Passados apenas seis anos desde que a plataforma começou a apostar forte nos prémios, a ascensão da Netflix sido surpreendente. Entrou de fininho no jogo com House of Cards, mas hoje em dia já se bate com uma máquina de estúdio como a HBO. Se no ano passado ficou a 20 nomeações e a seis prémios de distância, este ano o cenário pode ser completamente diferente.
É que no evento com que arranca o calendário de prémios de 2020, a Netflix superou a concorrência e sai em alta, pois não só conta com o filme mais nomeado — Marriage Story, de Noah Baumbach sobre uma relação entre um casal e o seu processo de divórcio — como também vê O Irlandês, de Martin Scorsese, contar com cinco nomeações e Os Dois Papas, com quatro. Mas o que é isto dos Globos de Ouro e porquê passámos a falar tanto neles, até em dia de clássico de futebol?
Segundo a Vanity Fair, reconhecida revista norte-americana, é a primeira cerimónia televisionada do ano e aquela que é "mais conhecida pelo champanhe que flui livremente, as estrelas [que] se embebedam e os responsáveis pelos votos — a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood — [que] escolhem vencedores previsivelmente imprevisíveis". Pelo meio do regadio, celebra o melhor que se fez na televisão e no cinema durante o ano. Porém, ao contrário do que sucede nos Óscares, a figura de "mestre de cerimónias oficial" só virou hábito nos últimos anos, tendo o exercício no passado estado a cargo da dupla Andy Samberg (o Jake de Brooklyn 99) e Sandra Oh (a Cristina de Anatomia de Grey). Todavia, em toda honestidade, a imagem que subsiste nesta categoria é a de Ricky Gervais a desempenhar a função — com um copo de cerveja em cima do púlpito durante os seus discursos de abertura, claro.
Quer isto dizer que, enquanto o mundo real está de olhos postos na tensão entre EUA e Irão no Médio Oriente, este evento está a decorrer ao mesmo tempo. É só imaginar no resultado que pode sair dali: festas regadas à boleia de Grey Goose ou Dom Perignon, um prémio mais ou menos injusto aqui e acolá, e, por fim, mas nem por isso menos importante, um Ricky Gervais que já avisou que está a pensar em piadas que não caiam mal daqui a 10 anos ao jeito dos decanos tweets desenterrados de Kevin Hart — que é a mesma coisa que dizer vai procurar fazê-lo com distinção.
É um dos charmes da cerimónia dos Globos de Ouro: uma pessoa nunca sabe muito bem o que esperar dali. No fundo, um glamour um pouco mais extravasado sem a elegância emérita que irá decorrer no próximo mês no Dolby Theatre, em Hollywood Boulevard, na Cidade dos Anjos. Porque os participantes, segundo rezam as lendas, vão afastar-se um bocadinho do movimento #DryJanuary em vigor (para alguns).
Não obstante, convém explicar que, ao contrário daquilo que acontece nos Óscares (em que os membros da Academia são mais de 9.000, de acordo com as estimativas do The Hollywood Report), as decisões que saem dos Globos partem da escolha de um grupo composto por mais ou menos 90 jornalistas estrangeiros a viver na Califórnia. É um tópico mais complexo do que aparenta, mas a Vox abordou o tema e é de facto engraçado (ou não) perceber como é que toda a organização funciona e como chega aos resultados que se conhecem. (Vamos lá não esquecer que séries como When They See Us e Watchmen ficaram de fora nas escolhas que este ano sobem ao palco.)
