Estado de saúde débil de Ricardo Salgado e protesto com carro funerário marcam primeiro dia de julgamento do processo BES/GES

Ana Damázio
Ana Damázio

O julgamento do processo BES/GES arrancou hoje no Juízo Central Criminal de Lisboa, dez anos após o colapso do Grupo Espírito Santo (GES), num caso com mais de 300 crimes e 18 arguidos, incluindo o ex-banqueiro Ricardo Salgado.

Face à dimensão do caso, que, além do Ministério Público (MP) e dos 18 arguidos, inclui 120 assistentes representados por 58 mandatários, a juíza Helena Susano reservou o tempo máximo de 15 minutos para cada interveniente nas exposições introdutórias, nas quais seria suposto indicarem, de forma sumária, os factos que pretendem provar.

Refira-se que no processo estão ainda 1.698 pessoas com estatuto de vítimas.

Fora do tribunal previa-se alguma agitação, não só pelo aparato mediático como por uma iniciativa organizada pela Associação de Defesa dos Clientes Bancários (ABESD) e pela Associação de Lesados Emigrantes da Venezuela e África do Sul (ALEV), em memória das vítimas que já perderam a vida na esperança de recuperar o seu dinheiro.

Neste sentido, pelas 08h30 desta manhã, os representantes dos lesados do Banco Espírito Santo (BES) juntaram-se em protesto, acompanhados por um carro funerário, onde colocaram uma fotografia de Ricardo Salgado. Além da fotografia, podia ler-se: "Mataram as nossas poupanças, agora é hora de justiça”.

Atrás do carro funerário estavam 16 pessoas vestidas de preto, de cara tapada, e com os nomes de lesados do BES que já morreram estampados nas camisolas.

Já do outro lado da estrada, em frente ao Campus de Justiça, foram colocadas tarjas, onde estavam escritas mensagens como “lesados Novo Banco” ou “exigimos a provisão”.

Uma hora após o início da manifestação, um pouco depois das 09h30, chegava Ricardo Salgado, o principal arguido do caso.

Acompanhado pela mulher, Maria João Salgado, que é agora a sua cuidadora, fruto da doença que padece, Alzheimer, o ex-líder do BES moveu-se muito lentamente.

Durante o seu percurso, o antigo banqueiro foi confrontado por lesados do BES, que lhe pediram explicações. Ricardo Salgado parou uns minutos para os ouvir, mas depois seguiu para a entrada do tribunal, onde entrou quatro minutos após a hora marcada para o início do julgamento.

Logo no início da primeira sessão, Francisco Proença de Carvalho, advogado de Ricardo Salgado, pediu à juíza para que fosse realizada a identificação do ex-banqueiro.

“Gostaria de requerer que procedesse à identificação e que a seguir o dispensasse de ficar na audiência e de comparecer nas seguintes”, afirmou a defesa.

Perante a falta de oposição do Ministério Público e dos assistentes, a presidente do coletivo de juízes perguntou a Ricardo Salgado o seu nome, que respondeu sem dificuldade. O ex-banqueiro soube ainda dizer o nome dos pais, apesar de um lapso nos apelidos da sua mãe.

Lembrou-se que era banqueiro e que morava em Cascais, mas não conseguiu recordar-se da morada exata.

Questionado pela juíza se queria estar presente no julgamento, Ricardo Salgado não soube responder e o seu mandatário acabou por interromper a magistrada. “Acho que é pacífico que o nosso constituinte tem a doença que tem. Creio que a doutora compreende os efeitos da doença ou então temos de fazer uma perícia”, respondeu Francisco Proença de Carvalho.

No seguimento da débil condição de saúde do arguido, a magistrada autorizou a saída de Ricardo Salgado da sala de audiências pelas 10h25, que acabou por abandonar o tribunal pela garagem, sem prestar quaisquer declarações.

A identificação dos restantes arguidos prosseguiu e, pelas 11h30, o Ministério Público começou a fazer a sua exposição após um breve interregno do julgamento.

A procuradora deu início à fase introdutória do processo, começando por salientar que, devido à dimensão dos autos, o julgamento iria "estender-se por tempo significativo”.

Mais tarde, após uma pequena pausa para almoço, as exposições continuaram, com destaque para as intervenções dos advogados Raul Soares da Veiga, Miguel Cordovil de Matos, Rogério Alves e Paulo Saragoça da Matta, em representação dos acusados Amílcar Morais Pires, Francisco Machado da Cruz, António Soares e João Martins Pereira, respetivamente.

O SAPO24 esteve a acompanhar a primeira sessão do julgamento e sabe que foram realizadas as exposições introdutórias de cerca de metade dos 18 arguidos, e que as restantes deverão continuar esta semana.

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