BES. Entre o pedido para não ser divulgado, as dificuldades do áudio e o banco que 'respirava confiança'

Ao segundo dia do julgamento do caso BES/GES, a expetativa era a de ouvir o depoimento de Ricardo Salgado, o principal arguido deste processo, que fora gravado em 2015.

Antes, porém, pela manhã, foram ouvidas todas as exposições dos advogados de arguidos que ainda não tinham usado da palavra, desde terça-feira, e ainda foram identificadas mais duas arguidas. Mas todos esperavam pelas declarações de Ricardo Salgado, feitas há nove anos.

Todos menos os seus advogados.

Após a pausa para almoço, Adriano Squilacce apresentou um requerimento para que o depoimento de Ricardo Salgado não fosse  divulgado, alegando que o seu cliente, por não estar presente, não podia fazer o contraditório.

“Tem o direito de exercer pessoalmente o contraditório. É evidente que o arguido tem de estar em condições de contraditório”, referiu Adriano Squilacce.

“A exigência do cumprimento obrigatório do contraditório impõe-se. O arguido tem o direito de exercer pessoalmente o direito ao contraditório. É por demais evidente que o arguido tem de estar em condições para contraditar. No entanto, encontramo-nos na paradoxal circunstância de que o arguido não consegue compreender as suas próprias declarações. Assim, a reprodução das declarações viola as garantias de defesa”, disse o advogado.

A sua intenção, contudo, foi declinada pelo coletivo de juízes.

Surgiu então o áudio de Ricardo Salgado, o tal de há nove anos, e bem se tentou escutar o mesmo, mas muitas dificuldades com o mesmo, tanto de audição como de tradução (há arguidos de outras nacionalidades), levaram a que o coletivo de juízes tenha mandado parar o áudio.

Trocou-se a 'fita' pelo vídeo e tudo correu melhor.

No depoimento que Ricardo Salgado fez ao DCIAP, o arguido começou por falar da generalidade do Grupo Espírito Santao, salientando que o mesmo "nunca teve dificuldade nenhuma em obter capitais"

"Fossem de bancos, de empresas ou de particulares, nunca teve dificuldades. Havia um interesse no investimento. Prova disso foi a atração dos capitais internacionais", disse o arguido em 2015, justificando este interesse com o "sucesso dos 10 aumentos de capitais que foram feitos no BES desde 2002 até 2014”.

Ricardo Salgado falou também de holdings, referindo que também aí nunca houve problemas.

"Nunca tínhamos tido problemas. A gestão administrativa era feita à distância, de tal maneira que assinávamos as atas e as contas eram depositadas no Luxemburgo e durante 40 anos nunca ninguém nos disse que devíamos consolidar as contas, nomeadamente por parte das autoridades luxemburguesas".

A reprodução deste interrogatório não chegou a completar uma hora, sendo interrompida. A continuação da reprodução das declarações de Ricardo Salgado está prevista apenas para sexta-feira, uma vez que para quinta-feira está já calendarizada a audição do depoimento do antigo presidente do Conselho Superior do GES, comandante António Ricciardi, falecido em 2022, e a inquirição do filho e antigo presidente do BESI José Maria Ricciardi.

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