O que são situações caricatas? Isto são situações caricatas
Isto é um ponto importante porque explica — em parte — o facto de em alguns anos os candidatos vencedores serem coincidentes com as previsões da cerimónia das estatuetas, e, noutros, talvez com a mesma frequência, trilharem o seu próprio caminho com escolhas menos consensuais. E é por isso — em parte — que existem escolhas caricatas como aconteceu em 2016 com Perdido em Marte, de Ridley Scott protagonizado por Matt Damon, ganhar a distinção para Melhor Filme e Ator de Comédia só porque a personagem, o único habitante num planeta que não a Terra, enfim, tinha sentido de humor. Ou, em 2011, quando o filme O Turista, com Angelina Jolie e Johnny Depp, teve, enfim, direito a nomeações de todo. Ou ainda Arnold Schwarzenegger ter ganho um Globo para Melhor Ator por Junior em 1995. Mas talvez o caso mais gritante seja o facto de, em 1982, a atriz Pia Zadora ter ganho um Globo pelo filme Butterfly (do qual Orson Welles fez parte enquanto ator). Tanto assim foi que Zadora foi confrontada com a possibilidade do seu ex-marido milionário ter "comprado" o prémio. Mais de 30 anos depois, em 2015, negou essa possibilidade.
Portanto, adivinhar sobre quem vai vencer é um pouco como jogar uma partida de cartas às escuras. Contudo, há ainda espaço para celebrar carreiras e entregar prémios honorários especiais. Nos últimos anos, Oprah Winfrey e Meryl Streep, aproveitaram o espaço para fazer discursos marcantes em pleno horário nobre (norte-americano) que foram replicados pelas televisões e redes sociais de todo o mundo durante os dias seguintes. Hoje, ainda que os vencedores sejam incógnitos, é sabido que o palco vai receber a apresentadora Ellen DeGeneres (vai receber o prémio Carol Burnett) e o "Pai da Nação" Tom Hanks vai receber o prestigiado Cecil B. DeMille Award.
Porém, é também um dia em que acontecem situações mais ou menos caricatas como bem recorda a Vogue.Este é um episódio que aconteceu em 1996. O ator em causa seria um jovem chamado Brad Pitt que tinha acabado de ganhar o Globo de Ouro na categoria secundária pelo seu papel em 12 Macacos, de Terry Gilliam. Quando chegou a hora dos agradecimentos, saiu-lhe o infame agradecimento: "Eu gostaria de agradecer... aos criadores de Kaopectate. Têm feito um grande serviço aqui ao seu próximo". Nada estranho ou não fosse um agradecimento a um medicamento para a diarreia.
Mas há mais exemplos. Especialmente na hora de aceitar prémios e fazer discursos. Há asneiras, censuras e afins. Em 2015, Emma Stone aproveitou para pedir desculpa por ter aceite um papel (em Aloha) que deveria ser duma pessoa com decência havaiana e chinesa. Em 2001, Zellweger estava desaparecida e demorou a subir ao palco após Hugh Grant ter anunciado a sua... vitória. Mickey Rourke, por seu lado, presenteou todo um discurso com a palavra "bolas". Enfim, são muitos casos e só isso daria mote para outro artigo. Este parágrafo apenas serve para explicar que é um evento diferente e onde se costuma, aparentemente, perder a vergonha.
Netflix, a Rainha da Noite?
Se chegou até aqui sabe que há duas frases difíceis de evitar quando se fala dos Globos de Ouro: que são uma festa regada e que os seus vencedores nem sempre batem certo com os Óscares porque as escolhas são pouco ortodoxas. Porém, este ano, há uma nuance: vai ser mais difícil insinuar na conversa se este ou aquele filme devia ou não estar presente. Indubitavelmente esta cerimónia rompe com o idealismo mais purista de que os filmes só são filmes se forem feitos para ser vistos na sala escura — as plataformas de streaming, talvez seja mais correto dizer a plataforma já que é a Netflix que aqui se evidencia, ganhou o direito a estar na mesa "dos grandes". É um longo debate, que divide opiniões e com o status quo da indústria, mas em 2019 parece que "a" plataforma vai sair mesmo na linha da frente sem grandes voltar a dar.
Tudo começou — mais a sério, vá — com um filme: The Beasts of No Nation. Um bom realizador (Cary Joji Fukunaga vinha da primeira temporada de True Detective), um ator reconhecido e carismático (Idris Elba) e com pouco mais de 50 mil dólares de receita de bilheteira (apesar de ter pago 12 milhões para garantir os direitos de distribuição e estar-se maribando para isso).
