À porta do ateliê, uma loja de flores dá cor ao dia de Berlim. As coroas imperiais rosa são as preferidas de Marisa Benjamim, mas quando a artista plástica começou o dia de trabalho, ainda não tinham chegado ao bairro de Neukölln.
“Desenho com flores, seco flores e durante a semana vou apanhá-las, mas também compro com frequência”, conta a artista plástica, a viver em Berlim desde 2010.
Chegou à cidade para fazer uma residência artística, e acabou por deixar-se ficar num ateliê pintado de branco, com uma porta envidraçada para a rua, onde se ouvem as conversas de quem passa.
“Tinha alguns amigos que já tinham vindo para Berlim, já tinha ouvido falar muito da cidade, então concorri a uma residência artística. Fiquei tão inspirada, algo que me faltava em Portugal. Estava a viver em Lisboa na altura, e sentia-me cada vez mais em baixo, não estava a conseguir fazer aquilo que queria”, conta Marisa Benjamim.
Apesar de ter tirado o curso de Artes Plásticas na Escola Superior de Artes de Design das Caldas da Rainha, confessa que trabalhar em Portugal é “muito difícil, principalmente quando se sai da escola e não se está preparado”.
Apesar de ter a base na capital alemã, admite que viaja muito, até porque, para um artista plástico, “não faz sentido ser de outra maneira”. Em 2015 esteve no mercado de La Boqueria, em Barcelona, com o projeto “Floristaurant”, que também levou à Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Riga 2018.
Foi a mesma curadora de Riga que a convidou a participar no programa de artes e debates do festival de música de Roskilde.
“Em Riga tinha uma instalação gigante de cinco metros que era incrível, com todos esses meus objetos que têm uma relação com a flor, e tinha feito a performance do ‘Floristaurant’, que servia flores às pessoas para elas comerem. Achei que não funcionava, então fiz uma proposta diferente. Durante dois ou três dias vou andar pelo festival, com uma bicicleta, a servir uma bebida feita de flores, bagas e ervas aromáticas que eu distribuirei pelas pessoas”, conta Marisa Benjamim.
Num dos cadernos de esboços, vai mostrando o desenho do projeto de duas rodas, que vai levar aos festivaleiros que estejam no parque de campismo ou na cidade, com a bebida “Eau Florale”.
“As plantas que vou usar na bebida são as que existem lá porque vai ser tudo feito na hora. Ainda não sei bem quais vou utilizar. Já tenho uma lista de plantas e flores da região, especialmente as selvagens. Vou ter uma base preparada de duas infusões, uma azul e outra vermelha, mas não sei se permanecerão essas cores porque tudo será feito na hora”, explica a artista plástica.
Vegetariana, Marisa Benjamim assume-se “muito curiosa”, por isso prova todas as flores antes de as preparar ou servir. No ateliê vai guardando coleções privadas e obras cuidadosamente preservadas já que, lembra, “muita desta arte é efémera”.
“Vou sempre aos jardins todos. Jardins botânicos, aos campos, aos mercados e tento sempre comunicar com as pessoas, perguntar onde vão buscar vegetais tão bonitos. Tento sempre fazer uma ligação com as pessoas, para conseguir mais informações preciosas, aquelas que não se conseguem nos livros”, assume, sublinhando que o trabalho que realiza faz parte de um longo processo de investigação.
A artista plástica portuguesa vai participar, nos próximos dias 05 e 06 de abril, no Simpósio “Taste and food Culture”, no museu Tinguely, em Basileia, na Suíça, para falar sobre o sabor das flores.
Entre 29 de junho e 6 de julho, Marisa Benjamim vai estar em Roskilde, na Dinamarca, que teve a sua primeira edição em 1971.
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