológicas, em particular as da direita".
Para Santos Silva, “só uma vitória robusta do PS garante esta virtuosa combinação entre continuidade e renovação das políticas públicas”, mas também que “não haverá retrocesso nas políticas de crescimento económico, nas políticas sociais, de educação, de igualdade”.
“Só uma vitória robusta do PS garante aos portugueses governabilidade, estabilidade política e segurança. Só uma vitória robusta do PS garante que o próximo Governo não fique refém da extrema-direita”, disse.
Santos Silva acrescentou ainda que só uma “vitória robusta” do PS garante a combinação “da liberdade, igualdade, solidariedade e sustentabilidade”, que defendeu serem “valores essenciais” para o futuro de Portugal.
Se Francisco Assis tentou mudar a cassete pedindo ao PS para "enfrentar estas eleições pela positiva, apresentando ao país medidas concretas com toda a clareza. Não cedamos à tentação de fazermos uma campanha com base no medo, nem com base no ressentimento de qualquer espécie. Mesmo que esse medo seja legítimo, mesmo que esse ressentimento possa ter alguma razão de ser”, imediatamente depois Duarte Cordeiro pôs Chega e PSD no mesmo saco.
“À direita, quando olhamos para o PSD e para o Chega, vemos apatia e negacionismo. Existe um risco real de recuo nas políticas ambientais”, alertou.
Mas não deixou a esquerda livre de criticas, afirmando que se vê “radicalismo, ausência de noção dos graves impactos sociais, económicos, visões disruptivas ou mesmo posições que aceitam o empobrecimento como inevitabilidade para a defesa do planeta”.
A presença contínua do Chega nos discursos do PS poderá fazer questionar em que lugar se encontra o partido de Ventura nas sondagens. Ora, na última Sondagem da Aximage para JN/DN/TSF o PS estava com 34,1% das intenções de voto, o PSD com 24,8% e o Chega apresentava-se em terceiro lugar com 16,3%. Contudo, nesta sondagem feita dia 1 deste mês o Chega tinha crescido 4,7% em relação à sondagem de 27 de dezembro da Intercampus para o Negócios, Correio da Manhã e CMTV.
Talvez tenha sido avisado o alerta de Marcelo Rebelo de Sousa que, ontem, no aniversário do jornal Expresso, alertou para o facto de a extrema-direita querer dividir a direita clássica, mas que no fim o problema acabará também a "cair em cima da esquerda". O Presidente da República usou o exemplo de Trump e lembrou que quando, nessa altura, questionados sobre o risco dos populismos "muito boa gente (António Costa) disse, eu não vejo isso”.
E Marcelo, parecendo prever a ignição dos discursos do PS no fim-de-semana, alertou “há um momento em que a normalização do que surgiu para dividir a direita clássica atinge o centro, depois o centro esquerda, e depois a esquerda”. Não deixando de diagnosticar o problema, “atrasos e vazios na resolução de problemas sociais prementes têm um peso enorme”. Referindo que “aos radicais basta o protesto”.
Tal como o Presidente pediu ontem, é importante que os partidos não joguem apenas "à defesa", e continuem a “discutir projetos de poder do que projetos de futuro”. A três meses das eleições o país sairá a ganhar se em vez de os discursos e intervenções se focarem na assombração do Chega e na chegada de Lúcifer, comecem a focar-se no tão falado "progresso" e no tão pouco discutido plano para o país. Na apresentação de soluções para os problemas vociferados pelos populistas, e na desmontagem das ideias repetidas pela extrema direita.
*Com Lusa