Baseado no romance do autor nigeriano Uzodinma Iweala, o filme relata a vida de Agu (e apresenta ao mundo o ator amador Abraham Attah), um jovem que é separado da sua família e forçado a juntar-se a um grupo de rebeldes chefiado por Striker (Elba), um comandante meio variado e pouco dado a confraternizações pacíficas que envolva pouca quantidade de sanguinidade durante uma guerra civil num país africano (nunca referido). É duro; pode escrever-se que até grotesco visualmente, pois em algumas cenas a violência entra pela retina adentro sem pedir grande licença e coloca a alma numa pândega de emoções dispares. Porém, não deixa de ser um exercício em que o realizador norte-americano consegue captar a essência da relação entre os dois protagonistas e não deixa a beleza natural do Gana passar por mãos alheias. Acabou por não ganhar nada, apenas uma nomeação nos Globos para o ator britânico, mas o mote estava dado. E não foi assim há tanto tempo. O filme ficou disponível no final de outubro de 2015 — curiosamente como rampa de lançamento da plataforma em Portugal. Ou seja, há cinco anos a plataforma deu uma passada à Neil Armstrong; de então para cá de apenas uma nomeação passou para força dominante.
O ano passado com Roma, de Alfonso Cuáron, a Netflix ganhou a distinção de Melhor Filme Estrangeiro e de Melhor Realizador, mas este ano a produtora e distribuidora dominam a 77.ª edição dos Globos de Ouro em várias categorias, somando 17 nomeações. Isto é, o seu domínio deixou de ser apenas nas séries (House of Cards, custa a acreditar, mas já é de 2013 e não falta muito para se começar a pensar nos artigos sobre o aniversário redondo que está aí num abrir e fechar de olhos) para saltar para as longas-metragens. E Marriage Story e O Irlandês podem aspirar o galardão principal.
De resto, diga-se que embora tenha ganhado o melhor filme em língua estrangeira em 2019 (um feito repetido nos Óscares meras semanas depois), o filme de Cuáron nem nomeado estava na categoria para Melhor Filme (não esquecer que os Globos dividem esta categoria em dois num modelo completamente obsoleto, com cinco filmes para Melhor Drama e outros cinco para Melhor Musical ou Comédia). E, não se pode esquecer que, além destes filmes, há ainda que contar com The Two Popes (do brasileiro Fernando Meirelles, autor de Cidade de Deus) e de Dolemite Is My Name (onde Eddie Murphy tem a oportunidade de voltar a fazer um papel que faz lembrar tempos idos da sua longa carreira).
Isto tudo para dizer que o paradigma da edição de 2020 é diferente porque quatro dos 10 melhores filmes são da Netflix. O que se pode traduzir assim: uma plataforma de streaming tem mais do dobro das nods (nomeações) que um estúdio grande, poderoso e rico (neste caso a Sony) do "mundo velho".
À quinta, com Ricky Gervais
O comediante britânico Ricky Gervais, aos 58 anos, vai bater um recorde durante a próxima madrugada: é a quinta vez que vai estar à frente da cerimónia. "Uma vez mais, fizeram-me uma oferta que não posso recusar", explicou Gervais num comunicado oficial, referindo-se à Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood. "Mas esta é a derradeira vez que o faço, o que pode tornar a noite divertida". Não se sabe muito bem como vai ser este ano ou se realmente será a última vez que o vai fazer, mas quem endereçou o convite sabe bem ao que vai e aquilo que o criador do The Office pode vir a fazer, i.e, piadas polémicas do passado sobre pessoas que estão na plateia, sejam elas sobre os "subornos" de Angelina Jolie e Johnny Depp, "a obsessão" de Mel Gibson ou "pequeno-almoço" de Charlie Sheen durante o monólogo de abertura em 2011.
"Existe sempre uma eletricidade palpável na sala quando Ricky assume o palco dos Globos de Ouro", disse Paul Telegdy, presidente da NBC Entertainment. "Contribui sempre para uma noite inesperada. Mal podemos esperar para ver o que ele tem na manga", explica. Nós também, Sr. Telegdy.
