Fundada na década de 60, a Intel é conhecida por desenvolver os microprocessadores que funcionam como o cérebro dos PCs. É uma das grandes empresas americanas, que pautou pela inovação e desenvolvimento tecnológico. Até 2017, era a líder incontestável do setor dos semicondutores.
Mas ser líder uma vez, não significa que o seja eternamente, como nos relembra a história, repleta de exemplos em que os titãs, por maiores que sejam, também caem com estrondo. A Nokia, a Kodak e a Blackberry são hoje sombras do que outrora foram.
Como recorda a Barchart, a Nokia dominou o setor dos telemóveis, mas perdeu a revolução dos smartphones; a Kodak era a Rainha da fotografia, mas negligenciou o digital; e a Blackberry inventou os smartphones, mas não conseguiu acompanhar as tendências do mercado. Agora, a Intel pode estar a começar a trilhar um padrão semelhante com a inteligência artificial (IA). Até porque como lembra a Vox e os eventos recentes sugerem, a Intel parece já não ser o que era.
O pior dia em 50 anos
O que se passou: a 2 de agosto, a Intel teve o pior dia em Wall Street em 50 anos. As ações caíram 26% e acabaram a ser negociadas ao preço mais baixo desde 2013 ($21.48 por unidade), de acordo com a CNBC. Resultado: perdeu 30 mil milhões de dólares em valor de mercado e há quem questione se vai conseguir ou não apanhar a concorrência.
O motivo para a queda: anunciou um prejuízo de 2.091 milhões de dólares no primeiro semestre (mais 61% que no mesmo período de 2023). Paralelamente, fez saber também que vai suspender a distribuição de dividendos em bolsa aos seus acionistas (que pagava desde 1992) e que vai acabar com 15% dos postos de trabalho da empresa (segundo informação pública tem 124,800 funcionários, ou seja, mais de 18 mil pessoas vão ficar sem emprego).
Estas medidas fazem parte de um plano de restruturação levado a cabo pelo CEO Pat Gelsinger, que espera poupar 10 mil milhões de dólares em custos no próximo ano.
Como é que chegamos aqui
Nos anos 90 e no início da década de 2000, a Intel superou a concorrência fornecendo os cérebros (chips) para os PCs da Microsoft (parceria que ficou conhecida como “Wintel”). Mas como explica a The Economist, o mundo mudou e a Intel não conseguiu acompanhar a evolução dos tempos. Por exemplo, como estava tão concentrada no fabrico de chips para computadores, perdeu a transição social que houve para os smartphones e outros gadgets inteligentes. A par, pelo caminho, foi ultrapassada pela Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC) e pela Samsung a nível de produção.
Mas, mais importante, é a sua aparente impotência na corrida pelo domínio na Inteligência Artificial (IA) que está a levar à narrativa de que pode estar a viver um “momento Kodak”. Segundo a Morning Brew, as grandes tecnológicas vão gastar mais de 100 mil milhões de dólares só este ano para construir infraestruturas de IA e precisam de chips. O pior é que estão a encomendar os ditos chips à potência do mercado: a Nvidia.
- As contas para motivos de comparação: a Nvidia faz 20 mil milhões de dólares em chips de IA por trimestre; a Intel vai vender 500 milhões de dólares durante todo o ano.
O futuro
Como nota a Vox, mesmo coxa e com a Nvidia a dominar o mercado, a Intel vai continuar a ser umas das empresas mais importantes do setor e vai contar com algumas bóias de salvamento.
Além do dinheiro poupado com os despedimentos e a pausa nos dividendos devem melhorar os próximos resultados, há ainda os subsídios governamentais da Lei dos CHIPS aprovada pela Administração Biden — a Intel vai receber até 8,5 mil milhões de dólares, mais do que qualquer outra empresa americana, para a ajudar a construir fábricas nos EUA e diminuir a dependência externa.
A questão agora é perceber se esta aposta na IA chega a tempo e a Intel ainda apanha o comboio ou se vai ficar definidamente para trás. É que a Nvidia domina de longe o mercado, mas, no que diz respeito aos chips utilizados para treinar os modelos estilo GPT, entre novas startups e empresas, a concorrência é maior do que nunca.
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