Atividades apenas ao ar livre, apresentações de coleções com o público reduzido de cerca de mil para 200 pessoas, uso de máscara obrigatório e bastidores com mais espaço, foram algumas das ‘novidades’ da ModaLisboa, que se iniciou online na quarta-feira e prosseguiu entre quinta-feira e hoje no Parque Eduardo VII.

Hoje à tarde, ainda com algumas apresentações por acontecer, a diretora da ModaLisboa, Eduarda Abbondanza, fazia à Lusa um balanço positivo de uma edição diferente.

“Até agora correu muito bem. Ainda faltam coisas, mas correu muito bem, porque o tempo também nos ajudou, porque é toda uma edição ao ar livre, excetuando os bastidores”, afirmou, em declarações à Lusa.

Eduarda Abbondanza lembrou que esta edição foi “pensada de forma diferente das outras”: “É novo para nós, nunca tínhamos feito isto”.

“Nas outras [edições] queríamos que o público que estava passasse por uma experiência, nesta quisemos que as pessoas que estão em casa, que são a grande maioria, passassem por uma experiência, que fosse contada por nós usando os maiores recursos, criando uma ‘app’ disponível para todos, uma ‘app’ tv na Meo e reforçando o nosso ‘site'”, referiu.

Daqui a seis meses, em março, há uma nova edição da ModaLisboa e, mesmo que a pandemia desapareça até lá, há decisões tomadas para esta edição que serão para manter.

“A redução de público, sem dúvida. Manter tudo ao ar livre será difícil, porque na edição de março há sempre muita chuva, mas a ideia de usufruirmos e estarmos juntos em contextos mais naturais, acho que sim”, partilhou, acrescentando também a aposta no ‘online’.

“As coisas nunca voltam para trás. Mesmo que daqui a pouco tempo voltemos à normalidade, não voltamos à normalidade do passado, vamos a uma normalidade que está a ser construída, vai ser construída. O ‘online’ ganhou uma força nesta edição, daí a criação de plataformas que vamos continuar, vamos só corrigir, retificar”, disse.

Além de transmitir as apresentações das coleções em direto, a ModaLisboa criou conteúdos específicos para as plataformas digitais, que começaram a ser disponibilizados na quarta-feira, embora as apresentações das coleções tenham começado apenas na quinta-feira.

Naquela que ficará para a história como a primeira edição sem estação associada, alguns criadores de moda mostraram as propostas para a primavera/verão 2021, mas outros optaram por outras soluções.

Carolina Machado, que abriu o dia de hoje, optou por apresentar uma coleção que é “uma espécie de ‘best of'” do trabalho que tem desenvolvido.

O confinamento, forçado pela pandemia da covid-19, deu a esta jovem ‘designer’ de moda “bastante tempo para refletir sobre o trabalho e o que iria fazer a seguir”.

Foi nessa reflexão, e por lhe faltarem as habituais inspirações para criar — “sempre relacionadas com viagens e Cultura — concertos, música, espetáculos de teatro” — que surgiu a ideia de rever as nove coleções apresentadas anteriormente.

“Olhei para o que já tinha feito, apercebi-me que era a 10.ª coleção que ia fazer e achei que seria engraçado fazer uma espécie de ‘best of’ de tudo o que eu já tinha apresentado”, contou à Lusa no final do desfile, que decorreu num dos jardins próximos do Pavilhão Carlos Lopes.

Para criar sobre a coleção apresentada, Carolina Machado pegou “em detalhes de peças antigas e em moldes antigos, também para fazer um reaproveitamento de tecidos (restos ou outros que tinha encomendado em cores que acabei por não utilizar) e de moldes”.

Os detalhes escolhidos e as peças em que Carolina Machado se inspirou são de peças que “venderam bastante bem” e “é sempre bom ter uma versão mais moderna ou noutra cor”.

“Se resultou antes, porque não resultar outra vez?”, deixou no ar.

Sem loja física, Carolina Machado vende sobretudo ‘online’, em ‘site’ próprio e noutros multimarcas, e durante a pandemia “as vendas aumentaram”.

“A nível de vendas não me posso queixar. O mercado ‘online’ está em expansão, em evolução, ainda mais agora, que as pessoas não tinham como adquirir as coisas. Além disso, acho que as pessoas não se importam de pagar mais por uma peça pela qualidade, por ser um ‘design’ exclusivo, para apoiar o ‘design’ nacional, comprar algo que dure mais tempo”, afirmou.

Carolina Machado notou um crescimento maior das vendas “lá para fora, e a maior parte para os países nórdicos, Finlândia, Holanda, Suécia”.

No último dia da 55.ª edição foram também apresentadas as coleções de António Castro, Gonçalo Peixoto e Hibu.

O dia encerra com Olga Noronha, Archie Dickens e Carlos Gil.