Durante o programa de Graham Norton no Reino Unido, Gervais afirmou estar pouco preocupado com as celebridades presentes. "Quando o faço, digo o que quero. Não preciso de ensaiar. E eles [organização] dizem que está tudo bem", explicou. No entanto, deixou uma ressalva: "Contudo, tenho de falar com um advogado antes de o fazer", conta.
Ao The Hollywood Reporter (THR) numa entrevista de fundo, admite que voltar a apresentar o programa foi "complicado". Aprofunda o britânico: "Fi-lo da primeira vez porque não conseguia acreditar no que me pediam. Eles nunca tinham tido um anfitrião. Pensei: 'Oh, isto é ótimo.' Não sabia como seria. Não tinha qualquer expectativa. Tinha ganho alguns Globos de Ouro, portanto já tinha participado e foi uma festa agradável. [E] apercebi-me de que é muito melhor estar lá como convidado porque se não estiver apresentar não há qualquer pressão", relata.
Pressão que existe — e muita. Tanto que explicou na mesma entrevista que o convite lhe "arruinou o Natal" porque teve que ir trabalhar de imediato nas piadas. "As pessoas pensam que eu vou lá, embebedo-me e digo coisas em cima do joelho. Eu não o faço. Eu escrevo as piadas", explica.
Porém, noutro artigo do THR, acrescentou que acabou por aceitar o convite para apresentar novamente cerimónia em 2020 porque é… divertido. "Da primeira vez que o fiz, pensei: Será que pego nos 200 egos privilegiados da sala ou tento entreter uma audiência global de 200 milhões de pessoas sentadas em casa que não estão a ganhar prémios?' Bem, não há muito a dizer. Tento fazer daquilo um desporto de espetador. Tento jogar como se estivesse de fora", disse.
Mas então e alvos concretos? De acordo com o próprio, não está nos seus planos fazer piadas à custa de uma única celebridade. "Penso que vou atrás da comunidade em geral. Iria atrás do cinema e da televisão, do ator e da pretensão e da hipocrisia", afirmou. "Atrás daquelas grandes e nebulosas coisas onde todos eles podem sentir que não estou a escolher ninguém [em particular]".
O The Guardian escreve mesmo que Ricky Gervais não é o anfitrião que nós queremos — mas aquele nós merecemos. Porque o próprio admitiu há dois anos que voltar apresentar a cerimónia seria o fim da sua carreira e que tinha pedido ao seu agente para o demover desta ideia — de voltar a apresentar os Globos de Ouro. Só que o mundo gira e nem sempre para o lado da razão. Tanto assim é que às vezes voltamos a sítios que jurámos que jamais voltaríamos. Este parece ser o caso do britânico. É certo que Gervais não foi o primeiro anfitrião de sempre dos Globos. Janine Turner e John Larroquette fizeram-no (ao de leve) em 1995. Em 2004, a primeira vez que pisou o palco — não para apresentar a contenda, mas para receber o prémio por The Office —, Gervais parece ter começado uma dinastia sem o saber. Muito menos de que iria apresentar a cerimónia cinco vezes.
Favoritos, snubs e previsões
A questão premente da próxima madrugada será: vai a Netflix conquistar os filmes com tanta destreza como tem feito na televisão nos últimos anos ou será que os Globos vão dar um ar da sua graça e dividir o "mal pelas aldeias"? Qualquer das hipóteses é viável. Por um lado, a jogar a seu favor, está um casamento a atravessar uma fase de claro fastio e uma contemplação dum (agora) solitário e velhote assassino irlandês. Por outro, há sempre a suspeição de que os estúdios compram votos e vão existir vencedores menos prováveis.
Porque já se sabe desta dança: os Globos afinam o tom para o resto do que falta da época dos prémios e recuperam alguns passos dados pelos Emmys. Por isso, não se pode realmente cismar ou ficar surpreendido com uma vitória, por exemplo, de Fleabag, série de comédia amada universalmente pela crítica ou de Chernobyl, que se lhe atesta o mesmo fado, mas nas mini-séries.
