Na página oficial do telescópio, gerido em parceria pelas agências espaciais europeia (ESA) e norte-americana (NASA), adianta-se que a descoberta acontece pouco tempo depois de ter sido revelada a presença de vapor de água em Ganimedes, outra das luas de Júpiter.

A análise de imagens de arquivo veio agora confirmar a presença de vapor de água em Europa, mas apenas num dos hemisférios, considerando-se que estas revelações vão permitir avanços na compreensão da estrutura atmosférica de luas geladas e lançar bases para futuras missões de exploração.

Usando a mesma técnica que permitiu detetar vapor de água na lua Ganimedes, um astrónomo conseguiu agora observar vapor de água num dos hemisférios de Europa, aquele que fica sempre do lado oposto à direção do movimento da lua.

A presença de vapor de água já tinha sido prevista em simulações informáticas, mas nunca tinha sido observada.

“A deteção […] é surpreendente porque as temperaturas à superfície são muito baixas”, disse Lorenz Roth, astrónomo autor do estudo que conduziu à descoberta, citado num artigo publicado na página oficial do telescópio Hubble.

A lua Europa, maior do que o planeta anão Plutão, tem uma superfície de gelo e temperaturas na ordem dos 170 graus Celsius negativos e os astrónomos acreditam que debaixo da camada de gelo da superfície se esconde um vasto oceano, havendo também cientistas que especulam sobre a possível existência de vida.

Para chegar à descoberta anunciada hoje, Roth analisou bases de dados do Hubble, selecionando observações ultravioleta de Europa de 1999, 2012, 2014 e 2015, quando a lua se encontrava em posições orbitais diferentes, que permitiram determinar a abundância de oxigénio – um dos elementos que compõem a molécula de água – na atmosfera da lua.

Ao interpretar a força das emissões em diferentes comprimentos de onda foi possível inferir a presença de vapor de água.

Observações anteriores de vapor de água na lua Europa tinham sido associadas a fenómenos comparáveis a géisers, mas a mais de 100 quilómetros de altitude, que formavam bolhas na atmosfera.

Os novos resultados, no entanto, mostram uma quantidade semelhante de vapor de água espalhada por uma vasta área visível nas observações entre 1999 e 2015, o que sugere uma presença a longo prazo de vapor de água na atmosfera do hemisfério da lua Europa que fica mais distante do planeta Júpiter.

Naquele que fica mais próximo não existe qualquer indício da presença de vapor de água, acrescenta-se no artigo publicado no site do Hubble.

Os cientistas que estão a investigar as luas geladas de Júpiter em breve vão poder beneficiar de observações próximas, prevendo-se que a missão da ESA JUpiter ICy moons Explorer (JUICE) às luas Ganimedes, Calisto e Europa – as três maiores luas geladas que orbitam o planeta – seja lançada em 2022 e chegue a Júpiter em 2031.

Na bagagem a JUICE leva alguns dos instrumentos e sensores mais avançados alguma vez usados na exploração do lado mais distante do sistema solar e vai passar mais de três anos em observações detalhadas do sistema Joviano.

A lua Europa também será objeto de estudo de uma missão da NASA, a Europa Clipper, que vai realizar uma série de sobrevoos sobre a lua e investigar a sua possível habitabilidade, assim como escolher um local de aterragem para uma futura missão.