“Estamos à espera de que saiam daqui pessoas formadas para admitirmos. Acho que vamos crescer até 50 pessoas. É este o número que entendemos que poderá ser útil às empresas”, adiantou, em declarações à agência Lusa, na Praia da Vitória, Luís Sousa, da ACIN - iCloud Solutions.
O projeto Terceira Tech Island, do Governo Regional dos Açores, quer criar na ilha Terceira um ‘hub’ de empresas ligadas à programação e às novas tecnologias, cedendo instalações e habitações às empresas que se queiram instalar no concelho da Praia da Vitória.
Em fevereiro, 20 alunos concluíram o primeiro curso de formação avançada em programação informática, a cargo da ‘start up’ Academia de Código e financiado pelo Governo Regional. O segundo curso terminou em julho e o próximo inicia-se dentro de uma semana.
Até ao final de 2019, o executivo açoriano estima que aumente para 200 o número de programadores integrados no projeto Terceira Tech Island.
A ACIN contratou cinco jovens da primeira formação. Todos eram naturais da ilha Terceira e estavam desempregados antes de se inscreveram na Academia de Código.
A empresa mãe, sediada na Madeira há 20 anos, com 245 funcionários e cerca de 97 mil clientes, decidiu abrir uma nova empresa nos Açores, destinada em específico ao desenvolvimento de soluções para dispositivos móveis para as plataformas de que já dispõem.
Segundo Luís Sousa, o que atraiu a ACIN ao arquipélago vizinho foi a possibilidade de encontrar novos talentos na programação, uma área em que se estima que faltem “um milhão de profissionais” na Europa.
Além da ACIN, estão já instaladas, em sedes provisórias, outras cinco empresas ligadas à programação na Praia da Vitória.
Quase todos os alunos dos dois cursos de programação foram contratados por estas e por outras empresas ligadas à área e há até quem continue a receber propostas de emprego, apesar de já estar a trabalhar.
“Eu falo por mim e por uma parte dos meus colegas, com alguma frequência recebemos pedidos de entrevistas no Linkedin. Existe algum assédio neste sentido”, adiantou João Lobão, contratado pela ACIN.
Formado em Geografia, não encontrou trabalho da área e agarrou a oportunidade da Academia de Código, apesar de considerar no início que o resultado prometido era “bom demais para ser verdade”.
Hoje trabalha num jogo educativo para telemóveis sem sair da terra onde nasceu: “Nós só precisamos de um computador para trabalhar e fazemos tudo à distância”.
Luís Serpa, formado em energias renováveis pela Universidade dos Açores, frequentou o mesmo curso de programação e passados dois meses começou a trabalhar na Bool, empresa de consultadoria em tecnologias de informação, a partir da Holanda.
Desde julho que está na Praia da Vitória, onde a empresa se instalou e contratou outros cinco programadores, estimando aumentar o número de funcionários para 10 “até ao final do ano”.
Para Luís Serpa, a programação “é um universo à parte” e “tem muitas condições para crescer”.
“Eu demorei dois meses até arranjar trabalho, mas os colegas que saíram agora em menos de uma semana já estava quase todos abrangidos”, frisou.
Em cada curso do Terceira Tech Island surgem cerca de 150 candidaturas, mas só 20 passam à fase final, após uma seleção rigorosa, e a formação de três meses e meio é exigente.
“É muito difícil, até mesmo para quem já sabe informática”, adiantou Dário Ávila, ex-economista, que agora se divide entre a Terceira e Viena, na Bring, que criou uma empresa na Praia da Vitória direcionada para a banca.
À semelhança de muitos dos colegas, Dário estava desempregado quando decidiu inscrever-se na Academia de Código, sem grandes expectativas.
“Quando eu entrei, não estava a pensar na vertente profissional, era mesmo só para aprender mais linguagens de programação e de forma consistente”, explicou.
Foram três meses e meio de trabalho intensivo, mas saiu pronto a começar a trabalhar numa área que oferece “bons salários”, entrada nos quadros e “condições muito acima da média”.
“Já me aconteceu várias vezes estar no banco às 20:00, muito depois da minha hora de saída, e o meu chefe dizer: o que é que estás aqui a fazer? Vai para casa”, contou.
Nem só de histórias de desemprego se enche a Academia de Código na Praia da Vitória. Alfredo Faria divide-se hoje entre a programação na Bring, onde trabalha ao lado da esposa, e a meteorologia aeronáutica, na Força Aérea portuguesa, na base das Lajes.
Por enquanto, tem conseguido conciliar as duas áreas, mas admite que a programação “é um mercado emergente” e “uma aposta no futuro”.
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