No século V antes de Cristo, também Heródoto fala do beijo entre os persas, "que saudavam os homens de igual valor com um beijo na boca e os de classificação ligeiramente inferior com um beijo na bochecha". Os egípcios, segundo o Antigo Testamento, igualmente se beijavam, com o exemplo de um amante a pedir: "beije-me ele com os beijos da sua boca, porque o seu amor é melhor do que o vinho".
Os romanos prosseguiram a arte da osculação, beijando "os seus parceiros ou amantes, família e amigos, e governantes". O beijo distinguia-se de ser "na mão ou no rosto (osculum) de um beijo nos lábios (basium) e de um beijo profundo ou apaixonado (savolium)", nota Burton, tendo importância na forma como se beijava o imperador, "da bochecha ao pé", assim como nos casamentos, com o beijo entre casal a ser efectuado perante uma assembleia, numa "prática que continuou até aos nossos dias".
Praticamente eliminada foi a prática do beijo facial entre cristãos - o chamado "beijo sagrado" que estava "associado à transferência do espírito" -, devido ao infame beijo de Judas antes de trair Cristo. No entanto, "fora da igreja, o beijo era usado para cimentar a posição e a ordem social", beijando-se "o manto do rei ou o anel ou os chinelos do Papa".
"O beijo nos lábios 'romântico' (não 'sexual') é uma invenção que surge, com toda a probabilidade, das tradições medievais do amor cortês", impregnado do amor "verdadeiro" e não das relações estabelecidas entre hierarquias ou famílias, segundo Danesi. Esse beijo romântico parece ter ressurgido com "o amor cortês". As origens desse beijo romântico remontam pelo menos ao século XIII, com Paolo e Francesca imortalizados pelo poeta Dante Alighieri no seu "Inferno". Francesca de Rimini rejeita Giovanni Malatesta num acordo entre famílias para optar pelo irmão Paolo, numa união reproduzida posteriormente na escultura "O beijo", de Rodin. É uma história forte e triste, também mais tarde retratada com o "pecado" labial entre Romeu e Julieta, que esta considera "irresistível", ainda segundo o testemunho de Danesi.
Neste tipo de "literatura do amor cortês, as mulheres aparecem retratadas como seres 'angélicos'" e não como objectos sexuais, porque o beijo era entendido "como um caminho para o amor espiritual". O "beijo transporta os amantes para outro plano de existência", diz Danesi, e é "um intoxicante 'elixir'". Mas o beijo não é universal entre os seres humanos e algumas culturas nem sequer o consideram. "Isto sugere que beijar não é inato ou intuitivo", explica Neel Burton.
"Outra possibilidade é que o beijo é um comportamento aprendido que evoluiu do 'beijo alimentar', o processo pelo qual as mães nalgumas culturas alimentam os seus bebés, passando comida mastigada boca-a-boca. No entanto, existem algumas culturas indígenas modernas em que o beijo alimentar é praticado, mas não o beijo social. Beijar também pode ser uma forma culturalmente determinada de comportamento de limpeza ou, pelo menos, no caso de profundo ou erótico beijo, uma representação, um substituto e complementar à relação sexual com penetração".
Qualquer que seja a explicação, diz Burton, "o comportamento de beijar não é exclusivo dos seres humanos", e outras espécies o fazem, provavelmente para se prepararem, cheirarem ou comunicarem entre si, "mas mesmo assim o seu comportamento implica e fortalece a confiança e o vínculo".
Créditos da imagem: AUGUST RODIN O beijo (detalhe) [Mus. Rodin - Paris]
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