“Os adeptos são o melhor ativo de um clube”, disse Gian Luca Vialli, ex-futebolista e ex-internacional italiano e co-fundador da Tifosy , na Web Summit durante o painel “The 21st century fans club”. Por isso “devemos ajudar os clubes a terem uma verba para melhorar esse melhor ativo”.
“Os fãs devem ter uma palavra a dizer nos clubes e devem ser parte das decisões. Os clubes tratam-nos demasiado como clientes”, reforçou Fausto Zanetton, da Tifosy, empresa que angaria fundos para clubes, de futebol mas não só, e que dá vida às ideias dos fãs espalhados ao nível mundial, suportando-as financeiramente. “Fazemos crowdfunding, um fanfunding, para dar asas a quem tem uma ideia para o seu clube, resultando numa situação em todos ganham”.
Numa viagem pelo tempo, Vialli, que representou o Sampdoria, Juventus e Chelsea, recordou “30 anos do melhor trabalho do mundo” durante os quais teve “50% prazer” e “50% esforço que valeu a pena”. Viveu uma vida à volta do futebol e quer deixar um legado a “este jogo eletrizante”, mas que vive, por vezes, “desligado dos fãs e enfrenta uma disparidade financeira entre clubes”, sublinhou.
Fazendo um paralelismo entre os dois países onde jogou, Itália e Inglaterra, Vialli falou sobre as diferenças: “O futebol inglês está limpo, em Itália, quando perdes a culpa é do árbitro”. Em Inglaterra há “alegria” enquanto a “crença” reina no futebol italiano. Os adeptos ingleses “querem ver esforço”. Aos italianos só “o resultado interessa”, sendo que o jogo “perfeito termina 0-0”, sorriu. Ao invés, em Inglaterra, “quatro equipas podem lutar pelo título”. Entre elas está o Chelsea, onde jogou e que atualmente é treinado por Antonio Conte. “
“Conte está a fazer um trabalho fantástico. Mudou o sistema e a atmosfera que se vive à volta”, afirmou. E por falar em atmosfera, GianLuca Vialli recordou o melhor momento que viveu num estádio. “Foi com a camisola do Sampdoria, em Wembley, quando defrontamos o Barcelona (1992)”. Os italianos perderam e Vialli chorou “durante uma semana”.
Mais tarde, na conferência de imprensa, Vialli relembrou o que o levou, na primeira instância, a envolver-se como investidor e tornar-se co-Fundador da Tifosi.
"Penso que temos que ser realistas, eu devo tudo ao futebol e tem sido a minha vida e a minha profissão durante 35 anos. Comprei a minha primeira casa e carro graças ao futebol". Continuou dizendo que "sempre procurou ideias" para tornar o futebol melhor.
Este projeto, disse, permitiu fazer exatamente isso. Mais: sentiu que era o timing certo. "Achei a ideia pioneira e decidi envolver-me".
Numa altura em que as SAD's de muitos clubes passam por problemas financeiros, Vialli sente que a Tifosi vem no "timing perfeito" e que desta forma os associados e adeptos podem, efetivamente, estar presentes e ao lado dos clubes que apoiam.
"Um dos grandes problemas do futebol atual é que os clubes não são sustentáveis". E a aplicação, diz, pode ser uma opção a considerar para contornar esta questão.
E qual vai ser o seu papel na Tifosi no dia-a-dia? Vialli foi "investidor e co-fundador" e adora trabalhar com Fausto e com o resto da equipa. "Aprendo muito com eles", garantiu.
Adiantou que o seu papel passa muito pelo seu conhecimento da "realidade dos clubes e do que se passa nos bastidores. E isso é importante para mim. Eu conheço as pessoas e o meio. Digo ao Fausto quando é a altura apropriada ou quem com quem falar no momento certo", disse.
Mas Vialli é um homem do futebol e continua ligado ao desporto como comentador no canal Sky Italia. E, já que o menciona e estando em Portugal, não escapa a perguntas sobre se conhece o trabalho de Paulo Sousa.
"Sou seu amigo pessoal, gosto muito dele e adoro a maneira como ele aborda e joga futebol. Como treinador é muito conhecedor, apaixonado e tem-se saído bem na Fiorentina. A equipa tem um futebol bonito e elegante. E só tende a ficar melhor com o tempo", concluiu.
Porém, Paulo Sousa não foi o único português a ser mencionado. Sobre João Mário, jogador que trocou o Sporting pelo Inter de Milão no último defeso, o ex-jogador italiano considerou que o momento de instabilidade do clube que representa não é "o melhor" para qualquer jogador que se está a adaptar a uma nova realidade, mas que tem uma qualidade "inequívoca".
No final, questionado sobre quem sairá vencedor da próxima edição da Bola de Ouro, Vialli considera o português Cristiano Ronaldo como principal favorito.
"Messi andará sempre na corrida, seja qual for o desfecho na entrega do prémio, ainda que Ronaldo seja o 'top contender'. Mas, pessoalmente, votaria no Buffon, sendo que é suspeito porque sou italiano. E o prémio devia de ser relativamente à época desportiva e não ao ano civil", esclareceu.
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