Fundado por Filipe Valle Costa, que divide atualmente a direção artística com Diogo Martins, o projeto arrancou em Nova Iorque, onde os dois atores viviam, e aí foi desenvolvendo várias colaborações e projetos com artistas nacionais.
Valle Costa começou a trabalhar na série da FX “Snowfall” em Los Angeles, e “do nada a vida vira”, como contou à Lusa. “Viemos logo para cá, e filmei aqui durante dois anos, e também falávamos sobre o teatro estar em Nova Iorque e o cinema e televisão em Los Angeles”, revela.
Perante esta separação, pensaram que a nova cidade “talvez precise de mais teatro, de mais interação humana”, até perante a “grande dificuldade de uma companhia se realçar em Nova Iorque, onde há tanto, tanto, tanto teatro”.
No contexto da primeira produção original, “My Favorite Suicide”, que vão estrear em outubro em Los Angeles, ao lado do dramaturgo Mickael de Oliveira, Filipe Valle Costa explica que esta é a missão original do projeto.
“A Saudade sempre foi isto, sempre tivemos na nossa mente não propriamente uma companhia de teatro de museu, para mostrar o teatro português aos americanos, mas muito mais criar uma ponte entre artistas norte-americanos e portugueses através do teatro”, considera, em entrevista à Lusa.
Os primeiros cinco anos da companhia “têm sido um trabalho de sacrifício, à margem da carreira de ator” e das carreiras de Diogo Martins e da diretora executiva, Vanessa Varela. “É um trabalho que fazemos às 11 da noite, às seis da manhã, entre audições. Temos de tomar um passo de cada vez”, comenta o fundador.
Há já “uma relação com o teatro português, principalmente através do Mickael”, nomeadamente com “A Constituição”, em que quatro atores devem escrever uma constituição baseada no amor, e que foi transposta para inglês e encenada em Los Angeles, depois de estrear em Portugal, em 2017.
“Percebemos que seria uma peça importante nos Estados Unidos, onde a situação política e social é de loucos. Como estrangeiros, somos tratados como se fôssemos realmente outros, sem pertencer aqui. É importante darmos voz a uma cultura que as pessoas não conhecem bem, o que é ser português, o que é Portugal e a forma de pensar portuguesa”, acrescenta.
A própria saudade que Filipe Valle Costa sentiu, há 15 anos nos Estados Unidos, “tinha de ser explorada”, e o teatro serve também para explorar “a ambiguidade deliciosa no teatro” de um português não ser “um mexicano ou qualquer outra identidade que os norte-americanos possam catalogar”.
“Há espaço para brincar com o que é ser português, que é uma das formas mais especiais de ser. Olhando para o longo termo, quero que a companhia exista para além de nós, eu e o Diogo, para que outros artistas possam chegar aos Estados Unidos e ter um espaço para brincar, explorar e contar histórias portuguesas”, diz à Lusa.
Entre os objetivos para o futuro, há a vontade de “trazer um espetáculo a Portugal”, e já há “um diálogo aberto” sobre “My Favorite Suicide”, com o objetivo de fazer “uma conexão mais direta, uma ponte que não funcione só dum lado”, além do ‘sonho’ de um espaço próprio, em Los Angeles.
“Ainda não temos um teatro. É um objetivo, daqui a cinco anos termos um espaço, mesmo que pequenino. Era o ideal. (...) Aqui é mesmo um luxo. A Saudade vai ter de crescer, em pessoas e em comunidade. Mas não tenho pressa, porque sei que isto é o trabalho da minha vida”, remata Filipe Valle Costa, à Lusa.
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