Estes são alguns nomes que o novo programador da instituição cultural quer apresentar após terminar a programação deixada pelo seu antecessor, o curador Delfim Sardo, que saiu em março para assumir o pelouro da programação do Centro Cultural de Belém.
“Ao contrário do que é hábito em Portugal – onde se faz frequentemente ‘tabula rasa’ sempre que mudam direções ou executivos -, entendo que aceitar trabalhar numa instituição implica, antes de mais, perceber o seu contexto e o seu posicionamento, e procurar fortalecer aquilo que já foi conquistado”, disse o programador numa entrevista por escrito à agência Lusa, sobre o trabalho que pretende desenvolver nos próximos anos.
Bruno Marchand juntou-se em fevereiro deste ano à equipa dirigida por Mark Deputter, mas já tinha colaborado anteriormente com a instituição cultural, nomeadamente em exposições em torno da coleção de arte da Caixa Geral de Depósitos.
Assumindo ser “impossível” estar num cargo como este “sem importar para as decisões que ele implica as próprias convicções pessoais”, o curador considera que haverá espaço para “pensar soluções que respondam aos desafios que os artistas, o público e a sociedade em geral colocam à instituição em cada momento e em cada época”.
Por um lado, diz que quer perceber o contexto e o posicionamento da Culturgest para que possa “respeitar e fortalecer a identidade já construída”, mas entende que “a vocação da Culturgest para a apresentação de exposições individuais, por artistas portugueses e internacionais, cujas propostas se enquadram nos debates da contemporaneidade é algo a não descartar”.
Bruno Marchand pretende continuar a trabalhar com artistas “que não tratam a sua produção necessariamente como um veículo para ´responder´ ou ´intervir´ no real, no sentido moralista desses termos, nem tratam o seu público como um conjunto de pessoas que visita uma exposição para ser instruído sobre um determinado tema, para aprender uma dada verdade, ou pior, a suposta verdade sobre um qualquer assunto na ordem do dia”.
“Não quero com isto dizer que não deva haver espaço para essas propostas – defendo que deve haver e que há inúmeros contextos e circunstâncias que as justificam. Mas, quando penso sobre o que verdadeiramente se perderia ou que parte da experiência humana ficaria irreparavelmente mais pobre se a arte – toda a arte – desaparecesse de um momento para o outro, intuo que não seriam essas propostas nem as experiências que elas oferecem”, avalia.
O curador, que saiu da Galeria Zé Dos Bois para a Culturgest, considera que o trabalho desenvolvido na última década e meia na entidade “permitiu que esta se inscrevesse nos circuitos internacionais das instituições de média dimensão da Europa, como sejam as Kunsthalles ou outros centros artísticos congéneres”.
“Estar nessa faixa de atuação significa, grosso modo, estar a trabalhar com as propostas artísticas sobre as quais recaem as discussões sobre o que é ou o que pode ser a contemporaneidade”, disse à Lusa.
Esta postura, na opinião do curador, significa prestar atenção a “práticas que exploram as margens ou que propõem novos caminhos para a experiência artística – algo bastante diferente, por exemplo, do trabalho que habitualmente é desenvolvido pelo museu, naturalmente mais vocacionado para estudar, preservar e apresentar obras e artistas cuja relevância histórica é já bastante consensual”.
“Mas mais do que um impulso irreprimível para deixar a minha ‘marca curatorial’ na Culturgest, julgo que o que é decisivo é estar disponível para reinventar processos e modelos de atuação no sentido de garantir que a programação proposta se mantém relevante, mas com um perfil reconhecível e distinto”, ressalva, sobre a visão que quer imprimir na instituição cultural.
Marchand avançou pretender programar artistas como Samson Kambalu, Peter Wächtler, Daniel Dewar & Grégory Gicquel ou Sónia Almeida, mas não adiantou mais detalhes.
Até ao final do ano, para além da exposição de Álvaro Lapa, em Lisboa, que continuará patente até 26 de julho, e da exposição de Elisa Strinna, até 31 de agosto, no Porto, a Culturgest vai ainda apresentar, até ao final de 2020, uma exposição coletiva e duas individuais.
A “Exposição Invisível”, que será possível visitar a partir de 26 de setembro, reúne um conjunto alargado de obras sonoras, realizadas por artistas nacionais e internacionais, desde o início do século XX até aos nossos dias.
Aqui vão entrar as experiências de artistas modernistas como Raoul Hausmann, Luigi Russolo, Marinetti ou Kurt Schwitters, juntando-se outras mais recentes de Antonio Dias, James Lee Byars, Bruce Nauman, Luisa Cunha, Joan Jonas, Vito Acconci, Michael Snow, Julião Sarmento, Juan Muñoz ou Ricardo Jacinto, “oferecendo ao visitante uma panorâmica muito completa sobre o encontro entre as artes visuais e o som”.
Por seu lado, em “A Natureza Detesta Linhas Retas”, patente de 17 de outubro a 28 de fevereiro, irá propor uma viagem pelo trabalho que Gabriela Albergaria tem vindo a desenvolver desde os anos 1990.
Por último, na Culturgest Porto tem início, a 03 de outubro, a exposição “Red Lines with Landscapes: Portugal”, de Evan Roth, no âmbito do projeto Reação em Cadeia, uma parceria entre a Culturgest e a Fidelidade, e que pode ser vista, neste momento, na Fidelidade Arte, em Lisboa.
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