O espetáculo de dança é estreado na sexta-feira, pela Companhia Olga Roriz, e pode ser visto até domingo, no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, onde terá apresentações diárias.
Em entrevista à agência Lusa, durante ensaios no São Luiz, a coreógrafa explicou que o título nada tem a ver com a autópsia que as pessoas imaginam, mas com o que a palavra significa em grego: a “visão de nós próprios”, e é essa reflexão que a criadora quis fazer.
Este trabalho começou por uma inquietação e uma eleição do corpo e do movimento até chegar a algo maior: “Quando pensei na origem do ser humano, pensei, ao mesmo tempo, na origem do planeta e dos seus problemas. Isso acabou por se cruzar com esta visão interior e de como nós, seres humanos, individualmente e coletivamente, podemos ir testando a forma como estamos na Terra”.
A emergência climática, a poluição e o consumo desenfreados são alguns dos temas que a coreógrafa aborda nesta nova peça, assuntos complexos vertidos para o palco através do movimento.
“A dança é uma arte ambígua, uma arte do gesto, mas foi ao longo de um grande percurso e pesquisa sobre o estar do ser humano nesta grande casa, que surgiu esta reflexão”, disse a coreógrafa à Lusa.
O corpo foi o refúgio encontrado por Olga Roriz nesta criação: “É o lugar de salvação possível”, sublinhou.
Até a construção do próprio espetáculo, sem palavras – ao contrário do que costuma acontecer nas suas coreografias – “é um lugar do corpo, e é muito mais verdadeiro na sua fragilidade, mas também na força dos intérpretes”.
“É nessa força e energia que se nota a fragilidade de cada um, o cansaço, a luta, as dores de cada um, para chegar ao fim do espetáculo”, conclui Olga Roriz.
A interpretação é dos bailarinos André de Campos, Beatriz Dias, Bruno Alves, Catarina Câmara, Marta Lobato Faria e Yonel Serrano.
A conceção vídeo é de Olga Roriz e de João Rapozo, a seleção musical de Olga Roriz, João Rapozo e Bruno Alexandre, a cenografia e figurinos são também de Olga Roriz e de Ana Vaz, e o desenho de luz é de Cristina Piedade.
Sobre o percurso de “Autópsia”, depois da estreia no São Luiz, haverá uma paragem, segundo a coreógrafa, porque tem de retomar, em novembro, um novo trabalho, intitulado “Seis Meses Depois”, para apresentar em abril, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.
Em 2020, levará “Autópsia” a Viana do Castelo – terra natal da coreógrafa, cujo município participou na produção, com o São Luiz – e depois a companhia fará uma digressão a cidades de norte a sul para apresentações.
Em 2015, Olga Roriz assinalou 20 anos da companhia em nome próprio e 40 anos de carreira, com a revisitação da peça “Propriedade Privada” (1996), no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.
O seu repertório na área da dança, teatro e vídeo é constituído por mais de 90 obras.
Criou e remontou peças para o Ballet Gulbenkian, Companhia Nacional de Bailado, Ballet Teatro Guaira (Brasil), Ballets de Monte Carlo, Ballet Nacional de Espanha, English National Ballet, American Reportory Ballet e Alla Scala de Milão (Itália).
Nascida em Viana do Castelo, em 1955, Olga Roriz estudou ballet clássico e dança moderna com Margarida Abreu e Ana Ivanova, ingressou na Escola de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa e tornou-se primeira bailarina do Ballet Gulbenkian, onde foi depois convidada a coreografar.
Em 1995, viria a criar a Companhia Olga Roriz, atualmente instalada no Palácio Pancas Palha, cedido pela Câmara Municipal de Lisboa.
O seu repertório na área da dança conta, entre outras, com as peças “Pedro e Inês”, “Inferno”, “Start and Stop Again”, “Propriedade Privada”, “Electra”, “Os Olhos de Gulay Cabbar”, “Nortada”, “Jump-Up-And-Kiss-Me”, “Pets”, “A Sagração da Primavera”, “Antes que Matem os Elefantes” e “Síndrome”.
Foi distinguida com a insígnia da Ordem do Infante D. Henrique (2004), Grande Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores (2008) e o Prémio da Latinidade (2012), entre outros prémios.
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