A ideia da primeira universidade do mundo baseada em Blockchain, a Woolf University, teve um berço ilustre: nada mais, nada menos que um conjunto de professores oriundos da Universidade de Oxford, uma das mais prestigiadas em todo o mundo. Oxford é também uma universidade em que 80% dos investigadores tem um contrato temporário, o que torna as condições de contratação e a temática dos salários justos especialmente pertinentes como conta o El País.
Na Woolf University, a equipa administrativa será substituída por computadores que conseguem gerir toda a burocracia, o que vai também tornar possível diminuir custos, sendo as propinas dos estudantes usadas na totalidade para pagar aos professores. Ao usar a tecnologia na validação dos atos administrativos tornará, por outro lado, potencialmente impossível a falsificação de diplomas. O que significa que as contratações por títulos ou notas falsas podem ter os dias contados.
Joshua Broggi integrou a equipa fundadora da Woolf University há um ano e com ele estão mais treze colegas que pensaram não só em encontrar uma solução para este problema, mas aproveitar a ideia de partida para construir uma universidade totalmente suportada na tecnologia blockchain, a buzzword que todos os dias se torna cada vez mais presente e que permite gravar informações nos computadores em operações de custo mínimo, não permitindo eliminar ou alterar o que for escrito. Os dados ficam, assim, armazenados de forma segura e sem um mediador, aumentando a transparência de qualquer ação.
Aplicada ao ambiente de uma universidade tem várias consequências imediatas. A primeira, como já referido, é a chamada faca de dois gumes: permite uma redução substancial ou mesmo dispensa do pessoal administrativo, com o impacto inerente no emprego, sendo que ao mesmo tempo liberta orçamento para outros custos, nomeadamente os que se relacionam diretamente com o ensino. Tem também impacto nos custos associados à compra de equipamentos e manutenção da infraestrutura.
Segundo o relatório de 2017 da Comissão Europeia sobre a utilização de Blockchain na educação.pdf), esta tecnologia ainda não está na agenda dos projetos educativos nacionais porque os governos não conhecem as suas vantagens.
“Seria necessária uma conspiração global”
Alguns projetos piloto na Universidade Aberta do Reino Unido, na Universidade de Nicósia e no MIT alertam para o potencial desta tecnologia e para o impacto que teria face às universidades tradicionais, uma vez que com o blockchain seria possível verificar toda a vida académica de um estudante sem a necessidade de contacto com a instituição que emitiu o título.
Também na luta contra condições salariais mais dignas, a tecnologia de blockchain vem ajudar e não há notas ou títulos académicos falsificados, uma vez que fica tudo registado em tempo real em milhares de computadores espalhados pelo mundo, quer sobre os professores, quer sobre os alunos. “Qualquer alteração à vida académica de um estudante requer a cooperação dos milhares de computadores. As mudanças são praticamente impossíveis; seria necessária uma conspiração global”, explicou Broggi, diretor e fundador da Woolf University.
A Woolf University vai tentar, também, uma maior transparência nos processos de contratação dos professores. “Quando um professor pede um lugar como investigador, muitas vezes os comités reunem-se à porta fechada e aplicam critérios que não fazem parte do estipulado nas bases da convocatória. O mais importante é querermos mudar as políticas de contratação da universidade”, diz Joshua.
10 mil euros por ano de propinas
A Woolf University nasceu como uma plataforma online onde os professores oferecem conteúdo e os alunos podem ou não ser aceites, como em qualquer outra instituição. Com um modelo de ensino semelhante ao de Oxford, os alunos têm de desenvolver dois ensaios por semana e têm também uma aula personalizada com o professor uma hora por semana, onde fazem a revisão desses trabalhos. Ao contrário de outros cursos online, a Woolf não oferece vídeos com master classes, mas sim estas aulas direcionadas a cada aluno, sendo que todos os pormenores são combinados no site. A cada encontro — presencial ou online — tanto o professor como o aluno fazem um “check-in” através do telemóvel, para ficar um registo que não pode ser alterado.
Os custos para frequentar esta universidade rondam os 10 mil euros por ano. Cada sessão com os professores tem um valor de 121€, independentemente de ser feita presencialmente ou, por exemplo, através do Skype ou do Google Hangouts. O lançamento está previsto no final de 2018, estando agora a correr a fase beta do projeto, bem como a procura de financiamento. Em Dezembro surgirá a primeira faculdade — Ambrose —, com um total de 30 professores de Oxford.
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