O vestido cintilante da comendadora — “esposa do comendador” — faísca debaixo do sol que raia diante da casa da Granja. O fato garrido do comendador Antão de Silva Pinto berra no seu exótico tropical, entre a desilusão de não encontrar os viscondes de Paredes e a excitação de achar um “bonde” gigantesco estacionado em frente à Casa da Cultura de Paredes, concelho do distrito do Porto que apresentou um roteiro ao património deixado pelos torna-viagem: emigrantes portugueses que fizeram fortuna no Brasil e a usaram para construir vistosas casas.
À boleia de Conceição de Silva Pinto (Filomena Gigante), Antão de Silva Pinto (Emílio Gomes) e Tonico (Bruno Boaro), esta produção da Astro Fingido é literalmente um espetáculo-percurso, uma peça de teatro no cimo de um autocarro panorâmico, que leva os passageiros-espectadores numa viagem ao passado, misturando a realidade histórica de Paredes com a fantasia das três personagens.
A dramaturgia é assinada pela atriz e encenadora Filomena Gigante, com colaboração do ator Emílio Gomes. Bruno Boaro, brasileiro de gema a viver no Porto, criou a música que acompanha esta peça cómica.
Assim, o périplo dá a conhecer algum do património que ainda hoje resiste, sobretudo em Baltar e Cête, construído por “esses aventureiros a quem não faltou coragem”, como entoa uma das cantigas.
O espetáculo, para além de volante, é também interativo: os passageiros-espectadores são convidados a descer do autocarro para encenar um baile no meio da rua, participam num quiz e trazem um certificado para casa.
O SAPO24 esteve à conversa com o elenco. Ouça aqui:
Os não-ricos torna-viagem do Porto
Conceição e Antão são um casal de torna-viagem que se gaba de ser muito influente, muito rico, conhecedor de “gente valorosa” daqui ao Brasil. Vestem roupas cintilantes e uma faixa enuncia-os comendadores.
São do Porto, mas vêm a Paredes para visitar os amigos torna-viagem que por aqui dizem ter. Trazem com eles Tonico, filho de Barão (Barão de apelido e não de honraria) — porém, nenhuma porta se lhes abre. Aos convidados que arrastam para o “bonde”, justificam sempre o desencontro como infelicidade casual.
Durante uma hora, entre as paisagens misturadas pelo verde e os montes, e o casario e os prédios, os espectadores divertem-se e passeiam — no terreno e no tempo —, numa aula de história que se enche de estórias para dar a conhecer mais um bocadinho de Paredes.
O espetáculo, com direção artística de Ângela Marques e Fernando Moreira, decorreu com várias sessões consecutivas (e gratuitas) nos dias 7 e 8 de agosto.
O projeto insere-se mesmo no programa Mappa 21, promovido pela autarquia e que abarca a música, as artes e o património, com conceção e coordenação da associação cultural Astro Fingido.
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