Logo no dia em que se soube das nomeações, surgiram críticas pela falta de realizadoras nos nomeados apesar dos vários elogios aos seus trabalhos. Algo que também fez abanar algumas cabeças é a ausência de Greta Gerwig, que escreveu e adaptou As Mulherzinhas, de Louisa May Alcott, e não recebeu qualquer nomeação, ao contrário do que sucedeu em 2017, pelo filme Lady Bird. Saoirse Ronan, aliás, foi a única a ser distinguida pelo filme de Gerwig.
Assim como se voltou à velhinha história de algumas nomeações e respetivas categorias. Este ano, por exemplo, um filme como Era uma Vez ... em Hollywood de Quentin Tarantino (uma recriação da cidade de Los Angeles do final dos anos 60, que não obstante ter momentos cómicos, dificilmente poderá ser considerado uma "comédia") vai competir na categoria de comédia com nomes como Jojo Rabbit, de Taika Waititi, filme em que um rapaz alemão tem Adolf Hitler como amigo imaginário…
Melhor Filme – Drama
The Irishman (Netflix)
Marriage Story (Netflix)
1917 (Universal)
Joker (Warner Bros.)
The Two Popes (Netflix)
Há dois claros favoritos: O Irlandês e Marriage Story. Ambos da Netflix, mas que dividem opiniões quanto ao tom. Porque numa sondagem de escritório é difícil encontrar quem: a) tenha visto o primeiro duma assentada; b) tenha adorado o segundo tanto como os críticos. No entanto, como estamos a falar dos Globos, é bem possível que Joker, de Todd Phillips, possa fazer pirraça à popular plataforma de streaming. Adorado por uns, mas desfasado por outros, a realidade é que o realizador que trouxe ao mundo comédias como Old School ou A Ressaca, apresentou um dos melhores do ano. (Quiçá com um excesso de Travis Bickle, sim esse mesmo, o protagonista de Taxi Driver, e de intenção na base do reparem que é isto que está acontecer com os close-ups.) Porém, ainda que assim seja, a ter que atribuir favoritismo, pelo que se lê na imprensa internacional, será a Marriage Story.
Melhor Filme – Musical ou Comédia
Once Upon a Time in Hollywood (Sony)
Jojo Rabbit (Fox Searchlight)
Knives Out (Lionsgate)
Rocketman (Paramount)
Dolemite Is My Name (Netflix)
Aquela categoria em que por norma está uma verdadeira comédia/musical e se lhe juntam aqueles outros filmes bons que não arranjaram vaga no grupo dos cinco anteriores. Por isso mesmo, é também a mais complicada de prever. Uns vão ser diretos e escolher o filme de Tarantino num ápice — onde me incluo — e outros podem considerar que Knives Out e Rocketman são duas hipóteses mais legítimas tendo em conta, lá está, de que um é de facto um musical e outro uma comédia.
Menção: Eddie Murphy merece a nomeação pelo biopic que explora o movimento Blaxploitation dos anos 70, mas com toda a honestidade preferia que Taika Waititi ficasse por fazer comédias — hilariantes, diga-se — sobre vampiros que saem à noite.
Melhor Realizador
Bong Joon-ho (Parasite)
Sam Mendes (1917)
Todd Phillips (Joker)
Martin Scorsese (The Irishman)
Quentin Tarantino (Once Upon a Time in Hollywood)
De acordo com os regulamentos, por se tratar duma produção estrangeira, não está elegível para concorrer na categoria de Melhor Filme. Assim, para compensar um pouco a ordem das coisas e agradar um pouco a meio mundo, os Globos devem assinalar o filme que está a ser definido como sendo um dos melhores dos últimos anos. Isto é, o exemplo de Bom Filme.
Melhor Ator – Filme Drama
Christian Bale (Ford v Ferrari)
Antonio Banderas (Pain and Glory)
Adam Driver (Marriage Story)
Joaquin Phoenix (Joker)
Jonathan Pryce (The Two Popes)
Parece que estou a trair o âmago do meu ser que gosta de ver filmes. Ele está trépido e exaltado, mas o ofício assim o obriga. O veterano Pryce surpreende enquanto Papa Francisco (mais do que estava à espera), Banderas está no pico da forma e Joaquin Phoenix faz uma daquelas interpretações em que só apetece escrever: toma, é teu. E ficar-se por aí. Contudo, Adam Driver, o ex-marine tornado ator, deve sair vitorioso da contenda. O que é uma pena porque tem, talvez, a interpretação que menos me apela de todas elas (lá fora a opinião difere, contado-se rasgados elogios ao mesmo). Com a vitória de Banderas ou Phoenix saberia lidar, mas o ex-marido pouco perfeito não me convenceu assim tanto quanto a sua cara metade (de quem se escreverá mais à frente) por mais buracos nas paredes que abra ao murro.
