A primeira edição da Comic Con em Lisboa, a quinta no total, chegou ao fim. E fê-lo com um dos eventos que mais será acarinhado e aguardado pelos fãs: o concurso de cosplay. Resumido de forma muito simples, o cosplay é uma arte performativa em que os participantes se vestem como as suas personagens favoritas – sejam elas de um videojogo, de um filme, de uma série de TV ou de animação ou um qualquer outro mundo – numa tentativa, talvez, de escapar à monotonia do dia-a-dia. Ou então para sentirem, nem que seja por breves instantes, que fazem parte de algo maior, mais fantasioso, glamoroso.
Ao longo destes quatro dias no Passeio Marítimo de Algés, foi possível vislumbrar inúmeros praticantes desta arte, dos mais elaborados aos que não precisam de muito para fazer a festa. As escolhas recaíam quase sempre no óbvio: Son Gokus, Deadpools, Super-Homens, Batmans, Homens-Aranha, Jokers e Harlequins. Para além destas personagens icónicas, encontraram-se também alguns Monkey D. Luffys (personagem principal da série de animação japonesa “One Piece”), alguns Narutos (de “Naruto”), pelo menos um Guts (de “Berserk”) e imensos treinadores de Pokémons.
Sobre todos eles, duas figuras ligeiramente mais imponentes: a de Serg Loki, um cosplayer russo que participou já em vários eventos por toda a Eurásia (e que foi um dos jurados do concurso da edição portuguesa), e a de Quimbé, ator e dobrador português que emprestou a sua voz a dúzias de séries de animação, de “Yu-Gi-Oh!” a “Naruto”, de “Dragon Ball Super” ao filme d'”Os Simpsons”. Este último resumiu bem o que é a Comic Con: “uma festa”, que só “sobrevive com os fãs”. Com os muitos que por aqui passaram, assistiram aos painéis, vestiram a camisola.
Ao todo, no concurso, foram sete, das mais diversas gerações, interpretando variadas personagens. A palavra é mesmo esta: interpretando. O cosplay não é apenas envergar um fato; há que encarnar, da melhor forma possível, a personagem que se homenageia com o próprio corpo. Foi isso mesmo que fez o grande vencedor, Leon Alves, de 35 anos, oriundo de Tomar. O seu fato de Venom, personagem do universo Marvel, demorou “quinze dias a fazer”. “Não dormi, não comi, estive pouco com a família. Mas valeu a pena”, explicou. Tanto, que levou para casa mais material de apoio à criação de novos fatos e, ainda, um curso de dobragem, cortesia da Buggin Media.
Leon foi o vencedor, mas antes dele já alguém tinha arrasado: Júlio dos Santos, um menino natural de Lisboa, de apenas 9 anos. Subiu ao palco vestindo um fato de Rocket Raccoon, personagem dos “Guardiões da Galáxia”, também da Marvel, e provocou sorrisos e esgares de espanto por entre o público presente graças ao seu natural à-vontade. Levou para casa uma menção honrosa e uma história que, provavelmente, nunca mais irá esquecer – até porque esta foi a sua primeira visita à Comic Con, confidenciou ao SAPO24 o seu pai. “Vim por ele, ele queria participar”, contou.
A estreia foi auspiciosa, e a ideia geral do evento positiva. Mas... “Devia haver coisas mais direcionadas às crianças”, desabafa o pai do jovem Júlio/Rocket. “Gostava de ver uma coisa mais familiar, uma identidade mais familiar. Eu entendo que haja muitos adultos interessados, mas adoro esta ideia dos pais serem crianças novamente”. Para o ano, nova visita? “Talvez da próxima vez participe com ele, nunca tenho tempo para fazer um fato para mim, gasto todo o dinheiro em fatos para ele...”, disse, entre risos. “Mas gostei muito, foi muito interessante”.
Um interesse que nem sempre é barato. “Há muitos custos. E é preciso comprar materiais mais caros [se quisermos] gastar menos tempo” a construir os fatos. “Normalmente faço-o numa semana, gastamos logo muito dinheiro para ter as coisas certas, colas, coisas assim. Não é barato”. E de facto, a julgar pelo nível de alguns dos fatos e maquilhagem apresentados – em palco e não só – é de crer que uma “brincadeira” destas não seja possível a todas as carteiras. Nada que incomode Júlio, que após o final foi dos mais requisitados para fotografias pelos fãs. E nem sequer havia praticado a sua performance... “Estava tudo preocupado hoje de manhã... Passei a semana a dizer-lhe, 'precisas de escolher a música', e a música [que passou] não era a que ele escolheu... Mas ele gostou muito, foi muito divertido”. Quem sabe não o encontraremos em edições futuras, como vencedor de pleno direito.
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