A ideia, explicou a responsável do projeto, Pauline Foessel, em declarações à Lusa, é “haver um sítio onde os curadores possam partilhar trabalho e estabelecer ligações, isso na perspetiva de iniciarem colaborações”.
Foi em Hong Kong, onde esteve a trabalhar para uma fundação privada de arte, que Pauline Foessel entendeu “o papel do curador a sua importância, para fazer a ligação entre os artistas e o público”.
“Percebi que ainda não havia nada ‘online’ dedicado aos curadores, que têm um papel muito importante e que a maioria do público desconhece – o curador dá uma leitura de obras de artistas e faz este ‘link’ invisível entre as peças, os artistas, os conceitos, para que público entenda o trabalho”, contou.
Na Art Curator Grid, os curadores poderão “fazer ‘posts’ sobre exposições, partilhar textos curatoriais, pesquisar artistas, ver o que os outros curadores estão a fazer, qual o ângulo para falar sobre um conceito ou um tema”.
Esta plataforma irá funcionar “um pouco como o Facebook”, sendo necessário estar-se registado — o registo é gratuito – para conseguir aceder a informações partilhadas.
Para já, está disponível ‘online’ a versão preliminar, que “ainda não tem todas as funcionalidades”, faltando, por exemplo “a caixa de troca de mensagens”. Entre outras coisas, a plataforma irá também incluir um calendário, “para divulgação de exposições”, e também um mapa, “para, quando se visita determinada cidade, saber onde há exposições dos curadores inscritos na plataforma”.
Apesar de ter sido criada a pensar nos curadores de arte, a Art Curator Grid é “também aberta a ‘viewers’, pode ser uma instituição, uma galeria ou só uma pessoa que gosta de ver conteúdos curatoriais”.
Na segunda fase, a Art Curator Grid irá “disponibilizar serviços para curadores, para tentar ajudar a fazer viajar as exposições”, mas também para “empresas, galerias ou colecionadores privados que procurem curadores”. “Podemos nós sugerir um curador para a determinado projeto”, referiu Pauline Foessel, acrescentando que “esse serviço será implementado rapidamente”.
Numa outra fase, “que vai demorar mais tempo”, a Art Curator Grid irá “fazer a ligação entre curadores e colecionadores privados, para empréstimo de peças para exposições, o que facilita o processo que hoje acontece”.
“Um curador vai à plataforma pesquisa um artista e tem uma lista das peças que podem ser emprestadas. E a Art Curator Grid trata de tudo”, explicou.
Além da plataforma ‘online’, a Art Curator Grid tem também um espaço físico, no bairro da Lapa, em Lisboa, “que não é uma galeria, porque não está aberta para vender”.
Nesse espaço, “o sentido é pôr o foco no papel do curador e convidar curadores para fazerem coisas um pouco diferentes”.
Para inaugurar o Art Curator Grid Lab, Pauline Foessel convidou o curador de arte e diretor do Instituto Camões em Paris, João Pinharanda, a quem deu “carta-branca”.
Por sua vez, João Pinharanda convidou a artista plástica Clara Saracho de Almeida, de 28 anos, cujo trabalho conheceu nas pesquisas que faz para “conhecer os artistas que estão em Paris e dar apoio” aos que considera “interessantes”.
“Isto tinha que ter uma intervenção adequada ao espaço, que a Pauline não quer assumir como galeria, e quando vi a exposição da Clara — ‘À moi jouer’, patente até sábado na art.exprim, em Paris — começámos a trabalhar numa ideia”, contou João Pinharanda à Lusa.
O curador achou que “seria interessante dar esta oportunidade” à artista e que “fazia sentido que a pessoa que fosse escolher fosse alguém que estivesse lá [em Paris] e não fosse conhecido em Portugal”.
Clara Saracho de Almeida “partiu da exposição de Paris e tornou a coisa mais abstrata, mais conceptual”.
A artista plástica, que em 2013 trocou a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto pela de Paris, depois de um Erasmus na capital francesa, onde concluiu o curso há um ano e meio, expõe pela primeira vez em Lisboa, depois de Bruxelas, Tóquio ou Guimarães.
Clara Saracho de Almeida trabalha “muito com o espaço e no espaço”. “Não gosto de fazer as obras no atelier e colocá-las, acho muito importante o trabalho manual e estar fisicamente no espaço”, contou à Lusa.
A artista cria “instalações em vários materiais” e, no Art Curator Grid Lab, quando falou com a Lusa, estava a fazer “cavaletes e estiradores, a trabalhar em madeira, pinho”.
A mostra em Lisboa começou pela exposição que tem patente até sábado em Paris, que teve como inspiração Vilarinho das Furnas, uma aldeia no Gerês que ficou submersa devido à construção de uma barragem. “Não queria ilustrar a história de Vilarinho, mas algo que me diz esse espaço e como poderia traduzir a fragilidade desse espaço numa instalação”, disse.
“Levantado do Chão”, de Clara Saracho de Almeida, pode ser visitada entre segunda-feira e 28 de junho, sob marcação, ou quando a porta do Art Curator Grid Lab estiver aberta.
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