Melhor Atriz – Filme Drama
Cynthia Erivo (Harriet)
Scarlett Johansson (Marriage Story)
Saoirse Ronan (Little Women)
Charlize Theron (Bombshell)
Renée Zellweger (Judy)
Reneé Zellweger conta com 6 nomeações (excluída a presente) para os Globos, tendo ganho por 3 vezes (Cold Mountain, Chicago e Nurse Betty). E a sua Judy Garland deverá — segundo se prevê desde de que o filme estreou — arrecadar mais uma pela agonia que mostrou no declínio da cantora. Já Cynthia Erivo enquanto Harriet Tubman também trás a mesma paixão no papel, mas a vitória deve ser mesmo da primeira. Menção honrosa: Scarlett Johansson está bem mais convincente de que o seu par masculino em Marriage Story. Não houvesse Zellweger, diria que Johansson tinhas legítimas aspirações. Enquanto fica difícil esquecer que Driver estava a ser só Driver (esta é só a minha humilde opinião relativamente ao papel; sem com isso querer dizer que é mau ator), Johansson estava fustigada e enraivecida pelo divórcio por ambos.
Melhor Ator — Musical ou Comédia
Daniel Craig (Knives Out)
Roman Griffin Davis (Jojo Rabbit)
Leonardo DiCaprio (Once Upon a Time in Hollywood)
Taron Egerton (Rocketman)
Eddie Murphy (Dolemite Is My Name)
DiCaprio esteve nomeado 12 vezes (contando com esta) para os Globos e venceu três. Se me coubesse a decisão, existem duas ou três cenas que lhe valeriam o Globo sem grandes alaridos. No entanto, segundo algumas publicações internacionais, o vencedor deverá estar entre o regresso de Eddie Murphy à ribalta e Elton John (de Egerton) — que gerou burburinho (do bom) em Hollywood.
Melhor Atriz — Musical ou Comédia
Awkwafina (The Farewell)
Ana de Armas (Knives Out)
Cate Blanchett (Where’d You Go, Bernadette)
Beanie Feldstein (Booksmart)
Emma Thompson (Late Night)
A escolha é quase unânime relativamente ao nome de Awkwafina. (Apesar de esquecida pelo Sindicato dos Atores). Porém, Beanie Feldstein é um nome a reter no futuro. E Booksmart um filme a ver.
Melhor Filme Estrangeiro
The Farewell (A24)
Pain and Glory (Sony)
Portrait of a Lady on Fire (Pyramide Films)
Parasite (CJ Entertainment)
Les Misérables (BAC Films, Amazon)
Parasitas, de Bong Joon Ho, que em 2017 realizou Okja para a Netflix, é um dos que encantaram os críticos. E há quem diga que se trata não só melhor estrangeiro, como coloque o filme no topo das suas listas de 2019. Porém, The Farewell, de Lulu Wang poderá ter uma palavra a dizer e não é carta fora do barulho.
Na televisão
Melhor Série — Drama
Big Little Lies (HBO)
The Crown (Netflix)
Killing Eve (BBC America)
The Morning Show (Apple TV+)
Succession (HBO)
Não há Game of Thrones, mas continua a haver HBO. E Succession é mesmo a favorita a ganhar porque tanto agrada a críticos como espetadores. É também a série onde a palavra — ou falta dela — impera e anda de mãos dadas com a mentira. Ainda assim, não se pode descurar The Crown da Netflix. Ganhou em 2017 e poderá fazê-lo novamente.
