"Assassinos da Lua das Flores", ou "Killers of the Flower Moon" no original, é um western épico passado nos anos 1920. Baseado em eventos reais, adapta o livro homónimo de não-ficção de David Grann (jornalista da New Yorker e autor de "A Cidade Perdida de Z", entre outros). É história de crime, ganância, traição, e que reflete a ambição daqueles que já têm tudo, mas que querem sempre mais — e que não olham a meios para aumentar a sua riqueza.
O filme, tal como livro que o inspira, segue o rasto dos assassínios de pelo menos 60 membros da Nação Osage. Uns mortos a tiro, outros envenenados, outros espancados. E os que tentavam encontrar respostas e investigar os casos acabavam também por desaparecer.
Contexto importante: a população mais rica per capita do mundo nesta altura do século XX não vivia em Nova Iorque ou Paris. Vivia no Oklahoma, nos EUA, e era a tribo dos índios Osage. Cerca de 2000 Osage, do dia para a noite, viram-se mergulhados num poço de riqueza depois de ter sido descoberta uma imensa jazida de petróleo debaixo da sua terra — terra que lhes foi atribuída quando deslocados do seu território original.
Sem explicações ou alguém que os ajudasse, os Osage recorreram ao recém-criado Bureau de Investigação (BI). E o que o livro de David Grann revela, além de que o petróleo estava infiltrado no próprio BI e até na Casa Branca, é que este caso levou à criação do FBI moderno.
No filme, Scorsese não se foca tanto na parte da investigação como David Grann o faz no livro. Contratando uma equipa de consultores nativo-americanos para retratar a época da forma mais fidedigna possível, o cineasta conta-nos a história dos assassínios através da relação amorosa de Mollie Kyle (Lily Gladstone), uma de quatro irmãs de uma família Osage milionária, e Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio), um homem branco recém-regressado da Primeira Guerra Mundial. Há ainda William Hale (Robert De Niro), um homem com muitas cabeças de gado que controlava mais uma série de negócios na cidade e mantinha relações próximas com os Osage (até falava a sua língua). Hale ganha dimensão no enredo porque também é tio de Ernest.
Um dos aspectos que mais tem sido falado na versão de Scorsese de "Assassinos da Lua das Flores" é a sua duração: três horas e meia. "Acho que não devemos ter medo de dizer que o filme podia ter menos 30 minutos", afirma João Dinis no nosso podcast, apesar de explicar que não se sentiu aborrecido nem olhou para o telemóvel durante o visionamento. No entanto, considera que "podíamos contar a mesma história em menos 30 ou 45 minutos". Até porque o ritmo durante as três horas é "devagarinho".
Não se pense, contudo, que a opinião acerca do filme é má ou só tem partes menos boas. Pelo contrário. "Os primeiros e últimos quinze minutos são brilhantes", diz Miguel Magalhães. "Os primeiros quinze pelo ritmo e pela forma como introduzem o contexto. Para qualquer pessoa que não tenha noção da realidade nativo-americana e do que é isto dos Nativos Americanos e onde é que está situado, estejas nos Estados Unidos ou na Indonésia, tu naqueles primeiros quinze minutos percebes o que está acontecer na história", conta, lembrando que não se pode dizer o mesmo de "Oppenheimer", elogiando ainda a forma como Scorsese conseguiu também fechar a história.
Quanto às interpretações, elogia-se a consistência de um DiCaprio prestes a fazer 50 anos ("não me lembro de ele ter feito uma personagem tolinha, não te lembras que é ele, está incrível") e dos atores nativo-americanos, especialmente as mulheres da família Kyle. Quanto a DeNiro, a opinião vai ao encontro daquilo que se lê pela Internet: "parece que só se esforça quando é para o Scorsese".
Nos Créditos Finais, rubrica de recomendações do Acho Que Vais Gostar Disto, falou-se do filme "Reptile" (Netflix); TIMBRE, o novo álbum de Salvador Sobral; a série "Lessons in Chemistry" (Apple TV+) e dos 100 anos da Disney.
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