“No futuro muito possivelmente irei trabalhar com outro tipo de música, outro tipo de abordagem a nível criativo, mais coletiva. Não tanto num processo individual de composição. Este será, pelo menos durante alguns anos, o último disco que partilha aquela harmonia, aquelas cores e aquela tendência melódica daqueles discos anteriores”, explicou à agência Lusa.
O registo de “Private Reasons” é muito próximo do caldeirão musical de “Those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them” (2016) e “How can we be joyful in a world full of knowledge?” (2014), com canções embebidas em pop, rock, música africana e psicadelismo.
Bruno Pernadas fala em pontos de contacto entre todos, como as harmonias vocais, o espaço que é dado ao improviso, a relação com a música exótica e a influência das músicas do mundo.
Em “Private Reasons”, o guitarrista e arranjador lidera um ensemble com 15 músicos, incluindo um quarteto de cordas, um trio de sopros, vibrafone, eletrónica, guitarra e baixo elétrico, bateria, percussões e um trio de vozes femininas, às quais juntou a sua.
Além da presença de Francisca Cortesão, Margarida Campelo, João Correia, Nuno Lucas, Diogo Duque ou João Pedro Coelho, no novo álbum entra ainda a cantora sul-coreana Minji Kim.
A maior parte da música “foi escrita em pautas individuais, mas há muitos momentos de improviso e solos fortes que não fui eu que os fiz, foram estas pessoas que participaram”, explicou Bruno Pernadas.
“Quando falo num projeto de futuro com um espírito mais plural, mais coletivo é porque quero fazer uma música mais próxima da música dos anos 1960, 1970 e 1980 em que havia grupos como os The Last Poets – ligados a uma coligação política e racial, mas não é por aí que eu quero pegar -, Sun Ra, também, nesse sentido coletivo de trabalhar a música”, sublinhou.
O novo álbum já devia ter sido gravado e editado em 2020, mas a pandemia alterou os planos de Bruno Pernadas, assim como o calendário de concertos, embora o músico tivesse conseguido trabalhar e ter acesso a apoios em confinamento.
“Não se pode romantizar os artistas, há uma tendência natural para romantizar porque são criadores. São trabalhadores independentes que sofreram com a pandemia e isto é real para toda a gente”, frisou.
Nos meses de confinamento, Bruno Pernadas compôs, por exemplo, para teatro, conseguiu trabalhar no novo álbum e na composição da banda sonora da série portuguesa “Glória”, de Tiago Guedes, para a plataforma Netflix.
Bruno Pernadas, 38 anos, guitarrista, compositor, produtor, arranjador e professor, com formação em jazz, já passou por Minta and The Brook Trout, tem o nome ligado a Suzie’s Velvet The Sun Ra Project e Montanhas Azuis, com Norberto Lobo e Marco Franco.
“Private Reasons” terá, por enquanto, três datas de apresentação ao vivo: a 21 e 22 de maio na Culturgest, em Lisboa, e a 26 de junho na Casa da Cultura de Ílhavo.
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