Melhor Atriz — Série Drama
Jennifer Aniston (The Morning Show)
Olivia Colman (The Crown)
Jodie Comer (Killing Eve)
Nicole Kidman (Big Little Lies)
Reese Witherspoon (Big Little Lies)
As críticas à série de estreia da Apple foram mistas, mas a performance de Jennifer Aniston no The Morning Show foi consensual e francamente louvada. No entanto, a disputa creio que será entre Comer ou Colman. Esta última parte na linha da frente.
Melhor Ator — Série Drama
Brian Cox (Succession)
Kit Harington (Game of Thrones)
Rami Malek (Mr. Robot)
Tobias Menzies (The Crown)
Billy Porter (Pose)
Disputa a dois: Billy Porter e Cox. O último ganhou o Emmy, mas vai depender muito de como correr a noite para a série da HBO.
Melhor Série — Comédia ou Musical
Barry (HBO)
Fleabag (Amazon)
The Kominsky Method (Netflix)
The Marvelous Mrs. Maisel (Amazon)
The Politician (Netflix)
A série de (e interpretada por) Phoebe Waller-Bridge está simplesmente com demasiado alarido em seu torno para não ser considerada a favorita. Especialmente depois da segunda temporada. The Marvelous Mrs. Maisel é o darkhorse, mas de qualquer das formas, ao final do dia, o prémio deve ficar pela Amazon.
Melhor Atriz — Série Comédia ou Musical
Christina Applegate (Dead to Me)
Rachel Brosnahan (The Marvelous Mrs. Maisel)
Kirsten Dunst (On Becoming a God in Central Florida)
Natasha Lyonne (Russian Doll)
Phoebe Waller-Bridge (Fleabag)
Pelo que se escreveu em cima Phoebe Waller-Bridge é a favorita. No entanto, Natasha Lyonne pode igualmente ganhar aqui a distinção já que se encontra nas mesmas circunstâncias (protagoniza e criou Russian Doll). Em suma, é um pouco para onde cair a distinção da série.
Melhor Ator — Série Comédia ou Musical
Michael Douglas (The Kominsky Method)
Bill Hader (Barry)
Ben Platt (The Politician)
Paul Rudd (Living With Yourself)
Ramy Youssef (Ramy)
Depois de dois Emmy seguidos, Hader tem de ser considerado o favorito. Porém, Youssef tem recebido boas críticas por Ramy e pode acontecer aqui uma surpresa.
Melhor Ator — Mini-Série ou Telefilme
Christopher Abbott (Catch-22)
Sacha Baron Cohen (The Spy)
Russell Crowe (The Loudest Voice)
Jared Harris (Chernobyl)
Sam Rockwell (Fosse/Verdon)
Sacha Baron Cohen saiu da comédia para o Drama, e pese embora o seu papel esteja melhor do que a série em si, o favorito será Harris — visto que a maior concorrência dos Emmy, Jharrel Jerome (When They See Us), está fora da lista.
Melhor Atriz — Mini-Série ou Telefilme
Kaitlyn Dever (Unbelievable)
Joey King (The Act)
Helen Mirren (Catherine the Great)
Merritt Wever (Unbelievable)
Michelle Williams (Fosse/Verdon)
O trabalho de Kaitlyn Dever no papel de alguém que foi vítima de violação sobressai mesmo numa lista que contempla Helen Mirren ou Michelle Williams.
Melhor Mini-Série ou Telefilme
Catch-22 (Hulu)
Chernobyl (HBO)
Fosse/Verdon (FX)
The Loudest Voice (Showtime)
Unbelievable (Netflix)
Será difícil ir contra a HBO nesta categoria. O The Guardian colocou mesmo Chernobyl na terceira posição das 50 melhores de 2019 por alguma razão (Fleabag em 2º, Succession em 1º). E sobre ela escreveu que se trata simplesmente de um dos melhores trabalhos de sempre ao nível de séries baseadas em factos verídicos — especialmente porque conseguiu colocar a maioria das pessoas em Pripyat, na Ucrânia, em abril de 1986, quando se deu o colapso de um reator nuclear. Mas chegar a esta altura do campeonato e perceber que When They See Us (Netflix) não está na lista faz confusão, comichão e outras coisas.
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