"É representativa dessa nova maneira de olhar para a possibilidade de filmar e para o mundo através da câmara. Era uma realizadora profundamente curiosa, profundamente inquieta e profundamente generosa. Os filmes traduzem todas as dimensões da sua pessoa, que se confunde com a obra", disse o diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira.
António Preto, que escreveu em 2016 o discurso laudatório da atribuição do doutoramento 'honoris causa' a Agnès Varda pela Universidade Lusófona do Porto, sublinhou que a morte da cineasta é "uma perda enorme para o cinema europeu e para o cinema de autor".
"Nunca se isentou, nunca separou os diferentes discursos que foi produzindo sobre o mundo contemporâneo", afirmou.
No mundo do cinema multiplicam-se as declarações de pesar e admiração pela obra de Agnès Varda.
O festival de Cinema de Cannes, que lhe atribuiu o prémio de carreira em 2015, fala numa "tristeza imensa" pela perda de uma figura que se apropriou do cinema com "infinita inventividade". "O lugar que ela ocupou é insubstituível", lê-se na rede social Twitter.
A revista Cahiers du Cinema - que lhe dedicou um número especial em 2018 por ocasião dos 90 anos -, a Cinemateca Francesa, que recuperou uma lição de cinema de Varda em janeiro passado, o festival DocLisboa, que programou filmes de Varda, também recorreram às redes sociais para lamentar a morte da cineasta.
A realizadora francesa Agnès Varda morreu na sua casa na noite de quinta-feira, na sequência de um cancro, anunciou a família em comunicado.
Multipremiada ao longo de uma carreira iniciada em 1954 com “La Pointe-Courte”, Varda nasceu em Bruxelas no dia 30 de maio de 1928, filha de pai grego e mãe francesa, mudando-se para Paris para estudar fotografia, segundo a biografia da France Culture.
Habitualmente classificada como a “avó” do movimento cinematográfico Nouvelle Vague, Varda destacou-se, poucos anos depois da sua estreia, com “Cléo de 5 à 7” (“Duas Horas na Vida de uma Mulher”, no título português).
Entre os seus filmes mais conhecidos e premiados estão "Sem Eira Nem Beira", "As Praias de Agnès", "Duas horas na vida de uma mulher", "A felicidade", "Os respigadores e a respigadora" e "As praias de Agnès".
Recebeu os mais importantes prémios de cinema, entre os quais o Leopardo de Honra do Festival de Locarno, a Palma de Ouro de Carreira do Festival de Cannes e o Óscar honorário.
Em 2009, a Cinemateca Portuguesa dedicou-lhe uma retrospetiva e teve duas instalações-vídeo na Capela da Casa de Serralves, no Porto.
Nesse ano, então com 81 anos, Agnès Varda afirmou, num encontro com a imprensa portuguesa, que lhe interessava fazer pequenos filmes com a sua visão do mundo e que estivessem em diálogo com as artes plásticas.
Apesar do seu cinema ter uma marca documental, um carácter social e feminista, generoso e terno, a realizadora garantiu que o seu maior combate no cinema era "fazer sempre algo de novo", sem perder o traço experimental, e transmitir emoções.
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