O Bons Sons “é verdadeiramente feito pela comunidade o que significa que participam pessoas de todas as idades e às crianças são atribuídas as responsabilidades que elas são capazes de cumprir”, disse hoje à Lusa Miguel Atalaia, responsável pelo projeto “Cem Soldos e a Escola”.
Organizado pelo Sport Clube Operário de Cem Soldos (SCOCS) o Festival Bons Sons, que decorre na aldeia de Cem Soldos, no concelho de Tomar, tem na base um conceito comunitário único no país, promovendo a relação de proximidade entre o público e os habitantes da aldeia, que cedem quintais para instalar restaurantes, pomares para parques de estacionamento e de campismo e, este ano, abrem as portas de casa para receber os músicos em momentos de partilha, sem hora marcada.
Às crianças cabe, durante o evento, a responsabilidade “fazer visitas guiadas aos visitantes, explicando a dinâmica da aldeia”, afirmou Miguel Atalaia, acrescentando que, o envolvimento dos mais pequenos se estende aos meses anteriores, quando na azáfama organizativa são também “tarefeiros solicitados para afixar coisas ou levar recados”.
A relação dos mais pequenos com o festival é, aliás, incutida desde cedo, através do projeto “Cem Soldos e a escola”, que, segundo o mesmo responsável, “nos últimos anos tem repensado a oferta educativa”.
A “desertificação a falta de crianças“ no jardim-de-infância e a escola primária da aldeia, integrados no Agrupamento de Escolas Nuno Santa Maria, levou a “um trabalho profundo para criarmos alguma coisa diferenciadoras em relação ao ensino tradicional”, lembrou Miguel Atalaia.
O resultado foi “um olhar muito incisivo sobre aquilo que é uma aldeia hoje em dia e o que isso pode significar para as aprendizagens”, numa era em que “uma aldeia é muito mais que um sítio bucólico com ovelhinhas a pastar”.
Ligada ao mundo pelas novas tecnologias a aldeia de Cem Soldos apostou “numa dinâmica de criação cultural não apenas interessante mas tanto mais profunda quanto é a própria comunidade a criar os projetos que aqui acontecem”.
E se na aldeia se realiza um festival que atrai anualmente cerca de 35 mil pessoas, teatro, criação musical, projetos artesanais, nada mais lógico que “se olhe as crianças como agentes ativos da própria comunidade, capazes de transformar a realidade com um olhar crítico sobre as coisas que acontecem”, sustentou Miguel Atalaia.
O resultado é uma escola com “hortas pedagógicas, ações de solidariedade com os idosos, relações com grupos de costura criativa que juntam avós e netos, relações com o teatro, com pais que fazem ioga e todo o tipo de dinâmicas”, acrescentou.
Os mais pequenos, a quem o mundo entra pela aldeia durante os dias do festival, são também incentivados a sair dela e a participar em intercâmbios. E nos dias em que ficam em Cem Soldos, são incentivados a “sair da escola, fazer coisas no exterior, quanto mais não seja, ir até ao refeitório, na outra ponta da aldeia, para almoçar”.
O resultado é, por um lado, o inculcar do espírito comunitário que distingue a aldeia e o festival nos mais pequenos, mas, sobretudo, o renascer de uma comunidade escolar em que as crianças do jardim aumentaram de 13 para 25 e as da escola primária de 20 para 32.
Não porque a natalidade tenha disparado em Cem Soldos, mas por “este conceito atrai crianças de Tomar e de outras localidades”, alguns dos quais “chegam a fazer 20 quilómetros por dia para trazer os filhos à escola a Cem Soldos”, concluiu Miguel Atalaia.
As visitas guiadas por crianças na aldeia de Cem Soldos, no concelho de Tomar, vão prolongar-se até segunda-feira, data em que encerra o Festival Bons Sons.
Ainda hoje passarão pelos oito palcos da aldeia nomes como Né Ladeiras, Mão Morta, Throes + The Shine, Les Saint Armand, Señoritas e Madeiro/Lucas.
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