A história foi escrita por Danny Robins, premiado autor e criador do podcast de sucesso da BBC “The Battersea Poltergeist”. Com o nome em português "2:22 Uma História de Fantasmas", este é um dos maiores sucessos dos últimos tempos em West End, o bairro de teatro de Londres.
A versão portuguesa conta com encenação de Michel Simeão e é protagonizada pelos atores Ana Cloe, Joana Seixas, João Jesus e Pedro Laginha. No Reino Unido, o espetáculo continua a esgotar salas e recebeu o prémio de Melhor Peça de Teatro em 2022 nos WhatsOnStage Awards, tendo também sido nomeado para Melhor Peça de Teatro em 2022 nos Olivier Awards, os prémios atribuídos pela Society of London Theatre, que reconhecem a excelência no teatro profissional britânico.
A história, de acordo com a produtora Força de Produção, passa-se num momento em que Joana acredita que a sua nova casa está assombrada, mas o marido Samuel recusa-se a aceitar que os acontecimentos estranhos que têm ocorrido ultimamente estão relacionados com fenómenos sobrenaturais.
Quando recebem Laura, amiga de longa data, e o seu novo namorado, Quim, para jantar, a história complica-se e começam a surgir questões como: poderão os mortos regressar ao mundo dos vivos?
Depois disso, e para descobrirem a verdade, os quatro amigos vão ter de ficar acordados até às 2:22.
Em entrevista ao SAPO24, uma das protagonistas deste thriller, Joana Seixas, Laura, sublinhou que este sucesso londrino tem corrido muito bem no teatro fundado por Raúl Solnado. "O público tem sido muito recetivo. Isto porque este é um espetáculo muito transversal em termos do alcance do público. Portanto, tanto alcança um público que está mais habituado a ir ao teatro, como pessoas que infelizmente não vão ao teatro. Isto acontece porque este é um texto muito bem escrito, com um plot muito bem pensado que agarra os espetadores até ao fim, porque a pessoa entra e já não vai pensar em mais nada", diz a artista.
Sobre o que é um thriller sobrenatural, a atriz começa por relevar que estes são textos que "normalmente não vão para o teatro", porque "não é muito fácil falar sobre esta temática numa sala de teatro, em que as coisas se veem na realidade e não há efeitos especiais nem fantasmas. Ou seja, tudo o que acontece somos nós ali em cena que vamos fazer e produzir", diz.
Acrescenta também que "é sempre algo bastante arriscado. Porém, o facto do texto estar extremamente bem escrito e conduzir o pensamento do espetador para um determinado objetivo, sendo que depois há várias coisas inesperadas ao logo do espetáculo, faz com que se consiga criar a ideia de um thriller sobrenatural".
"Numa sala de teatro, não há efeitos especiais nem fantasmas. Ou seja, tudo o que acontece somos nós ali em cena que vamos fazer e produzir"
Sublinha igualmente que este é um espetáculo "que põe em confronto o nosso lado racional com as nossas crenças irracionais". Dá depois o exemplo do caso da personagem de Pedro Laginha, Samuel, que é o dono da casa onde se passa a ação, juntamente com a mulher, interpretada pela Ana Cloe, Joana na peça: "Neste caso, ela é educadora de infância e ele é astrofísico, portanto ele tem a teoria toda científica para dar resposta aos fenómenos sobrenaturais que se passam naquela noite, mas existem coisas para as quais não temos resposta, porque não temos resposta para tudo".
O objetivo da peça é assim brincar com a ideia que não se consegue explicar tudo, algo que segundo Joana Seixas "depende de cada pessoa e do seu percurso de vida e crenças".
"Existe [em palco] um confronto sobre o sobrenatural. Vão acontecer coisas naquela casa, umas mais explicadas do que outras, e elas vão parecendo quase como respostas para outras, mas não posso revelar muito mais", adianta.
"É um thriller psicológico, ou seja, são várias conversas e uma tentativa do autor de nos levar para um caminho, dar respostas e de nos surpreender sobre outras coisas que nós não temos respostas para dar"
"Este é um espetáculo que se deve ver, ponto final", diz a atriz. "Existe uma base escrita com muito sentido de humor, portanto não é um espetáculo ultradramático, apesar de ter um bocadinho de drama, mas é todo contado com grande sentido de humor", sublinha.
