O projeto retrata o momento presente, através de personagens fictícias, “num misto de realismo e alucinação, num prédio peculiar de Berlim, habitado por oito mulheres lusófonas”, contou à agência Lusa Maria de Vasconcelos, fundadora e coordenadora do grupo.
A radionovela, que começou a ser divulgada na semana passada, surge numa altura em que o grupo, formado por 12 mulheres e dois homens, se viu obrigado a interromper os ensaios presenciais, por causa da pandemia de covid-19.
O “Raízes” tinha o primeiro espetáculo, “Identidade e emigração”, agendado para 26 de junho, mas a estreia teve de ser adiada.
A experiência de viver fora do país esteve aliás na origem da criação do grupo teatral, no final de 2019.
“O objetivo, definido desde o início, é criar um espetáculo sobre a identidade e a emigração. Perceber até que ponto a saída do nosso país nos transforma”, explicou Maria de Vasconcelos, que “nunca tinha dirigido um grupo de teatro comunitário, mas já tinha vontade de o fazer há muito tempo”.
“Achei que aqui iria ser complicado por causa da língua. Apesar de falar alemão, encenar e dar aulas no idioma é mais complicado”, contou a portuguesa, a viver na Alemanha há sete anos.
A alternativa foi criar um grupo de língua portuguesa, formado por portugueses e brasileiros.
“Infelizmente não tinha muito dinheiro para divulgar [o grupo] e não consegui chegar a outras comunidades lusófonas. Mas somos todos muito diferentes, com profissões e idades variadas, entre os 28 e os 60 anos”, explicou Maria de Vasconcelos.
Para Camile Papazian, esta é a primeira experiência teatral. “A única apresentação em público que fiz na minha vida foi corporativa, ou seja, para a empresa onde trabalhava”, contou a brasileira, que já tinha vontade de “desenvolver a expressão corporal”, mas no Brasil não tinha tempo para atividades extra.
“Quando vi que éramos brasileiros e portugueses pensei: ‘Está tudo em casa’. Percebi que há algumas diferenças, há palavras que eu não entendo, mas fomos comunicando de uma forma muito especial e agora somos um grupo muito coeso. Com eles não tenho vergonha nenhuma de atuar nem de fazer exercícios, sinto-me muito à vontade”, acrescentou Camile.
“O objetivo de um grupo comunitário não é só a criação do espetáculo, é também que este grupo funcione como uma comunidade que se entreajuda e se torna quase uma família. É também uma forma de ativismo, uma forma de termos uma voz e a apresentarmos aos outros”, frisou Maria de Vasconcelos.
Antes do distanciamento social e das medidas de contenção, o grupo ensaiava uma vez por semana. Agora, os exercícios são feitos virtualmente.
“Apesar de todas as diferenças que existem entre nós, tudo funciona de uma forma harmoniosa, todos temos um espaço para dizermos o que pensamos. Tem sido uma experiência incrível”, afirmou a fundadora e coordenadora do grupo.
Pedro Monterroso, outro dos elementos, lamentou que haja apenas dois homens no grupo, mas frisou que a experiência tem sido “muito interessante”.
“O teatro comunitário é de cariz político, procura empoderar as comunidades face à sociedade dominante, e isso interessa-me e fez-me querer participar”, explicou o português.
Maria de Vasconcelos garantiu que, com ou sem confinamento, o grupo de teatro comunitário lusófono “Raízes” vai continuar a criar, estando já a preparar um novo episódio da radionovela “As Berlindezas”.
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