Desde que a internet começou a mudar a nossa vida que a promessa estava lá. Comprar online seria, a prazo, um ato tão natural quanto o de entrar numa qualquer loja. E desde essa altura — há quase 30 anos — que ouvimos repetidamente que quanto mais pessoas estivessem online de forma regular maior seria o potencial das vendas nesse canal. Foi essa a aposta ganhadora da Amazon desde 1994 com os resultados que se conhecem e que fazem com que seja hoje uma das empresas mais valiosas do mundo a par de outros gigantes como a Microsoft Apple ou Google. Atualmente, 76% da população portuguesa utiliza a internet e 38% faz compras online (dados do Estudo da Economia Digital da Acepi e IDC).
Mas, nos últimos anos, um processo que foi lento e desconfiado durante quase duas décadas, começou a acelerar significativamente. Porquê? Por causa das redes sociais que democratizaram a utilização da tecnologia e por causa dos smartphones que se tornaram assistentes pessoais para quase tudo na nossa vida. Hoje pedir transporte, encomendar refeições ou reservar uma viagem é um ato que cada vez mais pessoas fazem de forma mais ou menos intuitiva utilizando as suas aplicações favoritas para esse efeito ou pesquisando online. Por último, também as barreiras associadas ao pagamento e à natural desconfiança de utilização de dinheiro online estão a reduzir-se mediante novas ofertas e novas empresas que associam tecnologia e soluções financeiras.
E, voltando aos números, eles mostram que tudo isso está a acontecer no mundo e que Portugal não é e não será exceção. De acordo com o Estudo da Economia Digital em Portugal relativo a 2017, realizado pela ACEPI em parceria com a IDC, o comércio eletrónico vale 75 mil milhões de euros no nosso país. A fatia de leão está nas compras entre empresas (B2B) com mais de 70 mil milhões, cabendo ao consumo ou B2C 4,6 mil milhões de euros. Ambos os segmentos estão a crescer acima dos 11 % e em 2025 deverão representar, respetivamente, 4,2% e 62,5% do PIB.
O que falta saber é quão rápido será esse crescimento e quem irá liderar esse novo território já que não há vencedores à partida numa economia que forçosamente tem de se reinventar. Até porque, olhando exclusivamente para a realidade nacional, o que sabemos é que 90% dos portugueses recorre a sites estrangeiros para fazer compras online, logo há muito espaço a disputar.
Com este cenário como pano de fundo não será de estranhar que a 2ª edição do E-Commerce Connect, que se realizou a 30 e 31 de janeiro em Sintra, tenho esgotado. Sala cheia para ouvir falar especialistas, empresas que trouxeram a sua história e experiência e, claro, tecnólogos que estão a desenvolver soluções em várias frentes do negócio. O que mais preocupa e desafia as empresas? A julgar pelo programa e pela participação: métricas e sistemas de pagamentos. E foram precisamente nestas duas áreas que estiveram em Portugal três empresas com novidades fresquinhas à data do evento: Contentsquare, Gowento e Adyen.
Comecemos pela Contentsquare que aterrou em Lisboa dias depois de ter fechado um financiamento de 42 milhões de dólares. A empresa disponibiliza um software que ajuda as empresas a perceber como é que os utilizadores estão interagir com as suas aplicações e sites. O serviço prestado oferece mais que “simples” métricas, garantiu o CEO Jonathan Cherki em entrevista ao Techcrunch, explicando que o fazem permite traduzir informação de comportamento em indicações concretas que potenciem maior conversão ou engadgment dos clientes. São milhões e milhões de cliques em milhões e milhões de páginas seguidos à lupa por uma tecnologia que rastreia e interpreta os dados das empresas clientes, estando presente em 191 países. A premissa é simples: já não basta saber como as pessoas estão a usar as plataformas digitais, é preciso perceber o que fazer para melhorar ou corrigir a experiência que têm enquanto utilizadores. Entre os clientes da Contentsquare estão nomes como Carrefour, Walmart, Goldman Sachs, Laboratórios Abbott e AccorHotels.
A Gowento é uma startup francesa focada nos processos de pagamento nas plataformas móveis e que foi comprada em novembro de 2018 pela Splio, uma tecnológica fundada em 2001 e com serviços de fidelização e gestão da experiência dos clientes nas diversas plataformas. A compra da Gowento é melhor explicada nas palavras do seu fundador: “O smartphone é hoje o principal ponto de interação entre uma marca e os seus consumidores e mais precisamente ainda os seus clientes. Com 2,5 milhões de apps disponíveis no mercado e uma média de 12 usadas regularmente por cada utilizador, o smartphone tornou-se uma prioridade na estratégia de CRM das marcas. Fizemos a Gowento para responder a este desafio usando apps que já estão disponíveis nos smartphones cimo Apple Wallet ou Google Pay”, explicou CEO, Rabye Marouene.
Há um ano, um dos gigantes no e-commerce mundial, a eBay anunciou que iria optar por outra empresa como parceiro preferencial de pagamentos, um lugar até aí ocupado pela PayPal. A empresa chamava-se Adyen, é oriunda da Holanda e também esteve no E-Commerce Connect a partilhar a sua história. A eBay explicou a sua opção pelo facto de a tecnologia da Adyen permitir aos vendedores na plataforma de leilões ter uma visão mais completa da sua informação e gerir e rastrear todas as trações e interações com clientes. Ser mais barata em termos de custo também ajudou, claro.
O que estas três empresas têm em comum é o facto de o serviço que prestam espelhar a procura constante de novas e melhores soluções. Em 2019, pagamentos e métricas continuarão a ser temas dominantes mas, como também sublinhou Cristina Fonseca, fundadora da Talkdesk e convidada já na qualidade de sócia da Indico Partners, conteúdo é em 2019 também uma das palavras-chave de sucesso no e-commerce. A integração destas frentes com temas que passam por Internet das Coisas, Inteligência Artificial e realidade virtual tornam o cenário do ecommerce um dos principais palcos da inovação a nível global.
É neste cenário de tempos interessantes que Vasco Moreira, João Leitão e Gonçalo Mendes, os promotores do E-Commerce Connect, se propõem continuar a estimular a partilha de informação e o conhecimento das soluções que existem.
"No fundo, a grande diferença do E-Commerce Connect para outros eventos de outras áreas é o facto de estarmos focados no online e no digital e promovermos reuniões de um para um entre os responsáveis de lojas online e os responsáveis de cada solução. Ou seja, previamente ao evento cada pessoa vai ter acesso a uma forma de dizer quais são as empresas com que gostaria de falar e nós conseguimos fazer uma agenda de reuniões", explica Gonçalo Mendes ao TNBI.
Se em 2018 o sucesso da iniciativa os apanhou quase de surpresa, este ano já não têm dúvidas que a fórmula é de repetir — e ainda em 2019, com uma terceira edição em junho de 2019, no Porto.
Antes disso, vamos poder ver e ler entrevistas à Contentsquare, Gowento, Adyen e DHL aqui e nos ecrãs da SIC Notícias. Até lá.
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