Acrescenta também que "quem não gosta de filmes de terror pode ir ver este espetáculo". Isto porque, segundo a artista, "mesmo pessoas que foram ver e que não estavam à espera de apanhar um susto ou outro, convém dizer que existem, o que pode ser entusiasmante, adoraram. É bastante soft, mesmo para quem não gosta de filmes de terror. Não é um espetáculo de terror, é um thriller psicológico, ou seja, são várias conversas e uma tentativa do autor de nos levar para um caminho, dar respostas para um caminho e de nos surpreender sobre outras coisas que nós não temos respostas para dar".
Sobre a idade ideal para ver o espetáculo, apesar de estar aconselhado para maiores de 14 anos, Seixas diz que pode ser visto "a partir dos 12, mas depende da criança, tem é de ser bem enquadrada a ida dessa criança ao teatro. Todas as crianças que foram ver adoraram, mas as crianças têm muito menos medo do que os adultos", ressalva.
Sobre a presença do teatro de terror em Portugal, a artista afirma que "o público ainda se está a habituar". "Michel Simeão, o nosso encenador, trouxe para Portugal as primeiras experiências com terror. Já é algo comum em Londres e Nova Iorque, há muitos anos, por aqui está a crescer", conta.
"Dentro das várias valências do teatro, o terror enquadra-se perfeitamente, mas claro, há mau terror e bom terror e a história tem de ser bem escrita e bem fundada e o espetador vai gostar. No caso deste espetáculo, é entretenimento puro, não é suposto ouvirem-se grandes teorias, mas deixa-nos a pensar sobre os nossos medos e crenças", assegura.
No mesmo tópico acrescenta ainda: "É mais um thriller do que terror. Não é o videoclipe do Michael Jackson com zombies, mas tudo isso é falado em palco. Fica aberta a porta do sobrenatural".
"Este espetáculo é entretenimento puro. Não é suposto ouvirem-se grandes teorias, mas deixa-nos a pensar sobre os nossos medos e crenças"
No que diz respeito à preparação para encarnar uma personagem que aborda o mundo sobrenatural, revela que não foi necessária muita, "porque as nossas personagens são reais e são pessoas que têm uma vida e se encontram para jantar como amigas".
"A minha personagem tem uma visão muito específica sobre o sobrenatural, que é ter dúvidas, apesar dela ser psicóloga e ser uma pessoa que estude o comportamento humano, algo que eu tento desmontar um pouco, porque existem muitos psicólogos que não estão bem psicologicamente e ela não está bem. Isso não significa que ela não faça bem o seu trabalho, mas é uma mensagem do autor, num mundo em que todos temos contacto com a terapia", detalha.
Acrescenta também que o trabalho que fez "foi mais relacionado com o facto da minha personagem ser alcoólica e foi nesse sentido que trabalhei a minha pesquisa, na atuação das pessoas com comportamentos aditivos".
Uma vez que o objetivo do autor do texto é "colocar quatro pessoas diferentes com visões distintas sobre esta temática", o facto é que "em algum momento o espetador vai identificar-se com alguma das personagens, porque os personagens vão de um espectro ao outro, desde o que acredita até ao que não acredita de todo, e no meio as duas mulheres, que fazem mediação".
"Todos os dias fazemos uma peça diferente e essa é a riqueza do teatro, se não podia-se ver um filme estático no tempo"
"A discussão sobre acreditar e não acreditar acontece em cena. Aquilo que as pessoas nos dizem é que estavam a ver e queriam entrar para discutir connosco, por isso claramente as pessoas identificam-se", acrescenta.
Um dos principais objetivos do teatro é "trazer para o espaço público o questionamento da vida" e, neste caso, diz Joana Seixas, esta é uma "representação naturalista de pessoas normais na sua vida. São pessoas a experienciar uma série de coisas e a falar sobre essas experiências".
De referir ainda que "todos os dias fazemos uma peça diferente e essa é a riqueza do teatro, se não podia-se ver um filme estático no tempo. É uma relação direta com o público e o espetador imprime uma reação naquele dia".
O espetáculo '2:22 Uma História de Fantasmas' está em cena no Teatro Villaret, em Lisboa e, juntamente com outras peças da produtora Força de Produção, integram uma campanha de natal, com desconto no valor dos bilhetes, bilhetes até 6 de janeiro.
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