Por outro lado, há cada vez mais pessoas para alimentar no mundo – somos 7 mil milhões e em 2030 seremos mais de 8 mil milhões – e o consumo de peixe, que é vital na alimentação da população mundial, continua a crescer e sob pressão para crescer ainda mais.
Mas, se não mudarmos a forma como olhamos para os oceanos, o futuro que nos espera em 2030 é preocupante: o peixe pode faltar no mar, com reservas em rutura e espécies extintas, e por inerência, pode faltar à mesa.
O que nos leva a olhar para a bioeconomia azul – ou a economia do mar, se quisermos dizer de forma mais simples – e perceber que soluções estão a juntar empresas e cientistas.
Há várias décadas que alimentar os humanos sem destruir as reservas naturais de peixe tem sido possível através da aquacultura que cresceu 527% entre 1990 e 2018 contra "apenas" 14% de crescimento das pescas ao nível global.
Para colocarmos em perspetiva, em 1986, apenas 14 por cento do peixe consumido a nível mundial era de aquacultura; hoje, ela equivale a mais de metade de todo o peixe consumido (52%). Mas, num mundo em que cada vez mais nos preocupamos com a qualidade do que comemos, é necessário saber de onde vem o peixe e como foi tratado até nos ser servido.
Apesar de mais de metade do peixe que comemos ser "produzido" nas quintas do mar, a aquacultura é ainda alvo de dúvidas e epítetos. O mais comum é o de que "o peixe não sabe ao mesmo" por comparação com o peixe pescado no mar e que acreditamos comer fresco. O que, na verdade, implica capacidade do pescador para o conservar em condições de consumo e a capacidade de quem vende ao consumidor garantir que são cumpridas as regras.
Mas é um facto que, ao contrário do peixe dito selvagem, pescado no mar, os peixes de aquacultura são tratados com antibióticos, o que traz várias questões de saúde alimentar e mesmo de saúde pública, com a emergência de situações com bactérias resistentes que são hoje um desafio para a ciência.
O que poucos imaginam é a alternativa aos antibióticos sejam vacinas que, à data de hoje, têm lugar de uma maneira que quase não parece racional com os peixes a serem retirados, um a um do tanque, anestesiados, injetados e depois devolvidos à água.
Um processo caro e pouco eficiente que leva a que muitos produtores optem por antibióticos – que é precisamente o que o projeto FeedVax, da Argentina e um dos vencedores da edição de 2021 do programa Blue Bio Value promovido pela Fundação Oceano Azul e pela Fundação Gulbenkian, procura resolver através de uma vacina oral que é dada aos peixes juntamente com a ração, não deixando resíduos na água e protegendo das doenças.
Há também quem compare a aquacultura aos frangos de aviário porque a produção é acelerada mediante componentes colocados nas rações. Na verdade, é também por causa destas rações que se esgotam reservas naturais já que uma boa parte do peixe que se pesca serve para alimentar o peixe que nos é vendido. Basta pensar, por exemplo, que para se produzir um quilo de atum em aquacultura são necessários 10 quilos de peixe selvagem.
O que também implica novas opções. Usar insetos para fazer refeição para peixes é uma das alternativas que está a ser explorada e que Alessandro Romano, fundador da Ittinsect, trouxe até Lisboa no âmbito do Blue Bio Value.
Por último, o controlo do peixe pescado no mar, quer na origem e estado de conservação, quer nas espécies que são pescadas ou devolvidas ao mar. Esta é uma área onde a monitorização de toda a cadeia alimentar, da rede ao prato, é essencial e em que a tecnologia, nomeadamente de empresas portuguesas como a Sensefinity, pode dar uma ajuda.
Na Europa, há registos do cultivo de peixe desde a Idade Média – na altura em lagos à volta de castelos. A partir dos anos 80, a aquacultura europeia desenvolveu-se com fins comerciais, no Mediterrâneo (robalo e dourada) e na Noruega (salmão) — ainda hoje as regiões com maior produção na Europa. Ao nível mundial, a China é o maior produtor e também lidera no volume de pesca.
Comentários